Quarta-feira, 12 de Agosto de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

jogo da glória.jpg

 

 

 

 

José Cutileiro.jpg

 

 

 

Passado; futuro

 

 

 

“Os ricos são como os ciganos. São todos primos uns dos outros” pontificava há cinquenta anos Senhora do Alentejo nem cigana nem rica. O Minho era diferente – ciganos quase não havia; disparidades entre ricos e pobres eram de menor monta - e diferente continuou a ser. Há 41 anos, em conversa fora de Portugal, Senhor minhoto - que também já lá vai - explicava “Nós, na Ribeira Lima, temos duas coisas em comum: sumos todos fidalgos e sumos todos parentes”.

 

Salpicos do que inspirou Orlando Ribeiro a descobrir Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico? Com certeza - mas há bem mais do que isso. Por muito mal que os melhores de entre nós às vezes deem por ela, que a suponham nas vascas da agonia (“Pátria para sempre passada; memória quase perdida”, acabou Eça de Queiroz O Crime do Padre Amaro, em 1875), a besta teima em não morrer. Mesmo debaixo de vergonhas que a façam sofrer, de varas no cachaço a ver se lhe baixam a cabeça para dar melhor lide a quem a queira desfeitear (novo Acordo Ortográfico; admissão da Guiné Equatorial na CPLP) não lhe receio fim à vista. Mas está a chegar a terra ignota ou, se preferirmos o arrimo do mastro da epopeia, a entrar outra vez por mares nunca dantes navegados.

 

À balbúrdia sanguinolenta seguira-se a noite negra do fascismo - para usar chavões predilectos dos inimigos jurados de uma e de outra porque ao longo das décadas gente menos intensa, isto é, a maioria, estava perto do poeta Alberto de Monsaraz que dizia viver em país ocupado mas ter boas relações com o ocupante. Íamos seguindo canones estabelecidos nas metrópoles europeias: a certa altura, devido à preeminência da França, a República esteve na moda - e vá República! Depois com Hitler (Olimpíadas de Berlim e tudo), Mussolini a marchar sobre Roma, veio a moda do fascismo (mais no sul da Europa, mas também na Finlândia e, sem poder mas com estardalhaço, mesmo em Inglaterra), os militares do 28 de Maio entusiasmaram-se – e vá Fascismo! (Na versão portuguesa, Estado Novo, que nunca esteve à altura, até porque o país era agrícola e não industrial e Salazar gostaria que ele assim ficasse: “Entre o comércio, a indústria e a agricultura prefiro a agricultura”). Quando chegou a vez dos capitães de Abril, a moda na Europa era a da Democracia (como Mário Soares percebeu e Álvaro Cunhal e Henry Kissinger não) – e vá Democracia!

 

Hoje não há apetites de mudança de regime mas é outro mundo. A República jacobina desacreditara a esquerda; o Estado Novo fascizante desacreditara a direita. A Democracia vingou sobre o segundo descrédito – o partido mais à direita chamou-se, Orwelianamente, Centro Democrático Social – entretanto URSS e comunismo foram ao ar, Tony Blair arrumou o socialismo, a virtude bem-pensante perdeu poleiro. Quem será levado a sério? Quem irá dar à besta ganas de ganhar às outras feras? O comunismo não era doença: era remédio que falhou. O capitalismo, menos mau, precisa conserto grande. Onde dorme e se exila o futuro vigor?

 

 

 

 

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Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2014

Presépio (Barcelos)

 

Presépio Popular de Barcelos .jpg

 

Presépio popular de Barcelos

Panorama nº 24 - III Série - Dezembro de 1961

 

 

 

 

Associação Portugal à Mão aqui 

 

 

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Sábado, 19 de Julho de 2014

Praia (anos 30)

 

 

 

Praia de Cabedelo? Portugal c. 1930

 

 

Fotografia do espólio de Rui Feijó, gentilmente cedida por Luísa Feijó a quem muito agradeço

 

 

 

 

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Sexta-feira, 25 de Abril de 2014

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

 

Foto: Eduardo Gageiro

 

 

 

 

 

 

Aurora Clara de Abril

 

 

Assim chamaram à menina recém-nascida encontrada na roda dos expostos da Vila de Monsaraz por homens saídos para o trabalho em madrugada luminosa desse mês, em ano do terceiro quartel do século XIX — não me lembro qual. Nem o ano nem o dia, mencionado na acta duma sessão da Câmara. Há uma probabilidade em trinta de ser 25 e como quando li a acta não reparei (faltava ainda essa achega à nossa leitura do passado), pode ser que tenha sido mesmo.

 

Tal coincidência daria alegria à elevada percentagem de portugueses que acha o 25 de Abril a data mais importante da nossa história e que, como quase toda a gente, é supersticiosa. Eu não sei remontar tanto e na celebração do dia fico-me por três vinhetas, com as suas luzes próprias. Cada uma vale o que vale.

 

Por ordem cronológica.

 

Em 1975, poucos dias antes das eleições para a Assembleia Constituinte, amigo meu, minhoto, estava de passagem na casa de Ponte da Barca quando três criadas velhas da mãe — tão velhas que ainda eram naturalmente analfabetas e, por isso, mais sagazes e reflectidas do que muito doutor moderno — lhe vieram falar. Queriam perguntar ao Menino: “Como é que se vota na lei antiga?”.

 

Na Primavera de 1978, eu era primeiro representante permanente português no Conselho da Europa em Estrasburgo – lá chegado no ano anterior porque antes de viver em democracia Portugal não podia ser admitido (durante o regime dos Coronéis, a Grécia tivera de sair) — Victor Cunha Rego era nosso embaixador em Madrid, falávamos ao telefone e eu disse-lhe que tinha aprendido do pai que Portugal era um país maravilhoso, habitado por uma maioria de gente boa e generosa, do qual uma minoria de gente má e mal formada tomara conta, chefiada pelo pior deles todos, o ditador Salazar. “Pois é” respondeu o Victor. “Eu também fui educado por um pai assim. E é grave, aos 50 anos, um homem descobrir que o pai era parvo”. Com o 25 de Abril, Victor e eu tínhamos passado de vítimas a cúmplices; da oposição ilegal à máquina do novo poder. E quem tivesse a mão na massa começava a descobrir que Salazar não era só causa dos nossos males; era também, e sobretudo, sua consequência.

 

Em 2008, Sofia Pinto Coelho convidou-me para programa de televisão dela que, de cada vez, tinha o mesmo fio condutor. A Sofia pegava numa pessoa e confrontava-a com passagem do seu passado. A mim coube-me ser levado a vila alentejana onde há quase 40 anos trabalhara como antropólogo e a que chamara Vila Velha em livro que publiquei. Fui filmado a falar com pessoas amigas que não via há muito tempo, entre elas a Ema, analfabeta e ainda muito bonita. A Sofia pediu-me para eu lhe perguntar se a vida agora era melhor ou pior do que quando eu lá estivera. A Ema olhou-me espantada e respondeu: “Não passamos fome!”

 

As velhas de Ponte da Barca, o Victor e a Ema já morreram. Não me cabe adjudicar mas, quando começa a haver outra vez gente com fome em Portugal, talvez a resposta da Ema capture o mais importante do 25 de Abril.

 

 

 

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Sábado, 15 de Setembro de 2012

O Mundo à Minha Procura (3)

 

 

O acaso atirava-me para uma das regiões que iria exercer influência profunda na minha vida, tanto de homem, como de escritor. Dava-se no meu espírito o segundo fenómeno de osmose. O primeiro fora a vivência desmedida do Campo Alegre, o absorver diário da natureza física através do lado sentimental da vida; ao Porto eu ficaria ligado para sempre, como seria o caso de Londres anos mais tarde, teiaranhado pelo amor, pela transferência permanente de um eu que se desdobra e oferece a outra pessoa. Agora aparecia-me o Alto Minho, eldorado onde ancorava todo o bojo que não soçobrara na débacle sentimental. A terra, o mar, o rio, a montanha, as aldeias, o povo, a arte, um todo que me agarrou no imediato, no transe da paixão, debaixo ainda do estado de choque. Abria-se um mundo novo, cosmo-físico para onde eu podia olhar, onde podia mergulhar, penetrando na Natureza sem pedir licença. Às vezes, nos imprevistos da vida, nas esquinas da sorte, nós esbarramos com um habitat que está desde a criação do mundo à nossa espera. Ali, intacto, permanente, rico, silencioso. Eu sentia uma grandeza frente a meus olhos, imensidão que estava a par da grandeza do amor, não a substituía, menos ainda distracção para pacóvio, ou paliativo de doença; sim, mundo de pormenores alcantilados, de versos ditos ao fim de tarde, de banhos cheios de algas, mergulhos na amostra de eternidade que se apalpa com os dedos. Tão forte este binómio Amor-Natureza, impacto de sismo, eu certo de que mais cedo ou mais tarde havia de ter consequências. E, na inconsciência do consciente, às vezes reparava no segundo de tempo em que teria de, um dia, comunicar a outros o choque brutal que estava recebendo. Eu seria o médio que coa, filtra, decanta, o que paira sem rumo na Natureza, fosse o reino do Amor, quer o próprio caudal do telúrico. Fruta verde em mim, nada estava amadurecido, o período de gestação seria longo, rebentaria na cabeça com a necessidade urgente de recriar esse estado emocional.

 

 

Ruben A.

in O Mundo à Minha Procura , Autobiografia III  pp. 81-82

© Assírio & Alvim e Herdeiros de Ruben A.  (1994)



  

publicado por VF às 17:24
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Terça-feira, 4 de Setembro de 2012

Um Passeio pela Casa da Carreira

 

... No virar do século XIX para o XX é numerosa a família que habita a casa da Carreira. Além do casal, Maria Luiza e Bento, e seus seis filhos, nela vivem também: Severiana, tia de Maria Luiza; Joana que, enviuvando, se recolhe com quatro filhos a casa da irmã; Angelina que, solteira, é chamada a viver com o irmão Bento.

A miss, a costureira, a cozinheira, as criadas de dentro, o cocheiro e os criados do quintal são os outros habitantes da casa. Todos os cómodos eram poucos para acolher tanta gente e frequentemente se tinha que arranjar quartos para acomodar os novos casais com filhos...

Conhecida a partir dos meados do século XIX por Casa da Carreira — quando o seu proprietário, Diogo Gomes de Abreu e Lima, recebeu o título de Visconde da Carreira — é hoje erradamente chamada Palácio dos Távoras, pois sem­pre foi uma casa familiar sem estrutura de palácio. Durante quatrocentos e quarenta e quatro anos esteve nas mãos da mesma família, sem lutas entre irmãos pela sua posse, acatado o direito do morgado de decidir dos seus destinos, tendo sido sempre enriquecida e melhorada por todas as gerações. Tal como na primeira geração, é ao longo dos tempos que pelos casamentos das filhas herdeiras entram na família apelidos nobres: Abreu, Castro, Pereira, Távora, Faria da Costa e Pita Malheiro. Com estes, mercês, vínculos e casas — Mosteiro em Vitorino das Donas; Outeiro, Agrela, Boavista e Covelas em Ponte da Barca; Lapela, Rodas e Pedra em Monção.

Os apelidos não servem para deles tirarmos proveito, mas como elo de ligação que nos assegura sermos a conti­nuação de várias pessoas, Catarina, Inês, Arcângela, Luiz, Diogo; «são sempre algo mais do que um nome, e é por esse algo que somos verdadeiramente filhos dos nossos pais»1.

 

 

Maria Teresa Távora 

in Um Passeio pela Casa da Carreira  pg. 16-18


NEC DOMUS DOMINUS,

SED DOMINO DOMUS

HONESTANDA EST*


© M. Teresa Távora, Braga, 1999


 

1   Gonzalo T. Ballester, «Os Prazeres e as Sombras, I - Vem aí o Senhor». pg. 46.

 


* NÃO É O DONO QUE DEVE SER HONRADO PELA CASA, MAS A CASA PELO DONO



 

 

Maria Luiza e Bento,  4ºs Viscondes da Carreira


 

 

os seus 6 filhos circa 1900:

 Luís António, Augusta, Maria da Luz e Luísa

no chão: João e Maria José




 

 Os 4ºs Viscondes da Carreira, no pátio da Casa da Carreira, com os seus seis filhos, genros e netos, no baptizado de um destes, Joaquim, primogénito de Maria Augusta e Joaquim Lobo de Miranda.1ªa fila: Casimiro Sacchetti (filho de Maria da Luz e Casimiro Sacchetti, assim como todas as outras crianças que estão de pé); Maria de Jesus (mulher de Luís António) com o filho de ambos, Luís; Viscondes da Carreira tendo entre eles a neta Maria das Dores Sacchetti; José Sacchetti; Angelina Rosa (irmã do Visconde); Augusta com o filho Joaquim; António Sacchetti.Em pé: Luís António; Luísa; Casimiro Sacchetti e sua mulher Maria da Luz; João; Maria José; Joaquim Lobo de Miranda.



 

 


Um Passeio pela Casa da Carreira*, memória reconstruída por uma descendente da família que possuiu a casa, com base no arquivo familiar e nos testemunhos de primos que na infância ali viveram ou passaram férias, e das histórias que sua avó materna, Maria José, lhe contava em pequena, é um contributo exemplar para a História da família e das casas senhoriais em Portugal.

 

A forma (aparentemente) simples como Maria Teresa Távora nos faz visitar cada uma das dependências da Casa da Carreira enquanto nos vai descrevendo episódios da sua história e da vida dos seus ocupantes ao longo dos séculos — dos mais ilustres aos mais modestos, sem esquecer ninguém — não é só um modelo inspirador para trabalhos de investigação histórica e de transmissão da tradição oral como uma reflexão inspirada sobre a passagem do tempo e o significado da palavra nobreza.

 

 

Nota:

A Casa da Carreira é uma das duas casas, ligadas interiormente, em que se encontra hoje instalada a Câmara Municipal de Viana do Castelo. O conjunto imponente é consensualmente considerado um dos mais bonitos Paços do Concelho do país.

 

 


 

publicado por VF às 13:55
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Domingo, 26 de Agosto de 2012

O trajar do povo (Anos 1940/50)

 



 

Traje de Meia Senhora*

Viana do Castelo, Portugal, c. 1950 

 





NÃO QUEIRAS SAIA DE CHITA,

QUE TE HÃO DE CHAMAR SENHORA;

ANTES SAIA DE ESTAMENHA,

QUE É TRAJE DE LAVRADORA.




A forma e composição do vestuário relacionam a inteligência do homem com a qualidade e variedade insistentes do trabalho predominante e dos trabalhos afins ou contribuintes dele. As cores, ou enfeites, os adereços e os complementos, mais ou menos acidentais, sempre todavia decorativos, revelam o sentimento artístico, a elegância de imaginação, a estética utilitária de quem os aplica. Não pode esquecer o que no traje impõem os determinantes de ordem moral, cuja influência colabora fortemente na sua elaboração.[...] O traje é, assim, o vértice de convergência de actividades mentais, concorrentes no mesmo objectivo; exterioriza-as em manifestações concordantes, que fazem dele o panorama psicológico da população, revestida no seu todo orgânico. Deve ainda acrescentar-se aos mencionados elementos da feição do traje a influência sugestiva das modas vagueantes das classes superiores, ricas e desnaturadas. Isto é: a acção reflexa, que o traje popular sofre do traje culto. Têm aspectos funcionais diferentes os dois trajes: estável, contínuo, natural e espontâneo, o popular; instável, descontínuo, artificial e estudado, o traje erudito. A estabilidade do traje popular corresponde à mutabilidade excessiva do outro. Até, quando no todo ou em parte o traje das classes de cima passa para o povo com adaptação correspondente, mantém neste a duração, que além não teve. Não quer dizer que o traje popular seja inerte e imutável, nem que o não popular, em suas metamorfoses, tenha falta de traços comuns, melhor ou pior conservados. Somente, à maior persistência do excitante espiritual corresponde maior permanência de efeitos, e entre eles a fisionomia do traje. Como  na  vida  rural a continuidade é regra, o traje rural evoluciona lentamente, ao passo que o traje urbano ou citadino sofre maiores sugestões do usado pela gente do mundo elegante, internacionalizado e aparatoso. A desigualdade económica, sobretudo, entre o campo agrícola e os centros industriais ou comerciais, prova fundas diferenciações não só em superfície como em profundidade. A quadra popular, posta como abertura desta nota etnográfica, evidencia o confronto de trajes, consoante as condições económicas e sociais.

 

Luís Chaves

in Vida e Arte do Povo Português p. 7

Secretariado da Propaganda Nacional, Edição da Secção de Propaganda e Recepção da Comissão Nacional dos Centenários, Lisboa, 1940


 

 

 


SPN Lisboa 1940



Foto: Maria Manuela Couto Viana com o traje de Meia Senhora, ao lado de Luísa Cerqueira com traje de Mordoma, na Festa do Traje. (Anos 50)


Maria Manuela Couto Viana aqui e aqui

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Sexta-feira, 24 de Agosto de 2012

O trajar do povo (1940)

 

 

 

desenho de Paulo Ferreira



[...] No traje português actual reconhecem-se caracteres primitivos em que a influência geográfica dominou, e verificam-se também, dentro de certos limites e com justificada interpretação, variedades e diferenciações em estádios sucessivos ou meras sobreposições. O homem do mar, sempre com a mesma faina e sempre nas ondas, exige o traje que lhe não tolha os movimentos, a um tempo leve e agasalhador, e facilmente substituído. O mesmo princípio se aplica a todas as mulheres, que trabalham no mar, na praia e nas lides relacionadas com o mar.  O pastor, na planície alentejana ou por vales e lameiras, pastagens das serras, tanto nas verandas — as "brandas" — como nas inverneiras, do Centro e Norte de Portugal, tem vestuário protector das intempéries e dos acidentes do solo. As partes, que o constituem, obedecem a especial adaptação, e têm por matéria prima fundamental a pele e a lã dos rebanhos.  Na planície do Ribatejo, estendida a um e outro lado do Tejo, larga, uniforme, colorida, o campino a cavalo percorre as lezírias e os salgados, persegue ou atrai o gado bravio em correrias repetidas; é o que Fialho de Almeida chamou "emanação da paisagem" (1). O traje apropria-se ao movimento, violento e livre, do cavaleiro ágil nos gestos e nas atitudes. É leve, articulado, solto: jaqueta curta, colete, faixa à cinta, calção e meia com sapato de espora, carapuça na cabeça; ordinariamente em mangas de camisa, equilibra no ombro a jaqueta. Se o traje deste centauro é simbólico, por certo não o é menos o "pampilho", que, empunhado na carreira, lhe marca sinal heráldico de cavaleiro armado nas regras da cavalaria. A cor, onde os olhos poisam e vai embelezar-se de sensações excitantes a alma do habitante de uma região, reflecte no traje o carácter dominante da sua psicologia. As lãs dos picotes, riscadilhos, xergas ou burelas, buréis, estamenhas, saragoças, churras ou tingidas, dão tons de monótona grandeza aos trajes serranos. Quando misturam fios de lã, e os tingem para atavio do traje ou da casa, fazem-no em combinações vibrantes de cor. À medida que se desce para a planície, a cor alegra os trajes, que manifestam a pouco e pouco a subida para a policromia rica. Assim, as mulheres policromizam e complicam o vestuário, quanto mais se aproximam das baixas e sobretudo mais se achegam do mar. Aí as matizações são perfeitas, vivas no colorido e movimentadas no jogo dos tons. A mulher da zona litoral é a mais colorida e a de maior composição indumentária. E de entre todas a mais rica é a do recanto de Noroeste, na região de Viana-do-Castelo. Esta gradação do traje, das alturas para as baixas, e do interior para a orla marítima, condiz com as outras manifestações espirituais e utilitárias do homem na mesma direcção.[...]

 

Luís Chaves

in Vida e Arte do Povo Português p. 8

Secretariado da Propaganda Nacional, Edição da Secção de Propaganda e Recepção da Comissão Nacional dos Centenários, Lisboa, 1940


 

 

 

 

Nota:  Fialho de Almeida, O Paiz das Uvas, 3ª ed. Lisboa, 1915, pág. 37




Veja também aqui e aqui

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Segunda-feira, 20 de Agosto de 2012

Trajes campestres (c.1915)

 

 

  

Portugal, c. 1915

 

Foto: Ricardo Santos & Filho - Évora

 

 

Mais uma fotografia curiosa de meu tio-avô paterno António Correia Caldeira Coelho (1888-1977). Que festa terá sido esta? Ele é o homem de bigode e chapéu de aba redonda, sentado no centro do grupo. A fotografia é colada sobre cartolinaiVeja uma fotografia dele em 1907, aqui, e em 1910, aqui

 

 

publicado por VF às 23:52
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Segunda-feira, 13 de Agosto de 2012

Mordoma (1970)

 

 

 

 

 

Mordoma de Vila Franca do Lima com o cesto de promessa para as Festas da Senhora da Agonia


Viana do Castelo, Portugal, c. 1970

 

 

 

Museu do Traje de Viana do Castelo aqui 

Mais trajes aqui

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