Batalha de Waterloo
Viagem na minha terra
Nota introdutória Este título ignora que a Vera tem relação especial com os escritos do autor de Frei Luís de Sousa. Desencantou em casa manuscritos dele que acrescentam ao espólio do homem que inventou o português que nós falamos. Sem Garrett antes, Eça não poderia ter encantado tanto tantos de nós nem haveria porventura, no pior dos casos, passado do janota do Porto que o meu chorado amigo Carlos Leal insistia erradamente em desprezar nele. Vá lá saber-se. Por mim devo confessar que Camilo (Castelo Branco) – é com ele que a comparação era feita em serões de província, alguns ainda iluminados a petróleo – me fascina às vezes – o fim de A Sorte em Preto, por exemplo, é uma pequena joia – mas que, na maior parte das vezes, me aborrece. Garrett e depois dele, mais ainda, Eça, purificaram o dialecto da tribo, expressão de Mallarmé que T. S. Eliot tirou do esquecimento ao metê-la na língua franca dos nossos dias. Entretanto, deste lado do mar não tivemos James Joyce, Marcel Proust ou Graciliano Ramos. O Zé Cardoso Pires foi o que mais perto dessa limpeza andou, sobretudo em Lisboa livro de bordo.
Adiante. Estou sentado com a Myriam, que empurrara a cadeira de rodas pela manga abaixo, na segunda fila. As cadeiras são as mesmas e são poucochinho – no Alvar Aalto here – bengaleiros para casacos há muito desapareceram, viajamos assim como que em versão formicada e voadora de antiga camioneta para Sintra da Eduardo Jorge. Faltam bilhas de água de Caneças que dariam toque ecológico, sempre benvindo por estrangeiros mais ricos do que nós. Por outro lado, com louvável empenho cultural e alguma consciência do país que servem – não esquecer que o dia nacional de Portugal é o dia da morte do nosso maior poeta (e não, como acontece com outros, o de uma batalha ganha ou perdida ou, pior ainda, o da tomada sangrenta, por multidão armada, de cadeia para fidalgos tarados) – os dirigentes da TAP dão a cada um dos seus grandes aviões de passageiros o nome de uma ou um grande artista português, julgo que quase sempre das letras, e ontem calhou-me um chamado José Saramago. Infelizmente, porém, eu não gostava do homem nem gosto dos escritos dele.
Parado com as rodas quietas e firmes no plancher des vaches, como diria médico sábio meu amigo, o avião ia deixando entrar pessoas, muitas desejosas do sol de Portugal (que não haveria desta vez). Um homem mais bem vestido do que os outros, de barba cuidada, riu-se para nós e parou de pé contra a fila da frente. Era o Bernardo, irmão da Vera, vindo de reunião europeia, onde os participantes agora, com ingleses nem cá nem lá e eurocépticos à frente das sondagens eleitorais se sentem como Fabrice em Waterloo, sem perceberem como está a correr a batalha.
Quando todos se sentaram vi que o Bernardo, na fila atrás da nossa, ia já em economia. Eu julgara que se tivesse acabado com essa pelintrice do tempo de Passos Coelho mas não: alinhar por baixo continua a ser a regra. Coitado do país.
traje masculino - século XIX
Para em tudo ser grande, este homem singular a quem os seus contemporâneos chamaram «o divino», como a Platão, foi um dos maiores, senão o maior elegante do seu tempo. Poeta do amor, tão belo, que se um dia os Amores descessem à terra fariam o ninho num verso seu; orador tão eloquente, que o seu verbo evocava o daqueles atenienses maravilhosos que, envoltos no seu pálio branco, arrastando as suas sandálias doiradas, discutiam sob os loureiros roxos dos jardins de Academo: diplomata, homem do mundo, grande do ir mo, ministro de Estado — Garrett levou trinta anos de vida a espalhar em volta de si, como braçados de rosas, a elegância, a harmonia, a beleza e a graça. Por onde quer que passasse, a Moda curvava-se diante dele. Ministro na Bélgica, foi tão grande o sucesso pessoal da sua elegância que por toda a parte, nas montras, nos cartazes, nos jornais de Bruxelas aparecem as «capas à Garrett», os «chapéus à Garrett», as «jóias à Garrett». Regressando a Lisboa em 1846, de tal forma o seu tipo inconfundível se impôs, tanto o imitaram e o copiaram, que todos os retratos em miniatura pintados por Guglielmi parecem, pelo talhe das barbas, pelo jeito das cabeleiras, peias pequenas moscas, pelos próprios folhos das camisas, o retrato de Garrett. Como Brummell, tudo na sua elegância era simples, mas tudo era perfeito e minucioso. Vestia-se em Inglaterra. Mandava vir de Londres as casacas, as meias, os sapatos de baile, as luvas de Jouvin, a libré verde do groom, a suit of clothes com que passeava em Sintra, até os seus assombrosos pijamas matinais de xadrez branco e vermelho, cuja pantalona afunilava em meia como a dos arlequins. Bulhão Pato descreve o trajo com que ele se apresentava nas Câmaras, o mesmo que usava nas lutas da eloquência e nas entrevistas de amor: «Casaca verde-bronze com botões de metal amarelo recortado sobre veludo verde; colete branco, deslumbrante, grandes bandas; calça de flor de alecrim; camisa finíssima, encanudada; luvas amarelas.» Quando tinha de pronunciar algum dos seus monumentais discursos, não esquecia nenhum pequeno pormenor de elegância: ele, que não usava rapé, levava sempre consigo uma pequena tabaqueira de ouro para o ajudar nos gestos; e nunca, antes de começar a falar, deixava de esfregar as mãos para as fazer mais pálidas. Como a sua nobre figura dominava então a assembleia! Que harmonia de atitudes! Que elegância majestosa, só comparável à de Lamartine! Iluminava-se, crescia, arrebatava. E, entretanto, Garrett não era belo. Garrett lutava com a falta de dotes naturais. O milagre da sua elegância foi, sobretudo, uma obra de arte, de paciência e de génio. Tudo nele era postiço, desde o espartilho até ao chinó, desde os dentes até às ancas, desde o chumaço dos ombros até ao bucho das pernas. Quando à noite recolhia a casa, depois de um baile ou de uma recepção, desmanchava-se como um puzzle. E o que tem graça, é que era ele o primeiro a rir-se dos ridículos a que o obrigavam, não só os seus defeitos físicos, mas as própria exigências da moda de 1840. Uma noite, o criado de quarto de Garrett adoeceu e teve de ser substituído por outro — um pobre rapaz boçal chegado da província. Quando o «divino», quase de madrugada, de calção e meia, regressava de um baile dos marqueses de Viana — o primeiro baile de Lisboa em que apareceram camélias do Japão — foi já o criado novo que, pela primeira vez, se apresentou para o despir. — «Começamos pelo chino, percebe?» — disse-lhe Garrett, tirando a cabeleira postiça e enfiando-a na boneca. O pobre rapaz, que nunca tinha visto arrancar os cabelos da cabeça com tanta facilidade, ficou varado de espanto. Depois, o poeta tomou um pequeno espelho, abriu a boca, fez saltar a dentadura e deu-a ao criado: — «Tome lá os dentes. Meta-os num copo de água.» O assombro do pobre homem subiu de ponto. Imperturbável, Garrett despiu a casaca em «busto de abelha», o colete de reflexos de prata, o espartilho, e apontou os chumaços das espáduas: — «Tire-me os ombros.» Em seguida, puxou uma cadeira, assentou-se: — «Agora, tire-me as barrigas das pernas.» O criado, muito pálido, coberto de suores frios, teve naquele instante a impressão de que o amo ia desfazer-se todo. (Garrett percebeu, levantou-se, avançou para ele e disse-lhe, olhando-o fixamente: — «Agora, desatarrache-me a cabeça devagarinho.» O pavor do ingénuo provinciano foi tal que abalou pela porta fora e nunca mais ninguém o viu. Este epislódio pinta a figura do poeta muito melhor do que todos os retratos e todas as caricaturas. No fim da vida, no período agudo da paixão pela Ignota Dea das Folhas Caídas, Garrett esqueceu-se por vezes de que já tinha mais de cinquenta anos e de que nem todas as idades suportam as modas excessivamente audaciosas. Quando sobraçava a pasta dos Negócios Estrangeiros, apareceu um dia em conselho de ministros com umas extravagantes calças de quadradinhos brancos e roxos, que fizeram sensação em Lisboa e que chegaram a despertar receios de natureza política. — «Então, como vão esses negócios da Fazenda?» — perguntou o poeta ao seu colega Rodrigo da Fonseca, estendendo-lhe afectuosamente a mão. — «Mal, muito mal — respondeu o espirituoso Rodrigo. — Sobretudo, os negócios da fazenda das tuas calças. Se tu apareces assim no Parlamento, deitas o governo a terra!» A sua última preocupação foi a de mandar gravar por toda a parte, na baixela de prata, nos sinetes de uso, nas pedras dos anéis, o seu escudo de armas rodeado das insígnias da grã-cruz e bailiado de Malta. A morte, porém, que tantas vezes tem piedade do génio, não o deixou ser ridículo por muito tempo. Dois anos depois, o divino Garrett, príncipe dos príncipes da elegância portuguesa, rodeado de flores, compondo ainda ao espelho a sua última toilette, morria vítima das duas mais terríveis doenças que se conhecem no mundo: a política e o amor. Sem dúvida, foram estes os corifeus da elegância romântica em Portugal — os «internacionais», aqueles cujas jóias e cujas casacas nos fizeram, por um momento, quase tão admirados na Europa do século XIX, como os coches de D. João V nos tinham feito célebres na Europa do século XVIII. Mas, ao lado destes, quantos outros! Quanto janota ilustre fascinou Lisboa, nessa longa parada de elegâncias que ia da plateia de S. Carlos até aos salões da Regaleira, do Marrare de Polimento até às alamedas doiradas do Passeio Público! De quantos está ainda fresca a memória, elegantes pragmáticos, devotos fiéis do ritual da Moda, capazes de se deixar insultar para não desfazer um só caracol da cabeleira, de se deixar matar para não desmanchar uma só prega das calças! Alguns passam, flagrantes e vivos, diante dos meus olhos.
Júlio Dantas in O heroísmo, a elegância, o amor*
Edições Roger Delraux
© Maria Isabel Dantas, 1980
* Conferências proferidas no Brasil em 1923 pelo autor, a convite da Academia Brasileira de Letras, por proposta do romancista Coelho Netto:
O Heroísmo: O Mosteiro da Batalha
A Elegância: Os Elegantes do Romantismo
O Amor: Mulheres que Camões amou
Nota:
O meu agradecimento a Manuel Sant'Iago Ribeiro, que me deu a conhecer estas conferências.
A imagem é do blog Des bobines et des songes
Fim de festa
Saiu o ano, entrou o ano. No topo do Estado dois chatos tristonhos deram lugar a dois faroleiros alegres e parece que o povo gosta assim. Ao menos anda a gente distraída, Senhor Doutor. Não ficámos menos pobres mas passámos a viver com mais gosto, dizem-me médicos de Lisboa e mestres d’obras de província. E nesta aventura inédita a que chamamos Europa – já lá vai mais de meio século sem andarmos à estalada uns aos outros (e sem batermos em pretos) – há muitos que nos invejam por esse mundo fora, apesar do mal que gostamos de dizer de nós próprios. Mas será preciso acordarmos e ganharmos juízo porque a papa doce está a acabar.
Não acabaria nunca enquanto a União Soviética existisse e a Alemanha estivesse dividida. (Gosto tanto da Alemanha que prefiro que haja duas – lembrava o General De Gaulle). O medo que o Camarada Estaline e os seus herdeiros nos metiam nos ossos tinha efeito salutar nas nossas decisões de europeus do Ocidente: dava força e razão ao que nos unia, punha de lado o que nos afastava e a construção europeia não parava. Se idade e doença não tivessem levado tão depressa desta para melhor os dois predecessores imediatos de Gorbachev, a perestroika e o colapso da União Soviética só teriam chegado dez anos depois, com a União Europeia já pronta para entrega aos europeus, chave na mão, pelo empreiteiro Delors ao serviço do casal franco-alemão (gravado para todo o sempre na sabedoria das nações por Mitterrand e Kohl de mão dada em Verdun).
A reunificação alemã deu cabo desse casal. Como no drama de Almeida Garrett Frei Luís de Sousa, que dantes se estudava no liceu, o primeiro marido afinal ainda estava vivo. “Perdida, desonrada, infame” grita da filha inocente a bígama involuntária quando tal descobre, antes de se fechar num convento a expiar a culpa até ao fim da vida. Para a Alemanha Reunida, o centro da Europa passou a ser a Leste. Tem algum respeito ainda pelo Noroeste protestante, à cabeça os holandeses, heróis de Srebrenica e gente de contas certas; Inglaterra indispensável para equilibrar França que não só descobriu que não manda na Europa (tempo foi em que Kohl dizia que o Chanceler alemão, quando ia ver o Presidente francês, devia começar por fazer três reverências) mas também que nem sequer em si própria manda - com os ingleses a irem-se embora, como é que vai ser? – e os de Sul e Sueste que se arranjem, punidos com cegueira analfabeta, norteada por calendários eleitorais teutónicos. Até à reunificação, a Alemanha Ocidental expiara exemplarmente a sua gigantesca culpa (ajudada por perdão de dívida que afastava fantasias de ir para Leste) mas, depois de reunida, a tentação de ser alemã e não cidadã europeia cruza cada vez mais cabeças, deixando mais nódoas negras nos vizinhos.
Enquanto a Europa se afunda. Quando agora o Sultão de Istanbul acusa as potências ocidentais de conspirarem contra ele, as potências em vez de mandarem canhoneiras para o Bósforo desfazem-se em desculpas de mau pagador.
Os textos do Romanceiro português e respectivos registos sonoros, quando conservados, vão passar a estar disponíveis online e em acesso livre na plataforma Romanceiro.pt. A preservação deste património, através da digitalização, era urgente, já que a sua manutenção nos formatos em que se encontrava (cassetes áudio e fotocópias em papel) constituía uma séria ameaça à sua preservação.
A plataforma digital será apresentada amanhã, pelas 16h, na Fundação Manuel Viegas Guerreiro (Loulé), pelo coordenador do projecto, o investigador Pedro Ferré.
O objetivo é tornar acessível ao grande público um arquivo sem par no contexto ibérico, que alberga já perto de 14000 imagens de documentos de grande relevo no âmbito da literatura patrimonial portuguesa, nomeadamente do Romanceiro de tradição oral, e cuja expansão está prevista.
Nos últimos anos, os investigadores do CIAC Pere Ferré, Mirian Tavares e Sandra Boto trabalharam o acervo da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, que compreende 660 horas de gravação em 609 cassetes áudio ali depositadas, e onde estão guardadas 3632 versões inéditas de romances e acolhe 10096 versões de romances publicadas entre 1828 e 2010. A plataforma Romanceiro.pt é o resultado do projeto “O Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna (1828-2010): sua preservação e difusão”, uma parceria entre a Fundação Manuel Viegas Guerreiro (Loulé) e o CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação/FCT (Universidade do Algarve / Escola Superior de Teatro e Cinema) com o mecenato da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do Concurso de Recuperação, Tratamento e Organização de Acervos Documentais (2013).
O Romanceiro é um género poético tradicional que circula desde os finais da Idade Média na memória dos povos de expressão portuguesa, galega, castelhana e catalã, difundindo-se desde então oralmente de geração em geração. Trata-se, portanto, de um património imaterial de uma vitalidade excepcional e de uma riqueza ímpar que importa preservar, numa altura em que a disseminação das novas tecnologias e dos media parece ter aniquilado talvez definitivamente a sua vitalidade e função no seio das comunidades rurais em que ainda permaneciam até há pouco tempo.
Remonta a 1421 o primeiro documento conhecido onde se fixa uma versão de um romance, o "Gentil dona, gentil dona", pela mão do estudante maiorquino Jaume de Olesa. Foi, contudo, o Romantismo que encetou o interesse sistemático por este género poético. Desde 1824, foram coligidas milhares e milhares de versões de romances em Portugal, em Espanha e nos países da diáspora portuguesa e espanhola, sem falar na memória romancística que os judeus expulsos da Península Ibérica nos finais do século XV transportaram com eles pelo mundo e que ainda hoje é preservada.
Poderíamos, para o caso específico português, referir-nos ao contributo das recolhas e publicações de versões de romances realizadas a cargo de nomes como Almeida Garrett, Teófilo Braga, Leite de Vasconcellos, Consiglieri Pedroso, Alves Redol, Michel Giacometti, Maria Aliete Galhoz, Manuel Viegas Guerreiro, entre tantos outros. Este arquivo alimenta-se, justamente, dos trabalhos de recolha e publicação do romanceiro tradicional português que estes e muitos outros interessados na literatura de tradição oral levaram e continuam a levar a cabo no presente.
Entrevista com os investigadores aqui
No facebook aqui
O Retrovisor vai ter uma nova rubrica semanal, da autoria de Jorge Colaço, que tenho o prazer de apresentar aos Leitores, não porque se trate de um novo convidado, já que vários textos seus figuram neste espaço, mas para saudar a sua renovada presença aqui e dar-lhe as boas vindas.
O Amigo de Garrett
Jorge Colaço começou por ser o desconhecido que, em finais de 2004, depois de ler notícias da descoberta, numa casa particular em Lisboa, duma importante colecção de inéditos do romanceiro garrettiano, tomou a iniciativa de escrever a minha irmã Cristina para a felicitar pelo achado e, perante o seu entusiasmo com a riqueza do material encontrado, adverti-la gentilmente a não esperar muito. Começou aí uma correspondência que deu lugar à amizade que eu herdei. Jorge Colaço acabaria por participar em todos os esforços de divulgação dos manuscritos e por ter nessa divulgação um papel fundamental. Modéstia à parte, a forma como este espólio foi tratado merecia ser um caso de estudo em Portugal.
Retrovisor
No meio do esforço algo solitário que representou para mim nos anos mais recentes alimentar este blog, a chegada do Bloco-Notas foi um autêntico balão de oxigénio. Quando há dois anos José Cutileiro me propôs alojar aqui a sua crónica semanal, perguntei a mim mesma se teria sido o chamamento de gente como Cinatti, O'Neill, Nemésio ou Garrett. No caso de Jorge Colaço é simples, na minha família sempre lhe chamámos o Amigo de Garrett.
Stay tuned, o Dicionário Pessoal de Jorge Colaço começa dia 6 de Fevereiro. Sai ao sábado.
Garrett - Columbano (detalhe)
Carta de Almeida Garrett ao político e amigo Rodrigo da Fonseca Magalhães
"Pensa", escreve Garrett em 1846 ou 1847 ao seu amigo, nesta carta inédita que pertence à Biblioteca Nacional. "E se julgares que podemos com um acordo perfeito, íntimo, mas secreto, fazer algum bem a esta pobre terra, avisa das horas mais convenientes de te ver." Estava-se em plena Guerra da Patuleia, que dividiu o país entre liberalistas e miguelistas, e Garrett oferece-se para ajudar. O "acordo", se existiu, manteve-se mesmo secreto. Não se sabe qual foi — se algum — o envolvimento de Garrett nos bastidores.
5a feira
[...]
Meu Rodrigo, aproveito esta ocasião para te pedir que estejas bem em guarda para te não deixares comprometer com certos sujeitos que nós sabemos. Olha que eles nada te podem dar, e se te pudessem dar alguma coisa, não ta davam. Se se chegam para ti é porque sabem que nada têm, e fazem de vampiros para viver do teu sangue. E depois uma de duas, ou te hás-de desfazer deles, e chamam-te traidor, ou os aturas e alienas de ti os verdadeiros valores. No meio destas ruínas em que está Portugal tu podes ter uma bela missão.
Isto é como o terramoto de 55: nós não o fizemos, tu não o fizeste. E o que se incarregar de levantar a cidade caída não é responsável pelo que a deitou abaixo. Esta opinião e modo de ver não é meu, é de muita gente, e poderemos fazê-lo ser do maior número se se for com tento e firmeza.
Tu bem sabes que eu não costumo oferecer-me para nada; mas também sabes que sou amigo verdadeiro e eficaz quando a consciência da razão e da alma se juntam às minhas simpatias pessoais. Eu digo a todos que não sou de políticas, e que abdiquei, mas a ti digo-te que escolhi de propósito e de longamão esta posição insuspeita porque vi do princípio que por bastante tempo outra era impossível com proveito público. Creio que me não inganei. Assim vejo todos, e com todos falo em negócios que de outro modo não são tratáveis.
Se vires que podemos falar sério e com proveito nestas coisas, e que convém, dize e falaremos. Os patuleus estão com mais senso do que os eu supunha.
Se se tenta alguma coisa, é preciso tentá-lo já, isto é, prepará-lo; e parece-me a mim que posso ajudar-te nalguma coisa, especialmente porque cuidam que o não pretendo.
Ora eu realmente para mim aqui nada quero.
Adeus. Pensa, e se julgares que podemos com um acordo perfeito, íntimo, mas secreto, fazer algum bem a esta pobre terra, avisa das horas mais convenientes de te ver. E tu bem deves saber que eu não sou poeta em prosa, e que todos valem mais que eu, menos em lealdade e certeza que ninguém mais que eu vale. Teu dedicado amigo
JBAG
*
A 4 de Março de 1852, ao apresentar o texto do primeiro Acto Adicional à Carta Constitucional, por si redigido, Almeida Garrett proferiu o último discurso na Câmara dos Deputados. Este é um verdadeiro testamento político (a que deve juntar-se a alocução, também derradeira, na Câmara dos Pares, em 10 de Fevereiro de 1854), e nele se inclui este enigma de decifração de profundas convicções:
Eu também já perdi as minhas ilusões; também já não creio na maior parte das cousas em que acreditava; mas há uma única crença, é a crença na minha Pátria é na liberdade dela [...]. Mas quando a perdesse, sumia-a no fundo de minha alma para que ma não suspeitasse a Nação Portuguesa.
Das bancadas parlamentares que o aplaudiram (no registo dos taquígrafos, emotiva e efusivamente o fizeram), não podem contar-se aqueles que terão penetrado o sentido dissimulador, tão do agrado do escritor, que essas palavras contêm.
Ora, descrente das soluções e dos oportunismos que enchem páginas na história do nosso liberalismo, Garrett aprendeu a dissimular as mais fundas crenças, cobrindo-as sob um manto (ou jogo) irónico de "ilusões" e "crenças" com que manteve incólume uma postura de independência dos partidos e interesses particulares de então. Daí a fórmula, que não deixa de ser perturbadora e que podemos traduzir deste outro modo: se hoje deixei de pensar o que ontem posso ter pensado, não afirmo nem desminto tanto o que ontem posso ter pensado como, hoje, o ter deixado de pensá-lo.
Fórmula especiosa... e perturbadora! Afinal de contas, fórmula geral de uma "intimidade constrangida", que, com o tempo (sobretudo, por força de um tempo histórico vivido), aprendeu a escamotear em público as convicções mais íntimas, sem as apagar de todo. Mas quais terão sido estas?
Creio que, de um juvenil ponto de partida republicano (de que o federalismo norte-americano foi "a pedra filosofal" dos sistemas políticos) e jacobino (de que as revoluções servem para "colocar os homens no seu lugar"), permaneceu uma dissimulada posição de defesa do que, no primeiro liberalismo português, podemos considerar os difusos interesses populares.
E, de forma irruptiva e mais ou menos velada, conforme as circunstâncias — nessa "posição insuspeita" de quem já vira "que por bastante tempo outra era impossível com proveito público" (ver carta inédita junto) — , Garrett surgiu nos picos de maior radicalidade ao lado do partido popular e contra o oportunismo das facções.
No geral, manteve o princípio de conservação das liberdades e de estabilidade política que se não confunde com conservadorismo e não pode esconder as crenças subtilmente veladas pelas "endiabradas políticas" que "tudo absorve[ra]m" no nosso longo século XIX.
Luís Augusto Costa Dias
in Jornal Público, Caderno "150 anos da morte de Almeida Garrett ", 9 de Dezembro 2004
* Imagem: Óleo sobre tela de Columbano Bordalo Pinheiro concluido em 1926 [pormenor] . Passos Perdidos, Assembleia da República, Lisboa
Cristina de Carvalho Futscher Pereira
17 de Abril 1948 - 27 de Setembro 2005
O Ramo de Oiro
Estando eu à minha porta
Com três horas de serão
Vi passar Nossa Senhora
Com um ramo de oiro na mão.
Eu pedi-lhe uma folhinha
Ela disse-me que não;
Pedi, tornei-lhe a pedir,
Ela deu-me o seu cordão,
Que me dava sete voltas
À roda do coração.
Sete voltas não são nada
Ó Virgem da Conceição
Prendei vós esta alma toda
Prendei-ma com vossa mão
Que a metade inda é do mundo
Metade, que a outra não.
Plantai-me esse ramo de oiro
No meio do coração
Ficarei no vosso altar
Como vaso de eleição.
Romance popular incluído nos manuscritos garrettianos descobertos pela Cristina em 2004. O poema foi lido no seu funeral e editado numa pagela oferecida aos amigos.
*
Veja também os posts:
Romanceiro
Manuscrito do Autor
[autógrafo de Almeida Garrett]
A compra pelo Estado Português do espólio garrettiano designado por “Colecção Futscher Pereira” [1], anunciada pelo Secretário de Estado da Cultura no dia 18 de Dezembro, fecha um ciclo iniciado há dez anos pela descoberta, por minha irmã Cristina Futscher Pereira (1948-2005), de manuscritos inéditos de Almeida Garrett que contribuem de forma decisiva para o estudo do Romanceiro português.
Fica deste modo assegurada a ampla divulgação deste espólio, o maior desejo de Cristina, além da permanência dos autógrafos em Portugal, nas melhores condições [2]. Por fim, e também importante, com esta aquisição a Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas valoriza aos olhos do público a recolha pioneira de Garrett de temas da nossa tradição oral. São relatos de eventos históricos e histórias de amor, transgressão e violência, de grande suspense e final incerto, que mantêm plena actualidade no século XXI.
Para a família, a colecção permanecerá ligada à memória de Cristina, de Venâncio Augusto Deslandes e de iniciativas e amizades inspiradas pelo Autor [3]. Entregamos estes papéis com muita satisfação e um bocadinho de nostalgia.
*
Notas:
1. A Colecção engloba mais de 400 páginas manuscritas, parte delas inéditas, compreendidas no período de 1839 a 1853/54.
Artigo de Luís Miguel Queirós no Público sobre a aquisição da colecção pelo Estado Português.
2. “O espólio agora adquirido será objecto de um contrato de depósito na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, enriquecendo, desta forma, o já importante espólio garrettiano de que [a instituição] dispõe”, de acordo com o comunicado divulgado pelo Gabinete do Secretário de Estado da Cultura citado pela Agência Lusa.
Espólio Garrettiano da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra [Youtube]
3.
- Blog garrettiano O Divino , 2004-2005
- A Moira Encantada de João Baptista de Almeida Garrett
Edição oferecida pelo "Diário de Notícias" aos leitores no 140º aniversário do jornal, a 29 de Dezembro de 2004
ISSN 0870-1954 Lisboa, Dezembro 2004
- No aniversário da morte de Garrett. Apresentação de um inédito do Romanceiro [Ermitão]
Ofélia Paiva Monteiro e Maria Helena Santana.
Annualia Verbo. Temas, Factos, Figuras, 2005/2006.
- As Fontes do Romanceiro de Almeida Garrett. Uma Proposta de ‘Edição Crítica’ [Tese de Doutoramento em Línguas, Literaturas e Culturas, Especialidade de Estudos Literários]
Sandra Boto
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2011
Sobre a Colecção Futscher Pereira e Venâncio Augusto Deslandes leia também aqui
Cerimónia de assinatura do Auto de Depósito de uma coleção de documentos autógrafos de Almeida Garrett
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
Protagonista e espectador de acontecimentos fundamentais na cultura, na política e na sociedade portuguesas, Garrett (1799-1854) viveu a transição do século XVIII para o século XIX, a viragem do Portugal velho para o Portugal novo. O exílio, o desempenho de funções diplomáticas e outras actividades obrigaram-no a residir alguns anos na Inglaterra, na França e na Bélgica. Teve contacto directo com a vida social e política daqueles países e dos movimentos culturais de vanguarda.
Foi um dos principais colaboradores de Mouzinho da Silveira na redacção e elaboração dos decretos para a reorganização das finanças públicas, da justiça, da divisão administrativa e que modificaram o sistema governativo. Pertence-lhe, também, uma das leis para a definição da propriedade literária e o direito de autor, contribuindo para a dignificação e independência da criação intelectual.
A modernidade começou, entre nós, com Garrett. As raízes da moderna poesia portuguesa, no entender de José Régio e depois de Óscar Lopes e António José Saraiva na História da Literatura Portuguesa, derivam da obra de Garrett. Prolongou-se até às gerações do Orpheu e da Presença. Sem o Garrett das Folhas Caídas não teríamos João de Deus, nem António Nobre, nem Pascoais, toda a grande corrente lírica dos séculos XIX e XX , que retrata muito do comportamento do homem português.
Desde sempre o teatro ocupou lugar de relevo nas suas preocupações. Quando Passos Manuel esteve à frente do Governo (1836-1837) solicitou a intervenção de Garrett para renovar o teatro. Dois exemplos: a colaboração para organizar o Conservatório e para construir um Teatro Nacional. Integraram-se nesta política cultural as peças que Garrett escreveu e onde recriou grandes ciclos da História de Portugal: a revolução de 1385, que restituiu a independência e levou ao trono o Mestre de Avis ( O Alfageme de Santarém ); a época dos Descobrimentos, contemporânea do nascimento do teatro português ( Um Auto de Gil Vicente ); a perda da independência em 1580, com 60 anos de ocupação espanhola ( Frei Luís de Sousa); e a governação pombalina (A Sobrinha do Marquês).
Criou, igualmente, uma nova escrita nas Viagens na Minha Terra. Atribuiu à palavra a nitidez do pensamento, a variedade do ritmo, uma arquitectura verbal em que a construção lógica se concilia numa expressão original. As Viagens na Minha Terra abriram caminho à língua e estilo de Eça de Queiroz. Do Carlos das Viagens resultou o Carlos de Uma Família Inglesa, de Júlio Diniz, e o Carlos d' Os Maias, de Eça de Queiroz, qualquer deles elegante, volúvel, sedutor. E não será difícil aproximar o Carlos das Viagens de outro Carlos também de Eça de Queiroz e da sua geração: Carlos Fradique Mendes, exemplo do homem requintado, medularmente europeu.
Entre nós, Garrett foi o primeiro a recolher o tesouro poético do povo português. Recuperou da tradição oral numerosas composições do Romanceiro, muitas das quais inéditas, conforme revela o DN, hoje, a propósito do espólio de Venâncio Deslandes. Mas ainda lhe cabe um papel precursor nas áreas da etnografia, do folclore, dos estudos de antropologia. O que é preciso - salientou - é estudar as nossas primitivas fontes poéticas, os romances em verso e as legendas em prosa, as fábulas e crenças velhas (...) no grande livro nacional, que é o Povo.
Lançou um movimento que se reflectiu até aos nossos dias. Chamou a atenção para os atentados à paisagem, aos monumentos, às bibliotecas e arquivos. Apesar dos aproveitamentos políticos, para algumas orientações do Integralismo Lusitano e do Salazarismo, Garrett iniciou a reabilitação e classificação do património articulando as necessidades e interesses locais com a história, a geografia e o quotidiano, a fim de assegurar os fundamentos da identidade do País.
Em tudo quanto fez Garrett, sem deixar de ser português, aproximou-se da Europa numa perspectiva aberta, dinâmica e plural, de sentido humanista.
António Valdemar
in [Garrett] "Um dos Precursores da Modernidade"
Diário de Notícias, 7 Dezembro 2004
*
Imagem:
Desenho de Julio Gil
Ilustração de Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett
Diário de Notícias, 24 de Janeiro de 1955
Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça gravam mulheres da Beira a cantar.
Fotograma de 27 minutos com Fernando Lopes Graça [António Pedro Vasconcelos, RTP 1968]
[... ] Recolhendo a letra dos Romances desacompanhada da respectiva música, o autor das Viagens na minha terra fez obra incompleta, truncada. Não o culpemos muito por isso. Poderia ele ter procedido diferentemente ? Garrett era, antes de mais nada, um poeta, um escritor, certamente pouco familiarizado com o fenómeno musical. Não era folclorista (a disciplina do folclore achava-se então ainda nos limbos) para poder proceder à sua recolha (aliás feita indirectamente, através de comunicações de terceiros) com verdadeiro método científico.
Lembremo-nos, ademais, que, nos países que de certo modo o impulsionaram no estudo da literatura popular e que lhe ministraram as ideias interpretativas desta, a Inglaterra e a Alemanha, ou, antes, o movimento romântico naquelas duas nações, também as coisas não principiaram doutro jeito e que só mais tarde ali se começou a. prestar a devida atenção às melodias populares e a considerar em conjunto o binómio poesia-música.
No entanto, ao próprio Garrett. não passou acaso despercebida a deficiência do seu trabalho e o quanto importaria, sob o ponto de vista prático, isto é, para o aproveitamento artístico dos materiais fornecidos pela nossa poesia tradicional, associar esta às melodias que com ela nasceram ou que com ela fraternamente andam de par. Comentando, no mesmo 2.° volume do Romanceiro, o Romance da «Bela Infanta» (que classifica de chácara), diz que o introduziu, com algumas alterações indispensáveis, no 5.º acto d' O Alfageme de Santarém, fazendo-o «cantar por um coro de mulheres do povo, à hora do trabalho». E relata, entre satisfeito e pesaroso: «...observei o sensível prazer que tinha o público em ver recordar as suas antiguidades populares, que nem ainda agora deixaram de lhe ser caras, Mas por mais que fizesse, não consegui que as cantassem a uma toada própria e imitante, quanto hoje pode ser, da melopeia antiga com que há séculos andam casadas essas trovas. Ainda em cima, os cantores desafinavam e iam fora de tempo na música italiana e complicada que lhe puseram. Apesar de tudo, os espectadores avaliaram a intenção e a aplaudiram.»
Dos Romances compendiados por Garrett conhecemos nós hoje tão só as toadas da Bela Infanta, do Bernal- Francês, do Conde Yano (ou Conde Alberto), do Conde de Alemanha, da Silvaninha, do Reginaldo, do Conde Nilo, da Donzela que vai à guerra (também conhecido por D. Martinho), da Nau Catrineta, de O cego, de Linda-a-pastora (ou O príncipe e a pastorinha), do D. João e de A morena. (E possível que ainda um que outro deles haja por aí recolhido por algum curioso ou folclorista benemérito de que não temos notícia). Mas o ponto é saber-se se tais toadas são de facto as que, à altura da colação garrettiana, se cantavam com as letras que ali se referem. Não terá havido em muitas delas permutas e transposições? Já se verificaria então o fenómeno, hoje corrente, de a uma determinada toada se poderem atribuir vários romances ou de um destes ser cantado com melodias diferentes ? Que alterações ou transformações se terão produzido nessas toadas no decurso de um século?
A coisa seria importante de saber-se para a organização e estudo quanto possível documentado do nosso Romanceiro no ponto de vista poético-musical; mas crêmo-la já agora impossível de apurar-se.
A tarefa sistemática da recolha da poesia e música dos Romances nunca chegou a ser empreendida entre nós, e talvez já seja tarde para a tentar. E que prejuízo daí não resultou, a avaliar pelos belos mas desgarrados espécimes com que se consegue topar numa que outra publicação ou ouvir ainda (cada vez menos, infelizmente) da boca do próprio povo! (*)
O cometimento de Garrett ficou incompleto; mas saibamos fazer jus ao grande escritor, hoje, no ano do seu Centenário, por haver dado o sinal de partida, ao menos num aspecto do conhecimento, resguardo e apreço do rico tesouro da nossa arte popular.
Fernando Lopes Graça
in A propósito do Romanceiro de Garrett
Vol. III de Gazeta Musical (Academia de Amadores de Música) nr 51 Dezembro de 1954
(*) Nota do Autor: — Já agora, consignemos aqui os Romances (na maior parte incompletos, outros com interpolações várias) que, acompanhados de música, andam dispersos por várias publicações de que temos conhecimento, fazendo, para algumas das toadas recolhidas, a prudente reserva da fidelidade da transcrição musical (por exemplo, para os das colecções de Pedro Fernandes Tomás, a quem muito se deve neste capítulo, mas cujo rigor musical é frequentemente duvidoso), e formulando votos por que a presente lista possa vir a ser acrescentada com comunicações dos nossos estudiosos da matéria.
I. O Conde de Alemanha, Reginaldo, O Capitão da Armada, Nau Catrineta, O Cego, Frei João, Jesus pobrezinho, in Pedro Fernandes Tomás: Velhas Canções e Romances Populares Portugueses (França Amado, Coimbra, 1913).
II. O duque de Alba, A noiva enganada, in Pedro Fernandes Tomás : Cantares do Povo (França Amado, Coimbra, 1913)
III. O Caçador, Pastora, Sta, Catarina, Milagre da Virgem, in Pedro Fernandes Tomás: Canções Portuguesas — do século XVIII à actualidade (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1934).
IV. D. João, D. Fernando, D. Angela, Deus te guarde pastorinha, Mineta, A menina cativa (?), in P.e Firmino A. Martins: Folklore do Concelho de Vinhais, 2º vol. (Lisboa, Imprensa Nacional, 1939).
V. O lavrador da arada, O homem rico, Conde Alardo, Santa Iria, in António Avelino Joyce: Revista Ocidente, IV.
VI. Lavrador da Airada, D. Silvana, Santa Iria, O príncipe e a pastorinha, Ora, valha-me Deus, Morena, O rei e a pastora, D. Martinho, in J. Diogo Correia: Cantares de Malpica (Livraria Enciclopédica de João Bernardo, Lisboa> 1938).
VII. O cego, Conde Nino, Conde Albano, Rosa, a pastorinha, Nau Catrineta, Dona Silvanas Irene (sem letra), Bernal Francês (sem letra), Lamentações da freira (sem letra), Dona Infanta, Gerinaldo, O lavrador da arada, in Gonçalo Sampaio: Cancioneiro Minhoto, 2,a edição (Livraria Educação Nacional, Porto, 1944).
VIII. O lavrador da arada (três versões), Romance ("sem titulo), in Edmundo Arménio Correia Lopes: Cancioneirinho de Fozcoa (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1926).
IX. Santa Iria, A nau Catrineta, in Francisco de Lacerda: Cancioneiro Musical Português (Junta de Educação Nacional, Lisboa, 1935).
X. Rosa, a pastorinha, Confissão da Virgem, in Sales Viana: Cancioneiro Monsantino (Edições SNI, Lisboa).
XI. A bela Infanta, in Rodney Gallop: Portugal, a book of Folk-ways (Cambridge, at University Press, 1936),
XII. Silvaninha (var.), Bela Infanta, in Rodney Gallop: Cantares do Povo Português (Livraria Ferin, Lisboa, 1937).
XIII. Reginaldo (ou Gerinaldo), O homem rico, in Fernando Lopes Graça: A Canção Popular Portuguesa (Publicações Europa-América, Lisboa).
Deve observar-se que certos destes Romances se acham repetidos ou constituem lições diferentes do mesmo tema; estão neste caso, por exemplo, Mineta (O cego), Rosa, a pastorinha (O príncipe e a pastora, Pastora), Frei João (Morena), Jesus pobrezinho (O lavrador da arada). Isto apenas quanto às letras, porquanto as melodias não se repetem.
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Notas:
1. Fotograma de 27 minutos com Fernando Lopes Graça [António Pedro Vasconcelos, RTP, 1968] de excerto reproduzido no documentário Uma visita aos afectos do compositor [Músicas Festivas de Fernando Lopes Graça © Sílvia Camilo 2014]
Imagem gentilmente cedida por Sílvia Camilo a quem muito agradeço.
2. O romance popular Linda-a Pastora com introdução de Garrett neste blog aqui
3. Artigo de Gonçalo Frota no Público O cante ouve-se com o corpo, diante das vozes" aqui
4. Mais neste blog nas tags Lopes Graça e Garrett