Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2018

O Bloco-Notas de José Cutileiro

lx antes 1755

Maquete de Lisboa antes do terramoto de 1755

 

 

José Cutileiro

 

Escolaridades

 

 

No Inverno de 1968 o Professor Chimen Abramsky vinha às quintas-feiras à tarde de Londres a St. Antony’s College, Oxford, dar seminário sobre Marx, num rés-do-chão-cave, victoriano e lúgubre, aquecido por calorífero a gás, onde escolares do colégio e de alhures vinham ouvi-lo; não muitos e nem sempre os mesmos.

 

Eu fui uma vez e nesse dia o homem - que sabia tudo sobre Marx, sobre Engels e sobre a correspondência entre Marx e Engels – disse que Marx tinha compreendido imediatamente a importância da Comuna Francesa «as such» para a história da Europa. Engels, acrescentou, fora mais lento: «It took him about a fortnight!».

 

Este momento de formação oxoniana talvez tenha sido decisivo para o resto da minha vida profissional. Seguia-se a outros dois, vindos de formação lisboeta. Numa reunião semanal do serviço de psiquiatria dirigido pelo Professor Barahona Fernandes, um doente era interrogado por ele que depois pedia opiniões aos circunstantes – assistentes, outros médicos, estagiários, sentados à roda - e, no fim, fazia o sumário do caso. Quando chegou a minha vez, respondi-lhe que não tinha teoria ou experiência suficientes, nem sequer  era ainda formado e a minha opinião de pouco valeria. «Não, não. Diga.» respondeu Barahona. «Nestas coisas, às vezes, quem está de fora vê melhor».

 

O primeiro dos momentos  decisivos passara-se cinco anos antes, ia eu fazer exame de anatomia descritiva daí a dias com o Professor Soeiro, erudito amigo de amigos meus, os dois lado a lado num urinol da Faculdade. «Sabe que o Flaubert fez uma viagem ao Egito com o Cloquet do gânglio?» perguntei eu. (Há no braço um gânglio com esse nome). «Se era o do gânglio ou não…», respondeu ele, dubitativo. «Havia dois irmãos: o Hyppolite Cloquet e o Jules Cloquet». «O Hippolyte» atirei ao acaso, para acabar a conversa. «Estamos na mesma!» retorquiu o Professor. «Um chamava-se Hippolyte Cloquet e o outro Hyppolite-Jules Cloquet».

 

Estes momentos articulava-os eu para ilustrar a minha falta de paciência para erudição pedante a mais. Durante uns anos, sobretudo nos Estados Unidos,  houve tanto dinheiro disponível para subsidiar a academia que se passaram a dedicar centenas de páginas a temas de cada vez menos importância, a políticos ou artistas bem esquecidos – e troça cínica de gente como eu. Mas bons tempos, os daqueles disparates simpáticos quando comparados com o elogio gabarola da estupidez, da ignorância crassa, da imoralidade que agora campeiam da Casa Branca ao Palácio da Alvorada, para falar só das Américas. Com consequências desastrosas para a gente presente e futura que se vêem já ou que cientistas mais ou menos eruditos já preveêm (Deus os proteja a todos, roguem os crentes).

 

E dou por mim voltado para bemaventuranças da erudiçao. Como o fim de tarde de verão em que o José-Augusto França contou à minha mulher como era Lisboa  antes do terramoto de 1755 desde a porta da nossa casa no alto da D. Pedro V até ao ainda chamado Terreiro do Paço.

 

NB Quanto aos factos: os do Pofessor Abramsky e do José-Augusto França estavam certos; os do Professor Soeiro, errados e os do Professor Barahona vá lá saber-se.

 

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Quarta-feira, 31 de Outubro de 2018

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

adam-and-eve-peter-paul-rubens

Adão e Eva - Peter Paul Rubens

 

José Cutileiro

 

 

O povo é quem mais ordena

 

 

A extrema riqueza e a extrema pobreza têm uma coisa em comum: ambas assustam à primeira vista, disse já não me lembro ao certo (a idade não perdoa) que escritor inglês - e era capaz de ter razão. Digo ‘era capaz’, porque não tenho experiência que chegue na matéria. Um ou outro marajá ou príncipe árabe em festas de Oxford, às vezes com atavios tradicionais e caprichos malcriados; uma manhã a pé por ruas de Karachi, com cuidado para não pisar cadáveres de gente acabada de morrer de fome.

 

A esmagadora maioria dos ricos e dos pobres que encontrei na vida estavam muito longe desses extremos, embora suficientemente perto para a gente saber que uns eram os pobres e outros eram os ricos e ser às vezes tentado a compará-los.  Passando do dinheiro à política, quem diga pobres e ricos poderá também dizer bases e cúpulas, povo e poder. E aí a minha experiência profissional quer como antropologista no Alto Alentejo  nos anos sessenta do século passado quer como diplomata na Bósnia Herzegovina no começo dos anos noventa do dito século, convenceu-me de coisas que não vêm e não são sugeridas nem no Sermão da Montanha de Nosso Senhor Jesus Cristo nem no Manifesto Comunista dos alemães anglicizados Karl Marx e Frederich Engels. (Parêntesis: se acrescentarmos Freud e Einstein a esse estojo de ferramentas intelectuais para entendimento do século XX, ficaremos com ramalhete que deixará de água na boca qualquer antissemita americano que se preze, já a engatilhar as muitas armas de fogo que o Estado os encoraja a ter em casa. Parêntesis fechado).

 

O que eu descobri nas minhas andanças alentejanas e balcânicas no já remoto século passado – ou descobri independentemente, ou julguei ter descoberto, ou, dirão alguns, tomei nuvem por Juno e elaborei enganado – foi que os pobres são piores do que os ricos (não só fisicamente, pois remédios custam caro, mas também moralmente) e que as bases são piores do que as cúpulas. Talvez isto não se note tanto porque os ricos dão mais nas vistas. O escândalo da tia do meu chorado Raúl Miguel, fechada num manicómio quando se apaixonou por amanuense pelintra, pela família que subornou psiquiatras e juizes, até deu uma peça de teatro de Ramada Curto. Dos muito velhos e velhas em famílias de trabalhadores rurais, mortos devagar de fome por só os deixarem comer à proporção das suas míseras reformas, ninguém falou. Quanto à política: hoje o Dr. Karadzic, chefe dos sérvios bósnios em 1992, preso na Haia, apela de sentença de quarenta anos de cadeia. Ele era a cúpula: e passava o tempo a tentar moderar as suas bases que queriam sempre matar e espoliar mais croatas e muçulmanos.

 

O que me leva ao Pecado Original e ao à vontade que Silicone Valley veio dar à maldade humana. Fartai vilanagem! Tempo haverá até serem criados novos estabilizadores de decência e bom senso. Entretanto, o Brasil está à beira do abismo. Mas, como dizia o meu amigo Vernon Walters: «Você olha pró abismo e o Brasil não cabe!».

 

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 23 de Maio de 2018

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

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Oscar Wilde por Max Beerbohm

 

 

 

 

José Cutileiro

 

 

Novos e velhos

 

 

Janus Onyszkiewicz, dissidente polaco virado ministro da defesa no intervalo feliz  entre o fim do comunismo e o regime beato e bruto que está a agarrar a Polónia e a tentar tornar a fazer dela uma penitenciária, disse-me que, nisto de novos e velhos, decidira há muito que todos os que tivessem a sua idade ou menos eram novos e todos os que tivessem mais idade do que ele eram velhos. (Velhos ou velhas; novos ou novas. Para não tornar este escrito uma sucessão de solavancos, tal fica subentendido para todo o texto – salvo evidentemente quando não faça sentido nenhum). À volta da meia-idade que ele tinha na altura esta partilha ajuda a genica de um homem. Uns anos mais tarde, se a cabeça continuar viva, faz dele um velho espirituoso. Mais uns anos ainda e é disparate a evitar por quem não goste que o julguem senil. (Seja como for, há casos impossíveis. Oscar Wilde dizia de Max Beerbohm, escritor e desenhador seu contemporâneo em Oxford, tinham os dois vinte anos, que os Deuses  haviam contemplado Max com ‘o dom da velhice perpétua’, ‘the gift of perpetual old age).

 

Conheci senhor português de mais de 70 anos que chorou de emoção perante tanto progresso científico e técnico quando o sputnik de Yuri Gagarin deu lá em cima um par de voltas à terra e toda a gente cá em baixo soube disso in real time. E um bom meio milénio antes, o navegador Juan Ponce de Leon que, no dia de S. João, morreu à vista de terra a que nenhum europeu chegara antes e que hoje chamamos Florida, entrou na história pelas palavras que então pronunciou: « Gracias te seam mi San Juan bendito, que he mirado algo nuevo ! »

 

Se deste lado da curva de Gauss saltitam velhos vivos da costa, do outro lado dela jazem a espreguiçar-se novos com alma de velho – que podem revelar-se de maneira divertida. Há anos sem fim, estava eu a jantar num restaurante de caça em Hampstead com a minha mulher e casal amigo, todos nós ainda novos (todos portugueses), e falou-se do Brasil, talvez por eu ter estado dias antes em festa londrina de brasileiros e portugueses da qual guardara - e guardo ainda – duas sentenças lapidares. Primeira: uma brasileira disse-me “Vocês si detestam!” (‘Vocês’ eram os portugueses; não só os que estavam ali, todos, em geral). Segunda: tendo eu dito de alguém “É o último dos imbecis”, brasileiro ao meu lado sugeriu “Não diga último; diga penúltimo. Deixe sempre lugar para um cara.” Rimo-nos todos à mesa quando contei dessa festa, o meu amigo sentiu pulsão interior e exclamou: “Gostava de ir ao Brasil!”. Depois parou, calou-se um instante, reflectiu e acrescentou “Não. O que eu gostava era de já ter ido e de ter gostado.”

 

Achei a formulação excelente, contei-a a várias pessoas e agora, meio século depois, de repente, ocorre-me que é sinal de velhice,  confortada por vida bem vivida, mas velhice. Emoção simétrica à de Fernando Pessoa quando se lembra de momento bom da infância e acrescenta: “Era eu feliz então? Não sei. Fui-o outrora agora.”

 

 

 

 

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Sábado, 4 de Fevereiro de 2017

Garrett, janota ilustre

 

 

 

traje romântico.jpg

 traje masculino - século XIX

 

 

 

 

 

Para em tudo ser grande, este homem singular a quem os seus contempo­râneos chamaram «o divino», como a Pla­tão, foi um dos maiores, senão o maior ele­gante do seu tempo. Poeta do amor, tão belo, que se um dia os Amores descessem à terra fariam o ninho num verso seu; ora­dor tão eloquente, que o seu verbo evocava o daqueles atenienses maravilhosos que, envoltos no seu pálio branco, arrastando as suas sandálias doiradas, discutiam sob os loureiros roxos dos jardins de Academo: diplomata, homem do mundo, grande do ir mo, ministro de Estado — Garrett levou trinta anos de vida a espalhar em volta de si, como braçados de rosas, a elegância, a harmonia, a beleza e a graça. Por onde quer que passasse, a Moda curvava-se diante dele. Ministro na Bélgica, foi tão grande o sucesso pessoal da sua elegância que por toda a parte, nas montras, nos cartazes, nos jornais de Bruxelas aparecem as «capas à Garrett», os «chapéus à Garrett», as «jóias à Garrett». Regressando a Lisboa em 1846, de tal forma o seu tipo inconfundível se impôs, tanto o imitaram e o copiaram, que todos os retratos em miniatura pintados por Guglielmi parecem, pelo talhe das bar­bas, pelo jeito das cabeleiras, peias peque­nas moscas, pelos próprios folhos das cami­sas, o retrato de Garrett. Como Brummell, tudo na sua elegância era simples, mas tudo era perfeito e minucioso. Vestia-se em In­glaterra. Mandava vir de Londres as casa­cas, as meias, os sapatos de baile, as luvas de Jouvin, a libré verde do groom, a suit of clothes com que passeava em Sintra, até os seus assombrosos pijamas matinais de xa­drez branco e vermelho, cuja pantalona afunilava em meia como a dos arlequins. Bulhão Pato descreve o trajo com que ele se apresentava nas Câmaras, o mesmo que usava nas lutas da eloquência e nas entre­vistas de amor: «Casaca verde-bronze com botões de metal amarelo recortado sobre veludo verde; colete branco, deslumbrante, grandes bandas; calça de flor de alecrim; camisa finíssima, encanudada; luvas ama­relas.» Quando tinha de pronunciar algum dos seus monumentais discursos, não es­quecia nenhum pequeno pormenor de ele­gância: ele, que não usava rapé, levava sem­pre consigo uma pequena tabaqueira de ouro para o ajudar nos gestos; e nunca, antes de começar a falar, deixava de esfre­gar as mãos para as fazer mais pálidas. Como a sua nobre figura dominava então a assembleia! Que harmonia de atitudes! Que elegância majestosa, só comparável à de Lamartine! Iluminava-se, crescia, arre­batava. E, entretanto, Garrett não era belo. Garrett lutava com a falta de dotes natu­rais. O milagre da sua elegância foi, sobre­tudo, uma obra de arte, de paciência e de génio. Tudo nele era postiço, desde o es­partilho até ao chinó, desde os dentes até às ancas, desde o chumaço dos ombros até ao bucho das pernas. Quando à noite reco­lhia a casa, depois de um baile ou de uma recepção, desmanchava-se como um puzzle. E o que tem graça, é que era ele o primeiro a rir-se dos ridículos a que o obrigavam, não só os seus defeitos físicos, mas as própria exigências da moda de 1840. Uma noi­te, o criado de quarto de Garrett adoeceu e teve de ser substituído por outro — um pobre rapaz boçal chegado da província. Quando o «divino», quase de madrugada, de calção e meia, regressava de um baile dos marqueses de Viana — o primeiro baile de Lisboa em que apareceram camélias do Japão — foi já o criado novo que, pela pri­meira vez, se apresentou para o despir. — «Começamos pelo chino, percebe?» — disse-lhe Garrett, tirando a cabeleira pos­tiça e enfiando-a na boneca. O pobre rapaz, que nunca tinha visto arrancar os cabelos da cabeça com tanta facilidade, ficou va­rado de espanto. Depois, o poeta tomou um pequeno espelho, abriu a boca, fez saltar a dentadura e deu-a ao criado: — «Tome lá os dentes. Meta-os num copo de água.» O assombro do pobre homem subiu de ponto. Imperturbável, Garrett des­piu a casaca em «busto de abelha», o colete de reflexos de prata, o espartilho, e apon­tou os chumaços das espáduas: — «Tire-me os ombros.» Em seguida, puxou uma ca­deira, assentou-se: — «Agora, tire-me as barrigas das pernas.» O criado, muito pá­lido, coberto de suores frios, teve naquele instante a impressão de que o amo ia desfazer-se todo. (Garrett percebeu, levantou-se, avançou para ele e disse-lhe, olhando-o fixamente: — «Agora, desatarrache-me a cabeça devagarinho.» O pavor do ingénuo provinciano foi tal que abalou pela porta fora e nunca mais ninguém o viu. Este epislódio pinta a figura do poeta muito melhor do que todos os retratos e todas as carica­turas. No fim da vida, no período agudo da paixão pela Ignota Dea das Folhas Caí­das, Garrett esqueceu-se por vezes de que já tinha mais de cinquenta anos e de que nem todas as idades suportam as modas excessivamente audaciosas. Quando sobra­çava a pasta dos Negócios Estrangeiros, apareceu um dia em conselho de ministros com umas extravagantes calças de qua­dradinhos brancos e roxos, que fizeram sensação em Lisboa e que chegaram a despertar receios de natureza política. — «Então, como vão esses negócios da Fa­zenda?» — perguntou o poeta ao seu colega Rodrigo da Fonseca, estendendo-lhe afec­tuosamente a mão. — «Mal, muito mal — respondeu o espirituoso Rodrigo. — Sobre­tudo, os negócios da fazenda das tuas cal­ças. Se tu apareces assim no Parlamento, deitas o governo a terra!» A sua última preocupação foi a de mandar gravar por toda a parte, na baixela de prata, nos sine­tes de uso, nas pedras dos anéis, o seu es­cudo de armas rodeado das insígnias da grã-cruz e bailiado de Malta. A morte, po­rém, que tantas vezes tem piedade do génio, não o deixou ser ridículo por muito tempo. Dois anos depois, o divino Garrett, prín­cipe dos príncipes da elegância portuguesa, rodeado de flores, compondo ainda ao es­pelho a sua última toilette, morria vítima das duas mais terríveis doenças que se conhecem no mundo: a política e o amor. Sem dúvida, foram estes os corifeus da elegância romântica em Portugal — os «in­ternacionais», aqueles cujas jóias e cujas casacas nos fizeram, por um momento, quase tão admirados na Europa do sé­culo XIX, como os coches de D. João V nos tinham feito célebres na Europa do século XVIII. Mas, ao lado destes, quan­tos outros! Quanto janota ilustre fascinou Lisboa, nessa longa parada de elegâncias que ia da plateia de S. Carlos até aos sa­lões da Regaleira, do Marrare de Poli­mento até às alamedas doiradas do Passeio Público! De quantos está ainda fresca a memória, elegantes pragmáticos, devotos fiéis do ritual da Moda, capazes de se dei­xar insultar para não desfazer um só caracol da cabeleira, de se deixar matar para não desmanchar uma só prega das calças! Alguns passam, flagrantes e vivos, diante dos meus olhos.

 

 

Júlio Dantas in O heroísmo, a elegância, o amor*

Edições Roger Delraux

© Maria Isabel Dantas, 1980

 

 

 

* Conferências proferidas no Brasil em 1923 pelo autor, a convite da Academia Brasileira de Letras, por proposta do romancista Coelho Netto:

 

O Heroísmo: O Mosteiro da Batalha

 

A Elegância: Os Elegantes do Romantismo

 

O Amor: Mulheres que Camões amou

 

 

Nota:

 

O meu agradecimento a Manuel Sant'Iago Ribeiro, que me deu a conhecer estas conferências.

 

A imagem é do blog Des bobines et des songes 


 

 

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Sábado, 24 de Setembro de 2016

dicionário pessoal: gerúndio

 

 

 

G letter.png

 

 

 

gerúndio
ge.rún.di.o
forma nominal do verbo, invariável, terminada em -ndo.
(do latim gerundium)

 

 

Os matizes do gerúndio em português prendem-se com o seu uso na forma simples ou na forma composta, dependendo (cá está) da sua posição relativa na frase. Algumas gramáticas, ao descreverem (ou descrevendo…) o emprego desta forma, falam até de «construções afectivas», motivo pelo qual a coisa deveria até estar muito na moda. Mas não. Parece haver uma tendência para preterir o gerúndio em favor de outras soluções que o não contemplem, por exemplo a sua substuição pelo infinitivo antecedido de preposição (exemplo «a cantar»), recuperando (cá está de novo) a ideia de que é uma coisa um pouco provinciana, rústica, ou ainda como forma de desvinculação do português do Brasil, o que só pode ser pura ignorância. Como se a região de Lisboa não constituísse, também ela, uma variante dialectal do português e não a língua sem rebarbas, rebrilhante de tão polida, que alguns dos seus falantes imaginam. Variante em que as noções de progressão indefinida ou de duração estão menos presentes de um modo tão expressivo. Felizmente que à pergunta sobre como vai a nossa vida, podemos responder: cá vai indo.

 

 

 

 

 

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Terça-feira, 30 de Agosto de 2016

Fernando Guedes, editor e homem de cultura

 

 

Untitled-1.jpgFernando Guedes (1929-2016)

 

 

 

 

Ignoro se têm sido muito ou pouco estudadas eventuais afinidades do nosso modernismo com o dos Britânicos, para além da comum recusa do sentimentalismo (mas talvez não a procura radical da despersonalização e do distanciamento, que quase só encontramos em Pessoa; a estética imagista só terá verdadeira expressão portuguesa com Alberto de Lacerda, mas esta poderá ser uma opinião controversa), mas não resisto a chamar a vossa atenção para os conselhos que William Carlos Williams, um outro americano que foi figura de proa do Imagismo, dava à poeta inglesa Denise Levertov, em 1954, repercutindo ainda nesse momento, de forma bastante fiel, o ideário imagista de Pound e Eliot em 1914. Dizia ele: «Corte, e corte de novo, tudo o que escrever — ao mesmo tempo que por obra da sua arte não deixa vestígios dos cortes — e o resultado final ficará repleto do que tem para dizer».

 

O crítico britânico Harold Monro, num livro intitulado Some Contemporary Poets, publicado em 1920, conta a história de um jovem poeta americano recém-chegado dos Estados Unidos que procurou Eliot a fim de lhe mostrar os seus trabalhos. Este, ponderou longamente em silêncio um poema e, erguendo finalmente os olhos, terá dito: «Precisou de 97 palavras para o fazer; eu acho que poderia tê-lo feito em 56». Mas nada disto era novo e os próprios imagistas não se cansavam de o afirmar: «Estes princípios não são uma novidade; caíram em desuso. Eles são o essencial de toda a grande poesia».

 

É claro que estamos no plano estilístico da precisão. Mas creio que poderíamos articular isto, independentemente dos particulares relativos à diferença de contextos, com o que António Ferro — fundador e referência desta Casa — escrevia, em 1919, em Leviana (publicado em 1921):

 

«O excesso de pormenores embrulha a concepção, a intenção. Já que não podemos simplificar a vida, simplifiquemos a literatura. A literatura, como a vida, está atravancada. Há que descongestioná-la: um só quadro numa parede, dois ou três móveis em cada sala. Simplifiquemos! Simplifiquemos! A falta de espaço é cada vez maior. Há que fazer peças com poucas personagens, romances com poucas páginas, telas com poucas tintas. Seleccionar! Seleccionar! Escrever muito é fácil. Escrever pouco é heróico, muitas vezes. Poucos escritores têm essa coragem».

 

Como é sabido, The Waste Land, o poema de Eliot que Fernando Guedes considera o mais visionário do século xx, foi drasticamente reduzido na sua dimensão pela mão de Pound, que na dedicatória de Eliot é justamente designado como il miglior fabbro.

 

***

 

Há muito que Fernando Guedes se interessa por estes dois autores, Eliot e Pound. Poeta, ligado à Távola Redonda, nessas «folhas de poesia», cuja publicação se iniciou em Janeiro de 1950, apresentou e traduziu ambos (possivelmente pela primeira vez entre nós, como ele próprio notou na sessão de apresentação do livro). Eliot fora distinguido com o Nobel em 1948; Pound, internado num hospital psiquiátrico, recebera o Prémio Bollingen, em 1949. Posteriormente, no final da década, Fernando Guedes haveria de dirigir uma outra revista que logo no título – Tempo Presente – evocava Eliot (O tempo presente e o tempo passado/ São ambos presentes talvez no tempo futuro/E o tempo futuro contido no tempo passado) e que no segundo número apresentava traduções de Pound e saudava a sua libertação, ocorrida no ano anterior.

 

Deste modo, o que Fernando Guedes faz nestas quatro comunicações é arrumar de forma condensada o seu próprio percurso de leitor de Eliot e Pound ao longo de décadas e apresentar a sua visão sobre o lugar de cada um deles na poesia do século xx. Partindo de uma perspectiva, que foi antes de mais geracional, de reavaliação da modernidade face à tradição, de indagação estética (o tal percurso partilhado em fraterna amizade com Fernando Lanhas), mas também ideológica na marcação das suas distâncias, Fernando Guedes engloba no seu interesse por estes poetas a dinâmica concisa e complexa da estética imagista, a relação com as artes plásticas, e, muito particularmente, a sua ressonância mítica e religiosa.

 

 

Jorge Colaço

 

Excerto de um texto lido no Círculo Eça de Queirós no dia 4 de Setembro de 2014 a propósito do livro de Fernando Guedes T. S. Eliot e Ezra Pound – uma tentativa de aproximação às suas vidas e às suas obras, publicado nesse mesmo ano.

 

 

O artigo de Jorge Colaço  Na morte de Fernando Guedes (1929-2016)  aqui.

 

Algumas obras de Fernando Guedes disponíveis na Wook aqui

 

 

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 24 de Agosto de 2016

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

 

transatlantic phone call 1927.jpg

Telefonema transatlântico (1927)  

 

 

José Cutileiro.jpg

 

 

 

 

Escrita em dia

 

 

 

“Senhoras analfabetas a porem a escrita em dia” disse para mim mesmo, numa de Alexandre O’Neill, quando as vi as duas ao fundo da Comida de Santo, raparigas do meu tempo, exercitando as mandíbulas mais na conversa do que no feijão preto. Passou-se isto antes do Facebook e da restante variedade das chamadas redes sociais – antes do skype, embora já houvesse telefones (modernice que o Marechal Foch, comandante das forças francesas na Primeira Guerra Mundial, detestava, delegando sempre que possível num ajudante de campo e desejando vivamente o seu desaparecimento em tempo de paz) telefones que permitiam e permitem, valha-nos isso, namorar horas a fio, com fios ou sem fios através do éter, emitindo ou recebendo sopros delicados nas orelhas quando tenha de se julgar em vez de se poder experimentar.

 

Esta estranheza com o que é novo e algum medo dele existiu sempre mas é muito pior do que alguma vez foi (isto é, passou a haver muito mais gente assustada com o progresso do que encantada com o progresso, pelo menos no Velho Mundo) porque, por um lado, o ritmo das mudanças técnicas nunca acelerou tanto quanto agora e, por outro lado, também graças a esse ritmo, tudo se sabe in real time (como há quem goste de dizer nestes nossos dias em vez de dizer ‘no mesmo momento’ ou ‘na mesma altura’). Dantes não era assim: a batalha de Waterloo que fixou por quase um século o destino da Europa, derrotando Napoleão e reforçando o poder da Inglaterra e dos alemães, foi travada um pouco ao sul de Bruxelas entre o nascer e o pôr-do-sol do dia 18 de Junho de 1815 mas o resultado dela, levado por estafeta que ia mudando de cavalos – com o Canal da Mancha de permeio - só foi conhecido em Londres quatro dias depois. Washington Irving, romancista americano do século XIX escreveu um conto que ficou célebre, apareceu em antologias, foi ensinado em cursos de literatura, traduzido em dezenas de línguas e se chamava O homem que dormiu vinte anos. O herói, para lhe chamar assim, dormira efectivamente duas décadas e, depois de acordar na mesma cama, encontrara ao levantar-se, no dia-a-dia restabelecido, muitas coisas novas que nunca conhecera antes e muito o perturbavam. Tenho-me lembrado dele mas pensando que, pelo andar da carruagem, daqui a quinze ou vinte anos, outro ficcionista americano dotado poderá publicar novo best-seller sob o nome “O homem que dormiu vinte minutos”.

 

Muito do que se passa agora nas tecnologias de ponta é inédito: entra na categoria das novidades absolutas mas mudanças vertiginosas de outra natureza já várias vezes assustaram gente. Por exemplo, inflações galopantes, de que a alemã dos anos 20 por ajudar à subida de Hitler ao poder ficou célebre, deram quotidianos bizarros. Amiga exilada no Brasil em 1975, no supermercado punha-se à frente do empregado que ia aumentado os preços de uma ponta à outra da loja e teve uma criada que comprava cuecas pagando em dez prestações porque assim lhe saíam muito mais baratas. 

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 4 de Maio de 2016

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

GUILLAUMET Henri1.jpg

 o avião de Henri Guillaumet

 

 

 

 

José Cutileiro.jpg

 

 

 

Mar Morto e cavalinhos

 

 

 

Começo a escrever ao meio-dia da Quinta-Feira 28 de Abril. Quando a leitora me ler, a Vera, minha senhoria e decoradora de interiores na net (com o bloco aninhado no seu blog, as ilustrações são propostas por ela), terá saído da Portela na madrugada de Sábado para estar ao fim do dia na Jordânia, mais precisamente numa margem do Mar Morto, a interpretar em conferência de ONG dedicada a crianças e famílias, ficando por lá até ao próximo Sábado. Poderia, mesmo assim, ter posto o bloco no blog no começo da semana mas havia preferido que eu lhe mandasse o texto antes de partir porque, technologically challenged fora de casa, só com a malinha dos pertences, talvez não conseguisse encontrar boneco apropriado. Respondi-lhe que sem horas de fecho estritas me era muito mais difícil escrever para qualquer publicação, que o desafio me agradava e que ela poderia contar comigo.

 

Pensei na tarefa e prefigurei a táctica. Decidi antecipar trabalho no morto a publicar no Expresso de Sábado e, com efeito, acabei de o escrever ontem e mandei-o esta manhã (28) com mais de 24 horas de avanço sobre a deadline afim de ficar à vontade ao redigir o bloco. Lembrei-me de Guillaumet, aviador colega e amigo de Saint-Exupéry, cujo avião-correio caíra nos Andes deixando-o ileso mas sozinho na neve, sem comunicações. Cá em baixo deram-no por perdido mas três dias depois encontrou gente e foi salvo, para grande alegria de todos, exausto mas feliz. “Ce que j’ai fait, je te le dis, jamais aucune bête ne l’aurait fait!” declarou. Sabia que se parasse para descansar se deixaria dormir na neve e nunca mais acordaria; por isso não parara de andar. Era homem novo, os pilotos têm treino físico muito exigente mas, francês de nascimento e formação, fora o que entendia ser um triunfo do espírito sobre a matéria que lhe deslumbrara a mente. N’est pas français qui veut. Sendo o homosapiens o único animal com capacidade cerebral para o cálculo que Guillaumet fizera no cimo dos Andes, tinha provavelmente razão. Como eu tive ao avançar esta semana para Quarta-Feira a escrita do In Memoriam.

 

Un soneto me manda hacer Violante começou famosamente Lope de Vega, enfiando considerações sobre a arte do soneto em geral e o método da feitura daquele soneto em particular para rematar no 14º verso: contad si son catorce, y está hecho! mas eu estou ainda em 2.310 batidas – com espaços - faltando-me por isso 690 e não me parece que seja por aqui que o gato irá às filhoses. Mas uns versos puxam por outros e com o estado em que a Europa se apresenta agora, a rebolar para o fascismo, vem-me à cabeça Manuel Bandeira, no Jockey Club do Rio de Janeiro, em 1936:

 

Os cavalinhos correndo,                                                                                                          

E nós, cavalões, comendo.                                                                                                        

A Itália falando grosso,                                                                                                          

A Europa se avacalhando.

 

Cavalinhos, cavalões, o refrão vai-se repetindo, a beleza de Esmeralda faz esquecer Mussolini e outros males do mundo, enlouquecendo o poeta, tudo como deve ser, porque Manuel Bandeira sofria daquilo que o António Alçada achava ser também maleita minha: a mania de viver em epopeia amorosa.

 

Por razões técnicas longas de explicar a contagem de batidas neste texto não é evidente mas palpita-me estar pelas 3.000. Até Quarta-Feira que vem.

 

 

 

 

publicado por VF às 08:00
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Quarta-feira, 3 de Junho de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

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Europa, filha do rei de Tyr, raptada por Zeus 

 

 

 

 

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Irmãs da namorada de Zeus

 

 

 

Há anos, no Itamaraty, perguntei a diplomata brasileiro como era o Paraguai. “É assim como o México” respondeu ele “mas, como não mudam de 7 em 7 anos, roubam menos”. Era o presidente que não mudava; pouco tempo depois o ditador Stroessner foi corrido – para exílio no Brasil – pelo que hão de ter passado a roubar mais. Mas o pior não é isso: há mês e meio, miúda de dez anos, grávida depois de violada pelo padrasto, foi levada ao hospital pela mãe pedindo que a fizessem abortar. As autoridades, espaldeadas pela igreja católica, disseram que não (prendendo a mãe como cúmplice). Em vários outros países da América Latina, as gravidezes juvenis também são muito mais frequentes do que na Europa e mais difíceis de prevenir por uma mistura de ignorância, machismo e doutrina católica.

 

Passando para outra das irmãs da namorada de Zeus e para outros desmandos: na sexta-feira passada, federações nacionais de futebol, sobretudo de África, votaram sem hesitação para renovar o mandato de Sepp Blatter à frente da FIFA, apesar de indignação de muitos entendidos e de outras federações. (Michel Platini, presidente da europeia, exortou publicamente Blatter a não se recandidatar). Como a investigação de crimes graves veio do FBI, esboça-se movimento para caracterizar o caso como expressão de imperialismo americano atrabiliário contra costumes, diferentes mas honrados, de gente menos rica e menos forte por esse mundo fora.

 

Um que logo se manifestou nesse sentido, alto e bom som, foi Vladimir Putin que, de súcia com o alto clero da igreja ortodoxa, continua a restringir cada vez mais as liberdades na Rússia – no rosário de repressões: há dias fundações que recebam dinheiro do estrangeiro foram consideradas inimigas da nação e do estado – para consolidar a sua cleptocracia; deverá saber ou suspeitar de trafulhices na escolha do seu país para acolher mundial de futebol e verá também oportunidade de reforçar a sua excelente imagem interna, fomentada por controle quase total de jornais, telefonias e televisões e por serviço de segurança levado ao nível do KGB.

 

O que me levou a outra irmã da Europa, a Ásia, de que a Rússia também faz parte embora não esgote, muito longe disso, as malevolências dela. Igualmente em notícias dos últimos dias, encontramos emigrantes, refugiados de tentativas de genocídio, postos à deriva no alto-mar com promessas de nova vida sem que países que os poderiam ajudar mexam um dedo para tal fazer, da Tailândia à Austrália (esta já na Oceânia, última irmã de Europa). Assim escancarada, a indiferença pelo próximo nesses países não encontra termos de comparação na Europa de hoje. Entretanto, sobre a terra e sobre o mar dessa parte do mundo, acena a presença totalitária e impiedosa da China.

 

No começo e no fim do dia, lembremo-nos da sorte que tivemos em nos ter calhado a filha do Rei de Tyr, raptada por Zeus (disfarçado de touro para escapar à vigilância ciumenta da mulher – o Mediterrâneo mudou pouco).

 

 

 

 

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Quarta-feira, 20 de Agosto de 2014

Os Dias e os Anos

 

 

 

 

Vasco Luís Futscher Pereira

3 de Fevereiro de 1922 — 20 de Agosto de 1984

 

 

 

Brasília, 10 de Agosto [1974]

 

Almoço com o Vasco Futscher no Clube Naval.

 

Rosto glabro e redondo e olhar de sapo por detrás duns óculos onde palpita viva e ágil a retina bombeada do míope. Grande falador de riso fácil e de uma extrema simpatia natural. Tudo lhe desperta curiosidade.

 

Ostenta um instintivo gosto pela vida alimentado, ao contrário de muitos, pela cultura e a inteligência. Uma ponta de obesidade confere-lhe uma certa inteireza física acentuando-lhe a espontânea jovialidade. Quando sorri, e sorri com frequência, as bochechas sobressaem à maneira dum boneco animado, arredondando-lhe a face e a expressão reboluda do olhar.

 

A primeira impressão é a de que não poderia ter havido melhor escolha. Calhado para o Brasil, como outros o são para a Finlândia ou a Indonésia. O Brasil, que não conhece, surge-lhe como uma experiência inteiramente nova que ainda o anima e seduz, pois é homem, se não me engano, de entusiasmos repentinos.

 

Diz-me, no entanto, ter ficado horrorizado com o que lhe contou o Castelinho1, com quem jantou há dias, acerca da intensidade e polivalência aqui da repressão política a cargo simultaneamente de diversos organismos, que agem por conta própria, cada um dis­pondo de sua gente e actuando por sua iniciativa.

 

[...]

 

Voltando ao Brasil, falei-lhe da relação essencialmente freudiana que ainda hoje liga - ou separa? - o Brasil e Portugal. Quem teimar em encarar este país com o olhar peregrino do portuga, e não perceber a ambiguidade de sentimentos que o brasileiro nutre para connosco, arrisca-se a cometer grossa asneira e a nada entender desta terra e desta gente.

 

Na verdade, nada mais ilusório do que partir do princípio de que a matriz lusíada, por si só, será suficiente para preservar os laços da tão apregoada comunidade luso-brasileira.

 

[...]

 

O embaixador limitou-se a ouvir-me e apenas citou, como prova do contrário, dois exemplos: o caso do Estado de São Pauloe a proliferação de clubes Eça de Queirós disseminados por todo o Brasil. «Veja só o imenso capital de simpatia que isso representa para connosco se o soubermos aproveitar com um mínimo de in­teligência.»

 

Levantou-se — já não sei que horas eram... e quantos cafés ha­víamos ingurgitado — e com um sorriso paternal, pousando-me a mão no ombro: «Deixe lá, homem, não se preocupe, não seja tão pessimista, ainda há por aí muito caturra que gosta de nós.»

 

 

Marcello Duarte Mathias

in Os Dias e Os Anos

© D. Quixote 2010

 

 

1.Carlos Castelo Branco, mais conhecido por Castelinho, ao tempo influente editorialista do Jornal do Brasil.

 

2. Nessa altura, o Estado de São Paulo um dos jornais mais prestigiados, inseria em substi­tuição das partes censuradas, consoante a maior ou menor extensão das mesmas, extrac­tos de Os Lusíadas, assinalando assim os cortes de que era objecto.

 

 

Foto: Francisco Silva Fernandes

 

publicado por VF às 00:03
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