Caminhadas na Serra de Sintra aqui
Se o verniz estalar?
Vai para três meses que dei pelos portugueses – ou, pelo menos, os alfacinhas e gentes de seus arredores, outrora saloiada entalada entre mouros e cristãos – contentes, pela primeira vez na minha vida, ao reencontrá-los vindo de fora. E tenho experiência disso: a primeira vez que os reencontrei vindo do estrangeiro tinha dezassete anos; hoje tenho oitenta e quatro e, tirante entre os dezoito e os vinte e oito, quando saí pouco, não tenho deixado de o fazer ano nenhum, amiúde várias vezes por ano. E as reacções não mudaram – ‘Então?’ ‘Estou pior, pá!’; ‘Tudo bem?’ ‘Que remédio…’; Les portugueux sont toujours gueux (Alexandre O’Neill dixit) – durante sessenta e sete anos, desde desembarque de Madrid, achando o Diário de Notícias lido no avião da TAP pessimamente escrito – por razões longas de enumerar tinha estado longe de Portugal nove meses, só levara livros bons comigo e, nessa altura, longe era longe e não vira nenhum jornal lusitano – as pessoas na rua vestidas como se fossem para um casamento e toda a gente com cara de enterro. Essa tristeza iria acompanhar-me seis décadas, sempre que voltava a pôr pé na Pátria.
Tudo mudou nesta Primavera, a começar pela tripulação da TAP que me trouxe a Lisboa, gente nova e bem disposta, sem sequer lamúrias quanto à decadência da companhia (e à situação aberrante, acrescento eu, de ainda agora ser ainda um bocadinho da leitora e um bocadinho minha). E outros e outras a ela se seguiram, prestáveis, divertidos, afirmando o seu sotaque entre o dos brasileiros e brasileiras circundantes. É claro que há muitos turistas e também grande quantidade de reformados sobretudo, ao que me dizem, de franceses a quem são dadas aqui condições fiscais bem favoráveis (e porque não? Quando grandes empresas nossas estão sediadas fiscalmente nos Países Baixos e no Luxemburgo em vez de pagarem os seus impostos na ocidental praia lusitana, acho bem que o nosso fisco faça o que possa para trazer para aqui algum dinheiro ganho alhures). Até agora tudo bem – ou so far so good como, por enquanto, quem quiser pode ainda dizer em Hong-Kong sem apanhar com mangueirada de água ou ser despachado para a China a toque de caixa.
Mas será que vai durar? Apesar de altos e baixos damos uns novecentos anos de garantia que é muito mais do que o geral dos estados membros das Nações Unidas seriam capazes de fazer. Mas há costumes e maneiras que parecem escondidos agora e poderão reaparecer, impôr-se de um momento para o outro – e está o caldo entornado. O hábito de aldrabar como se fosse a coisa mais natural do mundo (e entre muitos de nós é capaz de ser…). Por exemplo, a naturalidade com que médicos passam atestados falsos para justificarem segundas chamadas. As perenes cunhas para tudo. São teimas antigas: em 1934, quando o meu Pai, finalista de Medicina, fez exame de Obstetrícia, a primeira coisa que o professor lhe perguntou foi: «O Senhor não tem vergonha de vir fazer exame sem uma recomendaçãozinha?»
míssil hipersónico norte-americano
Guerras
Leio no jornal que americanos, russos e chineses trabalham em mísseis hipersónicos capazes de viajar a mais de 15 vezes a velocidade do som, de atingir num quarto de hora alvos russos ou chineses se forem americanos (ou americanos se forem russos ou chineses), levando cargas explosivas e podendo perfurar as paredes mais resistentes de abrigos atómicos subterrâneos ou as couraças de porta-aviões americanos. Leio também que, ao contrário do que acontecera a partir de certa altura durante a guerra fria, não há conversas entre os protagonistas para criar regras de protecção mútua que ajudassem a lidar com acidentes ou mal-entendidos. Nesse como em qualquer género de armamento, os americanos de Trump não estão interessados em nada que cheire a prevenção e os outros tampouco insistem.
«Messieurs les anglais tirez les premiers» disse o tenente Conde de Auteroche na manhã de 11 de Maio de 1745, durante a guerra da sucessão da Áustria quando franceses e ingleses, com aliados vários, (ao todo 47.000 homens de um lado e 51.000 do outro) apoiavam pretendentes diferentes, assim dando começo à batalha de Fontenoy, no que eram então os Países Baixos austríacos e é hoje a Valónia, na Bélgica. Nessa altura e até à Revolução Francesa (e, a seguir, à explosão dos nacionalismos) as guerras eram o grande desporto da fidalguia. Auteroche convidou os ingleses a atirarem primeiro como quem, num jogo de ténis entre amadores, convide a bolar primeiro quem o defronte do outro lado da rede. Escrevendo poucas décadas depois, o Príncipe de Ligne diz que o seu maior desgosto fora a morte do filho, decapitado por tiro de canhão do exército revolucionário francês. Conta da relação estreitada por terem combatido juntos, de como chegara a pensar que seria bom serem feridos ao mesmo tempo. Já no começo do fim desse mundo, Napoleão Bonaparte lembrou que a coragem (física) é a única virtude que não se pode imitar. As ruas das cidades europeias estão cheias de nomes de batalhas ganhas - e de quem as ganhou – para não as deixar sair da memória colectiva.
A guerra é tão antiga quanto a humanidade (recente, e não sei se duradoura, é a paz); houve, na Europa e alhures, além da fidalga e da nuclear, outras maneiras de a fazer, e haverá mais no futuro sob formas que talvez nem imaginemos. Vivemos, seja como for, em tempo muito especial: toda a gente fala da brecha aberta entre as elites e o resto. Salvo em páginas de Madame de Staël que deu por divórcio assim em Paris, no começo da Revolução Francesa, não há memória de coisa parecida na história que conhecemos. Talvez a razão seja a mesma: explosões gigantescas de liberdade, a exigirem outros costumes. (Em 1917 na Rússia não chegou a haver liberdade: Os lagartos mudam de pele/Para salvar o coração./Nós mudamos de coração/Para salvar a pele escreveu poeta local coevo, prontamente executado).
Dito isto: 1 Não há nada mais parecido com a França de Versailles do que a França do Eliseu. 2 E os mísseis hipersónicos?
Batalha de Waterloo
Viagem na minha terra
Nota introdutória Este título ignora que a Vera tem relação especial com os escritos do autor de Frei Luís de Sousa. Desencantou em casa manuscritos dele que acrescentam ao espólio do homem que inventou o português que nós falamos. Sem Garrett antes, Eça não poderia ter encantado tanto tantos de nós nem haveria porventura, no pior dos casos, passado do janota do Porto que o meu chorado amigo Carlos Leal insistia erradamente em desprezar nele. Vá lá saber-se. Por mim devo confessar que Camilo (Castelo Branco) – é com ele que a comparação era feita em serões de província, alguns ainda iluminados a petróleo – me fascina às vezes – o fim de A Sorte em Preto, por exemplo, é uma pequena joia – mas que, na maior parte das vezes, me aborrece. Garrett e depois dele, mais ainda, Eça, purificaram o dialecto da tribo, expressão de Mallarmé que T. S. Eliot tirou do esquecimento ao metê-la na língua franca dos nossos dias. Entretanto, deste lado do mar não tivemos James Joyce, Marcel Proust ou Graciliano Ramos. O Zé Cardoso Pires foi o que mais perto dessa limpeza andou, sobretudo em Lisboa livro de bordo.
Adiante. Estou sentado com a Myriam, que empurrara a cadeira de rodas pela manga abaixo, na segunda fila. As cadeiras são as mesmas e são poucochinho – no Alvar Aalto here – bengaleiros para casacos há muito desapareceram, viajamos assim como que em versão formicada e voadora de antiga camioneta para Sintra da Eduardo Jorge. Faltam bilhas de água de Caneças que dariam toque ecológico, sempre benvindo por estrangeiros mais ricos do que nós. Por outro lado, com louvável empenho cultural e alguma consciência do país que servem – não esquecer que o dia nacional de Portugal é o dia da morte do nosso maior poeta (e não, como acontece com outros, o de uma batalha ganha ou perdida ou, pior ainda, o da tomada sangrenta, por multidão armada, de cadeia para fidalgos tarados) – os dirigentes da TAP dão a cada um dos seus grandes aviões de passageiros o nome de uma ou um grande artista português, julgo que quase sempre das letras, e ontem calhou-me um chamado José Saramago. Infelizmente, porém, eu não gostava do homem nem gosto dos escritos dele.
Parado com as rodas quietas e firmes no plancher des vaches, como diria médico sábio meu amigo, o avião ia deixando entrar pessoas, muitas desejosas do sol de Portugal (que não haveria desta vez). Um homem mais bem vestido do que os outros, de barba cuidada, riu-se para nós e parou de pé contra a fila da frente. Era o Bernardo, irmão da Vera, vindo de reunião europeia, onde os participantes agora, com ingleses nem cá nem lá e eurocépticos à frente das sondagens eleitorais se sentem como Fabrice em Waterloo, sem perceberem como está a correr a batalha.
Quando todos se sentaram vi que o Bernardo, na fila atrás da nossa, ia já em economia. Eu julgara que se tivesse acabado com essa pelintrice do tempo de Passos Coelho mas não: alinhar por baixo continua a ser a regra. Coitado do país.
António Guterres, secretário geral da ONU
O Circo da ONU
Tenho fraca opinião das Nações Unidas embora lhe reconheça algumas vantagens, que pude medir pela primeira vez no Cairo, onde o Superconstellation fizera escala ao começo da noite, voando de Genebra para Bombaim em Janeiro de 1952. A altura era especial: o General Naguib tinha tomado o poder, levando o país a caminho do Terceiro Mundo (depois de correr com ele, o seu sucessor, Nasser, juntamente com o Pandita Nehru e o jugoslavo Tito – que viriam os três a morrer fiéis ao posto, de morte natural e cercados de acólitos – iriam criar o Movimento dos Não-Alinhados) forçando o Rei Faruk, deposto e exilado, a contribuir pessoalmente para a plausibilidade de vaticínio seu: daí a cinquenta anos só haveria cinco reis no mundo, o Rei de Espadas, o Rei de Paus, o Rei de Ouros, o Rei de Copas e o Rei de Inglaterra. (Voltei a passar no Cairo, daí a pouco mais de seis meses, tinha Naguib sido deposto. Mas a memória mais exótica dessa escala foi outra: ao pequeno-almoço no restaurante do terminal, servido por criados de fez encarnado, se se pedia bacon & eggs vinham sempre três ovos com o bacon. Nunca me acontecera antes nem aconteceu depois, em nenhum lugar do mundo).
Nós viajávamos com laissez passer das Nações Unidas porque o Pai trabalhava para a Organização Mundial da Saúde. No mesmo avião vinham duas enfermeiras inglesas de meia-idade, também funcionárias da OMS, que insistiram em se fazer identificar pelos seus passaportes britânicos, válidos e legais no Egipto – e desde há mais de um século impositores de ordem, respeito e eventual subserviência desde o Suez até Pequim. Mas as autoridades fronteiriças do Egipto agora ao serviço de Naguib – nem imagino como terá sido quando passaram a servir Nasser – fingiam não perceber a insistência das Misses e, sabendo que estas viajavam pela OMS, exigiam os laissez-passer da ONU, para eles organização acima de todas as outras no mundo, subalternizando assim os British Passports emitidos por agentes de Sua Majestade Britânica - propósito evidente e inflexível da sua diligência. As enfermeiras a certa altura perceberam que não as deixariam seguir para a Índia, submeteram a razão ao bom senso, e seguiram para Bombaim indignadas.
Passados 34 anos, na minha primeira ida à ONU em Nova Iorque, pego à chegada no New York Times, vejo na primeira página artigo sobre a Assembleia Geral que começava e, no segundo parágrafo, leio “Diz António Monteiro, de Portugal: é psicoterapia de grupo para o mundo”. Ele não era ainda embaixador mas diplomata na nossa Missão – e nunca esqueci essa maneira de explicar a utilidade do ritual. Outro momento a não esquecer, 8 anos mais tarde. Nos 50 anos da Organização, o Fernando Andresen, embaixador em Washington e eu, secretário-geral da UEO, entrávamos às 9 da manhã no grande anfiteatro cheio de convidados. “Tu põe-te a pau” disse ele sem olhar para mim. “A maioria desta malta é estrangeira”.
Quem não seja burro de todo também aprende com os mais novos.
o avião de Henri Guillaumet
Mar Morto e cavalinhos
Começo a escrever ao meio-dia da Quinta-Feira 28 de Abril. Quando a leitora me ler, a Vera, minha senhoria e decoradora de interiores na net (com o bloco aninhado no seu blog, as ilustrações são propostas por ela), terá saído da Portela na madrugada de Sábado para estar ao fim do dia na Jordânia, mais precisamente numa margem do Mar Morto, a interpretar em conferência de ONG dedicada a crianças e famílias, ficando por lá até ao próximo Sábado. Poderia, mesmo assim, ter posto o bloco no blog no começo da semana mas havia preferido que eu lhe mandasse o texto antes de partir porque, technologically challenged fora de casa, só com a malinha dos pertences, talvez não conseguisse encontrar boneco apropriado. Respondi-lhe que sem horas de fecho estritas me era muito mais difícil escrever para qualquer publicação, que o desafio me agradava e que ela poderia contar comigo.
Pensei na tarefa e prefigurei a táctica. Decidi antecipar trabalho no morto a publicar no Expresso de Sábado e, com efeito, acabei de o escrever ontem e mandei-o esta manhã (28) com mais de 24 horas de avanço sobre a deadline afim de ficar à vontade ao redigir o bloco. Lembrei-me de Guillaumet, aviador colega e amigo de Saint-Exupéry, cujo avião-correio caíra nos Andes deixando-o ileso mas sozinho na neve, sem comunicações. Cá em baixo deram-no por perdido mas três dias depois encontrou gente e foi salvo, para grande alegria de todos, exausto mas feliz. “Ce que j’ai fait, je te le dis, jamais aucune bête ne l’aurait fait!” declarou. Sabia que se parasse para descansar se deixaria dormir na neve e nunca mais acordaria; por isso não parara de andar. Era homem novo, os pilotos têm treino físico muito exigente mas, francês de nascimento e formação, fora o que entendia ser um triunfo do espírito sobre a matéria que lhe deslumbrara a mente. N’est pas français qui veut. Sendo o homosapiens o único animal com capacidade cerebral para o cálculo que Guillaumet fizera no cimo dos Andes, tinha provavelmente razão. Como eu tive ao avançar esta semana para Quarta-Feira a escrita do In Memoriam.
Un soneto me manda hacer Violante começou famosamente Lope de Vega, enfiando considerações sobre a arte do soneto em geral e o método da feitura daquele soneto em particular para rematar no 14º verso: contad si son catorce, y está hecho! mas eu estou ainda em 2.310 batidas – com espaços - faltando-me por isso 690 e não me parece que seja por aqui que o gato irá às filhoses. Mas uns versos puxam por outros e com o estado em que a Europa se apresenta agora, a rebolar para o fascismo, vem-me à cabeça Manuel Bandeira, no Jockey Club do Rio de Janeiro, em 1936:
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo.
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando.
Cavalinhos, cavalões, o refrão vai-se repetindo, a beleza de Esmeralda faz esquecer Mussolini e outros males do mundo, enlouquecendo o poeta, tudo como deve ser, porque Manuel Bandeira sofria daquilo que o António Alçada achava ser também maleita minha: a mania de viver em epopeia amorosa.
Por razões técnicas longas de explicar a contagem de batidas neste texto não é evidente mas palpita-me estar pelas 3.000. Até Quarta-Feira que vem.
By 1962, Portugal started to get over the 1961 scare, and Adriano Moreira, Minister for the Ultramar, was working on the Lei Orgânica do Ultramar, which was to lead to the creation of a Common Market for the Portuguese territories. Work was also being done on the Statute for the Indigenous People, which was to grant them more rights.
Governor Deslandes (1) ran up against friction with Lisbon, where people felt that he wanted to govern in too autonomous a fashion.
Governor Venâncio Augusto Deslandes and Andries Pieter van der Graaf
Economic activity took off. In Portugal itself there was now far more interest in Angola's economic potential, and in the following years many government projects were started, such as building roads, airports, schools, hospitals, and so forth. The government also became interested in oil production and iron-ore mining. Industry, fisheries, and tourism all began to be given more attention.
Loading lorry Casa Holandesa/Zuid Afrikaans Handelshuis (ZAH)
Coffee exports got going again, and some years later production reached around 200.000 tons. The services of the Instituto do Café (formerly Junta do Café) were improved, and it became an institution guaranteeing the quality of exported coffee.
Fazenda Sofia, Cuanza-Sul
Sociedade Agrícola e Comercial Luís Henriques Moutinho S.A.R.L.
Cuanza-Sul (1910-1975)
Fazenda Sofia, Angola (2)
Commercial banks in Portugal also began to show an interest. Up until then, the Banco de Angola, as both issuer and commercial bank, held the monopoly. However, with the arrival of the Banco Comercial de Angola came an influx of Portuguese banks, followed by the English/Portuguese Banco Totta Standard de Angola.
In the meantime, Cabinda underwent a great change. The days when people called for the taxi (as there was only one) instead of a taxi, were over. Banks, shipping companies, and trading companies became established there. With the expansion of oil exploration, terrorist activities tailed off in that area. The interior of Cabinda, a tropical wilderness with various hard woods, including mahogany, was also once again accessible. From time to time the border between Cabinda and Congo was closed off due to political disturbances, but a lively smuggling business continued across the border, making Cabinda a good market for all sorts of products, and our travelling salesmen therefore sold a lot.
In the northern coffee regions, the terrorists were able to stand firm, though practically all the connecting roads were in Portuguese hands. Even on these roads, attacks took place on troop columns and convoys. To reach Carmona, in the centre of the coffee production area, the detour via Vila Salazar was still used.
Carmona, Angola
Travel in the interior became progressively safer, and faster with the new asphalt roads. The asphalt road Luanda-Dondo-Quibala-Nova Lisboa-Lobito was completed, and links between Luanda and Lobito (600 km), and Luanda and Nova Lisboa (700 km) were excellent. Moçamedes got a railway link to the iron-ore mines, which had been almost completely taken over by the government. Railway equipment was delivered by Krupp, against payment in iron-ore deliveries over a number of years. A modern ore transfer harbour was built in Moçamedes.
In the meantime, disturbances were felt from Zambia, meaning that the eastern border areas to the north and south of the Benguela railway became dangerous. The eastern districts were very suited to terrorist activities: they were far away (some of them were called "terras do fim do mundo" (lands at the end of the world) and rich in cattle, especially red buffalo (pacaça) and various types of antelope. "Aldeamentos" (native housing regroupings) were set up in these areas in order to provide some protection for the population. The capitals remained accessible by Fokker Friendship or other airplanes.
A DTA Fokker F-27-200 at Benguela Airport in 1965.
* * *
On November 13, 1968, we received the longest telegram we had ever had in Luanda, with news of the merger between ZAH and CTC (Curaçao Trading Company, later Ceteco).
This was a completely unexpected development, and everyone was stunned. The Dutch staff was split in its opinion on the matter, the Portuguese as a whole were negative (the Portuguese version of "rather the devil you know, than the devil you don't" came up again and again), and I had my hands full trying to get everyone to see things from the bright side; after all, you never know what a good Portuguese worker will do when beset by doubts. Convincing some exceptionally good people to stay with the company, when they received offers from other companies, had been a constant concern before, and this might well have been "the last straw." But there were no mishaps.
A period of adjustment and new initiatives began, which it was interesting to be involved in. End January 1971 I handed business administration in Angola over to Mr. de Groot.
Farewell dinner. From left: De Groot, D. Augusta Neves e Sousa, A.P. van der Graaf and others.
It was a pleasure for me to be able to hand over a good, profitable business, with a staff that undoubtedly still had a lot of untapped potential. It is with great pleasure that I think back to the times when we worked together.
ZAH Luanda office staff, with A.P. van der Graaf (front row, 4th from the right), his wife Joyce, and Chargois (HQ)
Knighted by Queen Juliana (Ridder in de Orde van Oranje-Nassau)
23 April 1968
Andries Pieter van der Graaf Jan/Feb 1974
Translated by Elizabeth Davies (van der Graaf) 2012
Andries Pieter van der Graaf and daughter Elizabeth (Betty), Angola 1968
Many thanks to Elizabeth Davies (van der Graaf) and her family for allowing me to adapt the text and to illustrate it by using photos from the family's collection.
Muito agradeço a Elizabeth Davies e sua família que autorizaram gentilmente a edição do texto para publicação neste blog e cederam fotografias do espólio do autor.
Full text:
The memoir of Andries Pieter van der Graaf is in two parts: Part 1 (written in English) starts in 1909 with his birth, and provides a vivid description of his early life in Krimpen aan de Lek, a small community near Rotterdam; of the effects of the Depression on the family; and of his experiences during the war. In Part 2 (written in Dutch, translation into English provided), he takes us from his first day in Angola, through his years learning how to run a Dutch trading company in Angola in colonial times, to his fascination with Angola and its peoples.
www.asclibrary.nl/docs/341/217/341217840.pdf
http://www.asclibrary.nl/docs/341220647.htm
Links to previous posts in this blog:
My Years in Angola (1950-1970)
Link to photo album "Vintage Angola" on Flickr:
https://www.flickr.com/photos/vfutscher/sets/
Notes:
1.
Venâncio Augusto Deslandes (1909 - 1985)
Not to be confused with his ancestor of the same name (V.A.D. 1829-1909) referred to several times in this blog.
Venâncio Augusto Deslandes (1909- 1985), Air Force General, Ambassador to Spain, Governor-General and Commander-in-Chief of the Armed Forces of Angola, Chief of Defence Staff.
General Deslandes took office while the UPA* terrorism crisis continued to devastate northern Angola. Once the situation was under control, and all the north reoccupied, General Deslandes launched a vast development plan for Angola, which included the creation of a university in Luanda. This initiative and the success of his administration met with strong resistance from the Minister of the Overseas, Adriano Moreira, who soon removed him from office. (In Memória da Nação and Wikipédia, excerpt translated by Elizabeth Davies)
*UPA – União dos Povos de Angola, founded in 1959, by Holden Roberto.
More on General Venâncio A. Deslandes in Memória de África
Venâncio Augusto Deslandes (1909 - 1985)
A não confundir com o seu antepassado do mesmo nome (V.A.D. 1829-1909) várias vezes referido neste blog.
Venâncio Augusto Deslandes (1909-1985) General da Força Aérea, Embaixador em Espanha, Governador Geral e Comandante-Chefe das FA de Angola, Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas.
O General Deslandes assumiu funções quando o terrorismo da UPA* assolava ainda o Norte de Angola. Controlada a situação, e concluída a reocupação de todo o Norte, o General Deslandes lançou um vasto plano de fomento para Angola que incluia a criação de uma Universidade em Luanda. O sucesso da sua administração e a sua iniciativa encontraram forte resistência no Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, que rapidamente o demitiu. (Fontes: Memória da Nação e Wikipédia)
*UPA – União dos Povos de Angola, fundada em 1959, por Holden Roberto.
Mais sobre o General Venâncio A. Deslandes em Memória de África
2.
Photos
Fazenda Sofia: Many thanks to Sofia and Fernando Luís Plácido de Abreu.
Carmona: cc3413.wordpress.com
DTA Folker: http://en.wikipedia.org/wiki/TAAG_Angola_Airlines
Cemitério de vítimas do Gulag em Vorkuta, Rússia.
Quaresma
Sábado, 28 - Entre cornflakes e café, folheio o International New York Times e leio, ao fundo da página 5, que no quadro do desastre de avião que matou o Presidente Lech Kaczynski e mais 95 altas figuras do estado que viajavam com ele, na Rússia ocidental, em 2010, procurador militar polaco acusou ontem 2 controladores aéreos russos. Depois de quase 5 anos de investigação, um dos controladores, de responsabilidade directa pelo desastre; o outro de responsabilidade indirecta. Poderão ser condenados a 8 anos de prisão. Todavia, acrescentou o coronel procurador, a causa mais imediata do desastre fora a falta de treino e o comportamento negligente da tripulação polaca que havia feito descer demais o avião abaixo do nevoeiro e ignorara sinal automático para retomar altitude. Tripulação que não estava autorizada a conduzir o avião presidencial.
As revelações do procurador militar foram logo aproveitadas pelo partido conservador Lei e Justiça, maior partido de oposição polaco, fundado pelo falecido presidente e por seu irmão gémeo Jaroslaw, antigo primeiro-ministro, que tem sustentado sempre que o presidente foi assassinado, possivelmente pelos russos, e acredita também que o governo de Donald Tusk (agora Presidente do Conselho Europeu) ajudou a encobrir os factos. Antoni Macierewicz, um dos barões do partido acusou os investigadores de “desencaminharem o público” e disse que o desastre fora causado por explosão misteriosa a bordo. A Rússia ainda não devolveu os restos do avião, apesar de repetidas insistências polacas.
Tragédias, intrigas, mistérios em curso bem como muitas opiniões sábias – que se passaria na cabeça do copiloto de Germanwings?; ditos, reditos e desditos de Bibi sobre todo o mundo e ninguém e dinheiro de impostos devolvido aos palestinos; labirinto de becos sem saída, desenhado pela ignorância curta de vistas de Washington na escolha de amigos e inimigos no Médio Oriente (onde o amigo do meu inimigo também muitas vezes meu amigo é); esforços para limpar o Laos, uma das terras mais bombardeadas deste mundo; decisão final pendente da justiça italiana sobre a americana Amanda Knox (a telefonia veio dizer que fora definitivamente absolvida da acusação de ter morto a amiga); Sigmund Freud na história da psiquiatria; o novo Museu Whitney em Nova Iorque; Silicon Valley e automóveis de luxo velozes; mudanças na banca privada internacional – tudo em 22 páginas, no meio de anúncios de joias, de relógios, de bagagens, de hotéis, tudo de luxo, para entreter convalescentes e mais ociosos nesta véspera de Domingo de Ramos, quase me fizeram falhar o inquérito ao desastre do avião polaco.
Teria sido pena. Em poucas linhas, não me deixou esquecer que nessa interface entre Leste e mais a Leste, onde desconfiança mútua impera, má-fé campeia e transparência é opaca, está todos os dias em risco a paz geral da Europa. Todo o cuidado é pouco, a começar com Putin. E, vistas bem as coisas, também a acabar nele. Páscoa Feliz.
Imagem aqui
Destroços do voo 17 da Malaysia Airlines próximo de Hrabove, leste da Ucrânia, manhã de 19 de Julho de 2014.
(Dmitry Lovetsky/Associated Press)
A Cereja no Bolo
“Primeiro julguei que tivesse sido o Mossad, para distrair a nossa atenção de Gaza” disse a rapariga, sentada de Ipad ao colo. “Mas o que se foi sabendo não dava para isso. Entre russos e ucranianos…”
Conversa em Bruxelas, quando não restavam dúvidas quanto à origem do míssil terra-ar que deitara abaixo um avião da Malaysia Airlines com 298 pessoas a bordo sobre o leste da Ucrânia. Mas para muitos europeus dos nossos dias, criados no soft power e na correcção política, a maldade de Israel não tem limites e Vladimir Putin até nem é mau de todo, dada “a sobranceria com que os Estados Unidos trataram a Rússia a seguir ao fim da União Soviética”. Santa simplicidade.
Nesse fim de semana, em Paris e noutras cidades de França, numerosos manifestantes solidários com o povo da Palestina, enquanto partiam montras e ameaçavam sinagogas, gritavam palavras de ordem antissemitas — “Mort au juif!” — como não se via e ouvia em França já há muitos anos. (Coincidência de datas: o primeiro-ministro presidiu a cerimónia de desagravo comemorativa da concentração de 13.152 judeus, incluindo 5.051 crianças, num velódromo parisiense — o Vel d’Hiv — a 16 e 17 de Julho de 1942 antes de serem despachados para extermínio em Auschwitz). O antissemitismo francês tem tido altos e baixos.
Quanto ao avião da Malásia e a Putin, a verdade veio depressa ao de cima. Entre gabarolices e aldrabices, os rufias da República de Donesk, locais ou mercenários russos, deixaram poucas dúvidas sobre a selvajaria da sua proeza, e meios nacionais americanos de observação (NSA, etc.) revelaram com precisão cirúrgica o que se passara. Em muitas capitais do mundo, o patrão do Kremlin, cuja fanfarronice nacionalista inspirara a desordem armada no leste da Ucrânia — e cuja intendência lhe fornecera logística — é visto como corresponsável pela criação de ambiente propício à prática da atrocidade. Na União Europeia, até alemães e italianos concordaram no endurecimento de sanções à Rússia.
Quanto a Gaza, o horror de civis mortos e feridos por fogo israelita continua e continua também a incompreensão do que se está a passar. Gaza, com uma das mais altas densidades de população do mundo, é gigantesco e trágico escudo humano da armadilha onde Israel tem caído desde que se retirou do território em 1994. O Hamas dispara de lá todos os dias foguetões sobre Israel e cava túneis para por eles fazer mais ataques. Quando Israel pretende atingir rampas de lançamento ou quer escavacar túneis mata e fere inevitavelmente civis. A tática do Hamas não é original (em 1992, muçulmanos da Bósnia mandavam morteiros contra sérvios de pátios de hospitais) mas a escala desta vez é épica. E, lembrava Marx, alterações quantitativas conduzem a alterações qualitativas.
O Hamas, que não reconhece o Estado de Israel, tem agora muito menos apoios no mundo árabe. Mas a direita israelita de hoje está como Abba Eban disse um dia dos árabes: não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade.
Desenho de Eduardo Anahory (1917-1985)
Revista Panorama, Anos 50
Eduardo Anahory, arquitecto, pintor, ilustrador, artista gráfico e decorador, inicia a sua actividade como artista gráfico em 1936 com a concepção, encomenda da Junta Nacional de Educação, do ex-libris comemorativo dos 10 anos da “revolução nacional”, da capa do Guia Oficial da Exposição do Mundo Português, e mantém uma assídua colaboração na revista Panorama. Participa, também, noutras iniciativas do S.P.N./S.N.I., como a I Exposição de Montras (Lisboa, 1940), as Exposições de Arte Moderna (1945 e 1946), os pavilhões da “Secção da Vida Popular” na Exposição do Mundo Português (1940) e o I Salão Nacional de Artes Decorativas (1949).
Veja também também aqui e aqui