Quarta-feira, 24 de Outubro de 2018

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

seven pillars

 

 

 

José Cutileiro

 

 

Sete Pilares de Sabedoria: a honra da Arábia

 

 

 

Na passada sexta-feira a Arábia Saudita declarou que o jornalista Jamal Khashoggi tinha morrido agredido em luta corpo a corpo no gabinete do consul da Arábia Saudita em Instanbul  – depois de semanas passadas a afirmar que ele saíra livremente do consulado onde por seu pé entrara horas antes. À parte o presidente Trump que achou a declaração credível e um bom começo de esclarecimento, toda a gente continuou indignada pela falta de explicação satisfatória para o crime bizarro e hediondo praticado pelos Sauditas. Alimentados por escutas, diplomaticamente ilegais mas tecnicamente satisfatórias, feitas pelos serviços secretos turcos (porventura já partilhadas com autoridades americanas), jornais de Ankara e Istambul têm vindo a contar o que se passou.

 

Por proposta do consul, Khashoggi fora ao consulado receber documento que pedira provando o seu divórcio. Quando entrou no gabinete foi atacado por vários compatriotas chegados nessa manhã da Arábia que, em sete minutos, o  torturaram e mataram (cortaram-lhe alguns dedos não se percebendo bem na gravação se antes se depois de morto). A seguir, médico legista que trouxera a malinha dos pertences, desmembrou-o para o corpo poder ser transportado em caixas, dizendo aos outros para porem auscultadores com música a fim de atenuar o incómodo do momento. Ouve-se o consul pedir « Não façam isto aqui » e voz reponder-lhe que se quer ir depois viver na Arábia é melhor calar-se. Passadas duas horas, visitantes e morto ao bocados deixaram o consulado e foram apanhar o avião que os esperava para o regresso.

 

Khashoggi não era terrorista nem dissidente: dizia a verdade ao poder. Jornalista conceituado, antigo conselheiro de governantes e diplomatas sauditas, oposto à governação do príncipe Mohamed Ben Salman (MBS) - que é quem manda no país - decidira viver nos EUA, escrevendo duas colunas de opinião por semana no Washington Post. Não era um democrata, Westminsteriano ou Capitoliano; era um islamista moderado, perto dos Irmãos Muçulmanos, querendo sociedade que talvez achássemos tolerável mas onde não gostaríamos de viver. Escrevia bem, tinha público, o turco Erdogan era seu amigo. MBS odiava-o e, de temperamento violento e comportamento desiquilibrado, muita gente pensa que o tenha mandado matar.

 

Em 1922, o arqueólogo e militar inglês T.E. Lawrence publicou Seven Pillars of Wisdom, autobiografia que é joia da literatura inglesa e conta da sua guerra no deserto, ajudando principes árabes a libertarem-se do Império Otomano. Homens de honra, coragem e virtude, as histórias destes contribuiram muito para boa reputação árabe na Europa e nos Estados Unidos. Se o Rei Zalman a quiser recuperar deverá fazer julgar MBS e, se este for condenado à morte, deixá-lo decapitar como têm sido tantos dos seus súbditos. Politicamente incorrecto? Certamente. Mas talvez a Arábia Saudita começasse a ser respeitada de novo e pudesse enfim abordar reformas constitucionais.

 

 

publicado por VF às 09:00
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