Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

 

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A noite europeia

 

 

 

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Bom 2015

 

 

Quando um pobre come galinha um dos dois está doente – sabedoria do Alentejo nos tempos do meu pai e do pai dele. No meu tempo apareceram os frangos de aviário, tão prezados no começo que depois de cozinhados as estalajadeiras os vendiam mais caros do que se fossem criação do campo. No tempo do meu filho, ciência com ardores impiedosos de fé havia ganho as almas e os frangos de ar livre tornaram outra vez a ser manjar de rico, ficando os de aviário para a arraia-miúda – no Alentejo como em toda a parte. (Frangos doentes passaram a ser destruídos na origem.)

 

Entretanto, nos Estados Unidos e na Europa, desregulamento progressivo da finança permitiu a esta ir-se apoderando da indústria, valorizando cada vez mais o lucro e valorizando cada vez menos o trabalho; em 2008 o cântaro que tantas vezes tinha ido à fonte partiu-se e o Ocidente entrou em crise; para o tirar do buraco, do lado de lá do Atlântico Norte estimulou-se a economia, o banco central levou a peito baixar o desemprego e hoje, em prosperidade, os Estados Unidos (tendo-se de caminho metido a produzir gás de xisto) vão à frente dos outros poderes do mundo como a lebre de uma corrida de galgos. Na Europa escolheu-se a austeridade e o banco central europeu tem como único encargo estatutário a inflação (apesar de Mario Draghi, mesmo aporrinhado pelos alemães, ter dito que faria o que fosse preciso – what it takes – para salvar o euro). A emenda foi pior do que o soneto. Não há meio de se sair do buraco e, entretanto, talvez empresa de private equity, bem alavancada, veja futuro na venda ao desbarato de frangos doentes aos pobres.

 

A recuperação económica do mundo é atrasada pela inépcia da Europa – que não tem outra força para se impor de maneira diferente. Cresceu em paz no casulo da Guerra Fria, profilaticamente protegida do mal de fora pelo arsenal nuclear americano e do mal de dentro por medo salutar de Estaline. Depois do colapso da União Soviética passou a gastar muito menos em defesa do que o pouco que já gastava e europeus convictos julgaram que iam pregar ao mundo a paz perfeita. Chão que nem uvas deu. O que hoje se vê à roda, em estepes da Ucrânia, oásis da Mesopotâmia, deltas da Birmânia, é, sim, guerra perpétua, só dominável com guerra ou ameaça de guerra. Ora na Europa só França e Reino Unido têm capacidade militar que não envergonhe patriotas e, se as armas são fracas, os corações são mais fracos ainda. Diz directora de escola internacional em Bruxelas: “O nosso propósito deveria ser instilar nas crianças adaptabilidade e flexibilidade”. Em tal bolha de relativismo, a coragem, a integridade, a capacidade de topar quem fale barato, parecem ter valor menor.

 

Guerras – hoje coisas más – eram populares. Bisavó de amiga minha alentejana dizia que de vez em quando era preciso uma “para desquintar o pessoal”. Se não formos capazes de impedir que as façam contra nós, ao menos que as saibamos ganhar. Senão a papa doce acaba mesmo.

 

Ano Novo Feliz.

 

 

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publicado por VF às 11:26
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Quarta-feira, 30 de Abril de 2014

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais uma Guerra Mundial?

 

 

As comemorações de 1914 (ano do começo da Guerra que pôs Fim à Paz, como lhe chama Margaret MacMillan num livro magistral sobre as suas causas) em televisões, telefonias, editoras, revistas, e o à vontade pré-modernista de Vladimir Putin, cujo apetite russo de território evoca o Lebensraum nazi, levam-me a sentir que a nossa paz, o caldo de cultura da construção europeia, ficou de repente muito menos garantida.

 

Até ao fim da Guerra Fria, medo salutar da União Soviética fizera os europeus gastarem dinheiro em defesa (sempre menos do que deviam mas os Estados Unidos, embora queixosos, cobriam a diferença). Quando a União Soviética colapsou inventou-se o “dividendo da paz”. Governantes de quase todos os países europeus — menos Reino Unido e França — ignorantes ou esquecidos da história reduziram orçamentos de defesa a proporções ridículas com a justificação de que o colapso soviético eliminara o inimigo e não havia outro à vista. Agora há — mas há também quem não o queira ver.

 

A questão não é de meios — é de falta de vontade. 1945 foi há 69 anos, 1991 há 23 e, a quem não faça regime, a paz engorda. A Guerra Fria acabou sem tratado que ajustasse regras: essa ambiguidade ajuda Putin a pintar a manta, jogando na curteza de vistas cobarde dos europeus. Grandes patrões têm ido a Moscovo garantir-lhe pessoalmente ‘business as usual’. Apesar disso, os governantes da União Europeia (e todos os do G7), perante o desplante reafirmado do patrão do Kremlin e exortados por Washington têm alinhavado sanções contra a Rússia — começando pelos cortesãos do Czar — a pouco e pouco mais consequentes mas muito longe de causarem a dor precisa para parar provocações com que Putin nos põe à prova.

 

Se impusermos mais sanções económicas e se, simultaneamente, tornarmos bem visível por exercícios militares, patrulhas aéreas, etc., conduzidos na Polónia e nos países bálticos, a capacidade bélica da OTAN e a nossa disposição de recorrermos a ela se um dos Aliados for atacado, ganharemos. Sanções económicas trar-nos-iam prejuízos de curto prazo, exigindo explicação a eleitores mas seriam tão gravosas para a Rússia que Putin teria de encolher as garras. A capacidade de sofrimento do povo russo é grande (nenhum outro teve tantos mortos nas duas guerras mundiais) e a propaganda do Kremlin dissemina catadupas de aldrabices mas no nosso tempo tudo se conhece, se compara e o regime iria mudando. Depois, à Ucrânia e seus demónios daríamos o jeito possível, até com ajuda da Rússia.

 

Se não dermos um murro na mesa já, será depois difícil parar Putin sem guerra. E entretanto o nosso poder no mundo vai levando rombos. Quando votámos agora contra a Rússia na ONU, Brasil, India, África do Sul abstiveram-se. Os nossos valores em direito internacional e direitos do homem não serão universais mas que ao menos sejamos capazes de lutar por eles, com menos retórica e mais acção. Como disse um presidente americano: falar baixinho e trazer um grande cacete.

 

 

 

 

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Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

 

 

 

 

 

 

A peste homofóbica

 

 

(Mas, antes dela, noto que a Islândia, vítima há anos de colapso bancário ruinoso, anunciou desistir de candidatura à União Europeia. Saiu da crise ajudada pelo FMI, com flexibilidade que impediu o país de endividar gerações vindouras. No Sul da Europa tivemos menos sorte. A Alemanha, que queria salvar os seus bancos, impôs-nos austeridade com as consequências conhecidas. Moral da história: teria sido perfeitamente possível sair da crise sem pôr o futuro no prego. Faltou visão a Berlim e coragem a todos).

 

Voltando ao título. Como erradicar a peste homofóbica que grassa hoje na África e na Rússia contra mais de um século de progresso social e de decência promovidos na Europa Ocidental e nos Estados Unidos? A maior e mais maltratada das minorias, em todo o mundo, são as mulheres (demograficamente em maioria como os pretos na África do Sul do apartheid) que gozam hoje, na teoria e na prática europeias e norte-americanas, quase dos mesmos direitos e deveres que os homens. Homossexuais, minoria mais pequena, deixaram de ser discriminados, como se sabe, nas leis desses estados. Em cada vez maior número deles, podem casar e adoptar. Nessas sociedades vibram ainda focos de oposição religiosa e de deferência pelos costumes mas liberdade e tolerância têm levado a melhor no debate que continua.

 

Em contraste vivo, o Parlamento da Rússia de Putin, a pretexto de proteger as crianças de riscos de pedofilia, passou legislação que na prática criminaliza a homossexualidade e deixa homossexuais à mercê de arbitrariedades da administração e do público.

 

O que se passa em África é mais alarmante ainda. De 54 estados do continente, 38 criminalizam a homossexualidade (3 —  Sudão, Mauritânia, Somália — e o norte da Nigéria, que adoptam a charia, preveem pena de morte). Nigéria e Uganda endureceram há pouco as suas leis. Mesmo na África do Sul, apesar de ocidentalizada pelo humanismo de Mandela, existe ambiente homofóbico (lésbicas submetidas a violações colectivas, “para as curar”). Uma declaração do Presidente da Gâmbia ilustra o quadro africano: “A homossexualidade nunca será tolerada e poderá incorrer a pena máxima pois quer levar a humanidade a extinção inglória. Combateremos essa bicharia, os chamados homossexuais ou gays como combatemos os mosquitos da malária ou com mais vigor ainda. No que me diz respeito, LGBT só pode significar Lepra, Gonorreia, Bactéria, Tuberculose; coisas nocivas. Esclareço também que a Gâmbia não poupará nenhum homossexual e portanto a imunidade diplomática não será respeitada no caso de diplomatas homossexuais”.

 

David Cameron disse que queria “exportar o casamento homossexual” para o mundo inteiro. Foi logo acusado de neocolonialismo. Tiranetes cruéis encontraram mais desculpas para o mal que faziam. Não sou fanático do progresso; é prudente respeitar tradições mas, neste caso, norte-americanos e europeus têm razão e quem se lhes opõe faz subir marés de fel no sinistro mar da dor humana.

 

 

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publicado por VF às 08:22
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Sexta-feira, 10 de Janeiro de 2014

Stanley, Ivens, Capelo, Serpa Pinto (1877)

 

 

 

Luanda, Angola 

© Royal Museum for Central Africa

 

This staged picture was shot in a studio on the African West Coast, and shows Henry M. Stanley describing his travels to the Portuguese Expedition (Ivens, Capelo, Serpa Pinto) at Luanda, [August or September 1877].

 
This oval-framed photograph, mounted on cardboard, with pencil inscription, is kept in the Henry M. Stanley Archives (King Baudouin Foundation Collection held in trust at the RMCA).

 

 

veja aqui o livro "Exploradores Portugueses e Reis Africanos"

 

 

 

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Quarta-feira, 30 de Outubro de 2013

Timor (1852)

 

 

 

Limites dos domínios portugueses e neerlandeses em conformidade com o projecto de Tratado estipulado pela Comissão Mista em 28 de Agosto de 1852

Documento do espólio de meu tio-avô António Caldeira Coelho



História-Antropologia TIMOR LESTE  aqui



CARTOGRAFIA  aqui



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Sábado, 29 de Dezembro de 2012

roteiro (1942)

 

 

 

 

 

 

Partindo de Lisboa no sábado de manhã, haverá tempo suficiente (dormindo em SETÚBAL), para apreciar lindíssimos trechos marítimos (do OUTÃO, da ARRÁBIDA e de SESIMBRA), o maravilhoso panorama do Castelo de PALMELA, palácios, quintas, monumentos e, no percurso, os mais pitorescos aspectos da risonha paisagem estremenha.

 

Desenho de Bernardo Marques?

Revista Panorama, nº 11, Ano 2, 1942



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Segunda-feira, 2 de Agosto de 2010

California in the fifties

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

© 1959 by Golden Press, Inc.

Designed and produced by Artists and Writers Press, Inc., New York

and from the Basic Science Education Series (Unitext),

published by Row, Peterson and Company, Evanston, Illinois.

 

 

 


publicado por VF às 11:07
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