Praça Duque de Saldanha, Lisboa, anos 60
Deixar Lisboa em 1967 foi uma lufada de ar fresco. Ia fazer catorze anos.
O tempo que aqui vivera, marcado por um 'luto' e circunstâncias familiares agravantes, tinha sido difícil. Acabara por me habituar à vida em Portugal, à casa dos meus avós, às ausências dos meus pais, ao liceu francês, mas não me tinha conformado, o que associo a uma série de doenças que me afligiram ao longo desse período, e por fim a um acidente – por distracção, à saída da escola – no qual podia ter morrido.
Na escola, precisamente, nem tudo corria bem. Findo o ciclo franco-português e passado o exame da quarta-classe, obrigatório para os alunos portugueses, seguira para a sixième (primeiro ano da “secção francesa” do liceu) e entrara novamente em derrapagem. Dispersa e indisciplinada, ao contrário dos meus irmãos que eram bons alunos, as comparações inevitaveis pesavam-me.
Eu gostava do liceu francês mas não conhecia a França. As roupas de pronto-a-vestir que admirava todas as semanas na “Elle”, e outros acessórios muito cobiçados, que as francesas do liceu apresentavam no início do ano lectivo, ao regressar de férias, estavam fora do meu alcance. As minhas amigas eram uma americana e uma portuguesa, tão estrangeiras ali como eu. A minha irmã tinha deixado Portugal em 1965.
No meu meio social, de classe média (funcionários públicos) ocasionalmente em contacto com a classe média-alta (parentes e amigos ricos), também nem tudo corria bem. Apesar da amizade que tinha por alguns primos e filhos de amigas da minha mãe, e da amizade que eles tinham por mim, o convívio, por intermédio deles, com os adolescentes privilegiados do Estoril e de Cascais era geralmente mais sufocante do que outra coisa.
Parti para Madrid sem saudades e com alguma expectativa.
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