Traje de Meia Senhora*
Viana do Castelo, Portugal, c. 1950
NÃO QUEIRAS SAIA DE CHITA,
QUE TE HÃO DE CHAMAR SENHORA;
ANTES SAIA DE ESTAMENHA,
QUE É TRAJE DE LAVRADORA.
A forma e composição do vestuário relacionam a inteligência do homem com a qualidade e variedade insistentes do trabalho predominante e dos trabalhos afins ou contribuintes dele. As cores, ou enfeites, os adereços e os complementos, mais ou menos acidentais, sempre todavia decorativos, revelam o sentimento artístico, a elegância de imaginação, a estética utilitária de quem os aplica. Não pode esquecer o que no traje impõem os determinantes de ordem moral, cuja influência colabora fortemente na sua elaboração.[...] O traje é, assim, o vértice de convergência de actividades mentais, concorrentes no mesmo objectivo; exterioriza-as em manifestações concordantes, que fazem dele o panorama psicológico da população, revestida no seu todo orgânico. Deve ainda acrescentar-se aos mencionados elementos da feição do traje a influência sugestiva das modas vagueantes das classes superiores, ricas e desnaturadas. Isto é: a acção reflexa, que o traje popular sofre do traje culto. Têm aspectos funcionais diferentes os dois trajes: estável, contínuo, natural e espontâneo, o popular; instável, descontínuo, artificial e estudado, o traje erudito. A estabilidade do traje popular corresponde à mutabilidade excessiva do outro. Até, quando no todo ou em parte o traje das classes de cima passa para o povo com adaptação correspondente, mantém neste a duração, que além não teve. Não quer dizer que o traje popular seja inerte e imutável, nem que o não popular, em suas metamorfoses, tenha falta de traços comuns, melhor ou pior conservados. Somente, à maior persistência do excitante espiritual corresponde maior permanência de efeitos, e entre eles a fisionomia do traje. Como na vida rural a continuidade é regra, o traje rural evoluciona lentamente, ao passo que o traje urbano ou citadino sofre maiores sugestões do usado pela gente do mundo elegante, internacionalizado e aparatoso. A desigualdade económica, sobretudo, entre o campo agrícola e os centros industriais ou comerciais, prova fundas diferenciações não só em superfície como em profundidade. A quadra popular, posta como abertura desta nota etnográfica, evidencia o confronto de trajes, consoante as condições económicas e sociais.
Luís Chaves
in Vida e Arte do Povo Português p. 7
Secretariado da Propaganda Nacional, Edição da Secção de Propaganda e Recepção da Comissão Nacional dos Centenários, Lisboa, 1940
Luís Chaves
in Vida e Arte do Povo Português p. 8
Secretariado da Propaganda Nacional, Edição da Secção de Propaganda e Recepção da Comissão Nacional dos Centenários, Lisboa, 1940
Nota: Fialho de Almeida, O Paiz das Uvas, 3ª ed. Lisboa, 1915, pág. 37
Portugal, c. 1915
Foto: Ricardo Santos & Filho - Évora
Mais uma fotografia curiosa de meu tio-avô paterno António Correia Caldeira Coelho (1888-1977). Que festa terá sido esta? Ele é o homem de bigode e chapéu de aba redonda, sentado no centro do grupo. A fotografia é colada sobre cartolinai. Veja uma fotografia dele em 1907, aqui, e em 1910, aqui.
Mordoma de Vila Franca do Lima com o cesto de promessa para as Festas da Senhora da Agonia
Viana do Castelo, Portugal, c. 1970
Museu do Traje de Viana do Castelo aqui
Mais trajes aqui
Maria Alice Matos Carneiro (1896-1935) à frente do carro de bois.
Maria Alice Carneiro, sentada ao centro, em quarto lugar a contar da esquerda
O mesmo grupo. Maria Alice Carneiro de pé em terceiro lugar a contar da esquerda.
Fotografias gentilmente cedidas por Maria Augusta Carneiro Bustorff Burnay.
O Museu do Traje de Viana do Castelo está a fazer uma recolha de imagens de trajes (anteriores a 1960) para poder constituir uma Base de Dados de apoio a estudos sobre a utilização do Traje Popular Vianense. Os álbuns de fotografias de família são uma das fontes mais importantes, onde se encontram muitas vezes imagens com enorme valor documental.
Colabore: reveja os seus álbuns de família. Se encontrar alguma imagem digitalize-a ou empreste-a ao Museu, onde será digitalizada e imediatamente devolvida.
Os responsáveis pela recolha estão igualmente a preparar a edição de um livro dedicado ao tema.
Bisavós minhotas ou longínquas tias mascaradas, por favor encaminhem-nas para António Medeiros e João Alpuim, Museu do Traje de Viana do Castelo.
Nota: texto encontrado aqui