Terça-feira, 31 de Março de 2009

A Écloga e a Epopeia

 

Minho c. 1967

Fotografia de Robert Thuiller

 

O infante D. Henrique nasceu no Porto em 1394 e será ao Entre-Douro-e-Minho que ele irá buscar senão os chefes, o escol, pelo menos o grande material vivo para as jornadas do mar. É dos flancos e dos estaleiros litorâneos do Norte que vai sair o melhor contingente das armadas portuguesas. Para a conquista de Ceuta sabe-se que no Minho o recrutamento abrangeu toda a província. As frotas do Porto partem, sucessivamente, na segunda metade do século XV, para o Norte da África e os armadores de Viana, Ponte de Lima e Vila do Conde, fortes do seu prestígio, impõem condições ao trono nas Cortes de 1436. No reinado de D. João II, Álvaro de Caminha lança os fundamentos de S. Tomé e João Afonso de Aveiro traz da Guiné a primeira pimenta. São ambos homens do Norte. Do Minho eram Pedro e Álvaro de Braga, que acompanham Vasco da Gama ao Oriente. E o cronista do descobrimento do Brasil — Pêro Vaz de Caminha — querendo assinalar a benignidade do clima da terra descoberta não encontra outro ponto de comparação mais expressivo: " muito bons ares, assim frios e temperados como os de entre Douro e Minho." De Viana do Castelo era o descobridor da Terra Nova, João Álvares Fagundes. O génio aventureiro do homem minhoto encontrou, primeiro nos Descobrimentos, e depois no povoamento do Brasil, na permanência das rotas portuguesas para a Índia, sob a ocupação castelhana, no comércio com a França, Flandres, Inglaterra e Alemanha, uma forma activa de realização. E se no século XVII já o alemão Link poderia escrever que os camponeses minhotos eram "os melhores do reino", um cientista nosso contemporâneo, o Prof. Mendes Correia escreve: "verificámos ser a província de Entre Douro e Minho mais rica em homens ilustres, proporcionalmente à população, do que Trás-os-Montes e o Algarve, aproximando-se do centro litoral, das Beiras e das ilhas, desde que se não entre em conta com as influências culturais de Lisboa, Porto e Coimbra."

Energias étnicas, assim apuradas no decurso dos séculos, contrariam a tese dum possível paralelismo entre o enfaixe duma terra já de si estreita e, para mais, compartimentada, e as fronteiras do horizonte individual do minhoto. Decerto a densidade da população cria problemas económicos aos quais a natureza do solo não dá solução. Mas a divisão normal da propriedade em leiras bem aproveitadas tem nos nossos dias vantagens sociais evidentes que se traduzem, por um lado, na permanência dum sentido de propriedade que contenta a todos e a ninguém agrava e, por outro, numa instintiva fixação sentimental ao terrunho, que se transmite de pais a filhos.

E há, ainda, outra forma de afirmação duma personalidade forte, que é a da emigração. O minhoto emigra. Não o contenta a paisagem apertada em que mal cabe o seu sonho. Emigra e em geral, na terra, no balcão, na oficina ou no escritório, dá boa conta dessa emigração. O minhoto emigra, como o beirão ou o transmontano. E esta emigração dá ao minhoto de regresso uma «altura» imediata na visão das coisas que no entanto não lhe dificulta a adaptação. Um dos meus prazeres, aqui, pelo Verão, é ouvir falar esses emigrantes que, de longe, continuaram a sentir em português e admirar-lhes uma fidelidade interior de que talvez nem se apercebam.

 

© Luís Forjaz Trigueiros

in Paisagens Portuguesas, Uma viagem literária

Guimarães Editores Lda (1993)

 

Veja neste blog uma fotografia de Luís Forjaz Trigueiros aqui

 

Imagem do livro Portugal Familier,

Yves Gandon e Robert Thuiller

© Librairie Hachette, 1967

 

publicado por VF às 12:31
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Sábado, 28 de Março de 2009

Casa de Freitas

 

 

 

 

Casa de Freitas  c. 1930

 Concelho de Amarante  

 

Aproveito o facto de ter evocado o meu bisavô Guilherme Pereira de Carvalho, no post anterior, para satisfazer a curiosidade de um amigo que, um dia destes, me perguntou com intuição certeira “que casa mágica é esta que serve de pano de fundo ao blog". Situada na região de Entre Douro e Minho, a 'Casa de Freitas' acolheu sucessivas gerações da minha família materna. Nos anos cinquenta foi inteiramente reconstruída, após um grande incêndio que só deixou de pé a fachada, mas o seu aspecto actual é praticamente idêntico.

 

Foram muitas as fotografias de família e amigos tiradas nesta casa ao longo do século XX e eu estava à espera de um momento oportuno para apresentá-la ao Leitor, desde que, logo no primeiro dia, abri com esta vista uma excepção à regra de não mostrar no blog imagens do livro Retrovisor, um Álbum de Família (a sair em breve). 

 

 

A Casa de Freitas terá sido mandada construir por António Pereira de Carvalho, nome a que correspondem supostamente as iniciais “APC” que encimam o portão do jardim. Sei que a propriedade foi comprada pelo meu bisavô a Joaquim Leite de Carvalho. Guilherme Pereira de Carvalho (1854-1927) — a não confundir com o meu avô, do mesmo nome — e Joaquim Leite de Carvalho eram naturais do Lugar de Freitas, na Freguesia de Telões, e ambos comerciantes estabelecidos no estado brasileiro da Baía. Uniam-nos laços de parentesco. Descobri recentemente esta fotografia de Joaquim Leite de Carvalho num álbum de família muito antigo que pertenceu a meu tio-avô António Guilherme Pereira de Carvalho:

 

 

Joaquim Leite de Carvalho

c.1900

 

Por morte de meu bisavô, a propriedade coube em herança a sua filha mais velha, Maria do Carmo (Mariêta), que por sua vez a deixou aos sobrinhos.

álbum de António Pereira de Carvalho está aqui  

Hoje a Casa de Freitas pertence a um bisneto de Guilherme Pereira de Carvalho.

 

Postal Freitas 1931

álbum Casa de Freitas no Flickr aqui 

 

 

 

 

 

 

 

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Quinta-feira, 26 de Março de 2009

Exposição Ventura Terra

 

 

 

Arquitecto Miguel Ventura Terra

1866-1919

 

Por ocasião da reabertura da Sala das Sessões, a Assembleia da República promove a exposição “Arquitecto Miguel Ventura Terra (1866-1919) ”, em homenagem ao autor do projecto original do Hemiciclo inaugurado em 1903. A obra de Ventura Terra integra alguns dos edifícios mais emblemáticos de Lisboa: os liceus de Camões e de Pedro Nunes, o Teatro Politeama, a Maternidade de Alfredo da Costa, o átrio do Teatro Nacional de S. Carlos, o Banco Totta & Açores (na Baixa), a sinagoga de Lisboa e quatro casas que arrecadaram o Prémio Valmor (entre 1903 e 1911).
A exposição ontem inaugurada traça um breve retrato biográfico do arquitecto, que nunca descurou actividades filantrópicas. Quem passar pela Rua de Alexandre Herculano, em Lisboa, poderá ler na placa da Casa Ventura Terra a seguinte inscrição: "Esta casa foi legada às escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto pelo arquitecto Miguel Ventura Terra, que nela faleceu em 30 de Abril de 1919, destinando o seu rendimento líquido para pensões a estudantes pobres das duas escolas que mostrem decidida vocação para as Belas-Artes."

 

 


 

"A Construcção Moderna" Anno III - 20 de Novembro de 1902

 

 

A nossa revista honra-se mais uma vez com a collaboração do distincto archictecto, sr. Ventura Terra, apresentando o projecto da casa que vae ser construída na Avenida da Liberdade. Como se vê das plantas o prédio é só para um morador, o proprietário, exmo sr. Guilherme Pereira de Carvalho. Pouco teremos a dizer d’elle, que o não mostre os desenhos. A fachada será toda revestida de marmore branco e as colunas serão de marmore de côr. Interiormente, terá a casa todas as condições da vida moderna, com luz e ar em todas as suas divisões.

 

 

Guilherme Pereira de Carvalho

1854–1927

 

Mais sobre a exposição aqui e o Arquitecto Ventura Terra aqui

Se é a primeira vez que visita este blog leia mais sobre os Pereira de Carvalho aqui

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Segunda-feira, 23 de Março de 2009

Camisas TV

 

 

Os bragançanos viviam, nesse tempo, suspensos da rotina burocrática desde o governador civil ao amanuense, quando a televisão chegou à cidade. Ela já se mostrara em documentários no Cine-Camões, mas a valer, foi na altura em que os principais cafés da cidade colocaram aparelhos em local estratégico de forma a os espaços se transformarem em salas de espectáculos ruidosas, acaloradas pelo bafo mais ou menos de boa extracção estomacal e os comentários propícios à quebra de solidão do mais sisudo.
As festas comemorativas dos cinquenta anos da RTP, no referente a Bragança têm de ser adiadas, mas valia a pena tentar-se perceber o impacto que na altura ela provocou, para além da luta por um lugar em dia de transmissão de um jogo europeu em pleno auge benfiquista, dos comentários do refinado e lembrado Verbo, ou da irritação do Sr. Roque devido a os estudantes e outros farsolas estarem uma noite inteira alapados em frente à pantalha e só consumirem um café ou um galão. É verdade, na altura pediam-se muitos galões, o dinheiro estava no bolso dos que o possuíam, por isso no Moderno a maioria dos clientes gastava muito pouco, razão suficiente para o pai do Roquito exibir um carão de poucos amigos. Aí por 1961, aparecem as camisas TV. Um reboliço, só sendo vendidas nos comércios mais finos – Tozé, Queiroz, Poças, Casa das Malhas, Lopes&Pires e Castro –, Bragança ao tempo em matéria de moda não passava destas casas, refira-se o facto de todas venderem uma multitude de tecidos e adjuvantes, sem esquecer urnas, coroas de flores, máquinas de costura e óleos caso do estabelecimento dos sócios Sr. Lopes e Sr. Pires, o primeiro sempre na garagem, o segundo vegetariano. As tais camisas eram assumidamente bonitas, lisas em tons clássicos mais a cor cinzenta, às riscas, agora estilo jogador de futebol, e aos quadradinhos com botões metálicos. A primeira aparição dessas camisas nos corpos dos rapazes, pertenceu, como sempre, aos filhos-família, não eram assim tantos, muito invejados por comprarem sem pejo ou receio de falta de notas, pois limitavam-se a escolher e dizerem:”Sr. Tozé, Sr. Queiroz, Sr. Poças ponham na conta.” Um regalo para eles, uma forte e enviesada irritação para nós, pois tinhamos de nos contentar com camisas estilo Limpope, Limpó-pé, gracejávamos ao vê-las em coluna na montra do Sr. Monteiro, ou baratuxas “mercadas” pelas mães no Sr. Pousa, no Tem-Tudo, daí também venderem mercearias, sabões e piaçabas, ou ainda feitas pela vizinha costureira. As camisas, vinham em caixas pretas, de um design fabuloso, mas tinham um contra – o preço alto, de tão soberbo, só mesmo os empregados dos bancos – Banco de Portugal e BNU, os da Caixa ganhavam menos, os magistrados e pouco mais, talvez meia-dúzia de professores e comerciantes de outros ramos rodeavam os pescoços com colarinhos sem esticadores por fora e em nylon TV. O estilo propagou-se, em poucos meses começaram a aparecer imitações – AV, RN, FI, CA – escrevo siglas ao acaso, pois nessa matéria a “cousa” era à vontade do freguês. Ainda que assim hoje não seja, valia a pena correr o risco de empatar todas as parcas economias numa camisa TV, pensávamos nós os desprovidos de fundos a condizer, por isso paguei 180$00 por uma camisa aos quadrados azuis. Num domingo soalheiro levei-a a olhares na Praça da Sé, por altura da missa das onze e meia. Volteei-me a modo dos cavalos em praça de touros, os circunstantes do meu grupo olharam de revés, rosnaram defeitos devido ao tom do azul e do tamanho dos botões de metal. Não me importei, também tinha uma camisa TV. Era o que interessava. Após a primeira aparição, passados uns dias, uma queimadela de cigarro provocou-lhe um buraco impossível de resgatar. Ficou maculada, fiquei desgostoso e recordei a quantia gasta. Pesares os meus, risos altos dos amigos!


 

Armando Fernandes

 

 

P.S. A firma das camisas TV acabou a seguir ao “25 de Abril” devido a conflitos laborais. Inovadora, impedia os vendedores de fazerem descontos. Em Bragança todos incumpriram, excepto o Sr. Tiago.

 

© Armando Fernandes

NORDESTE, semanário regional de informação
Edição de 20-03-2007

 

 

Leia outras crónicas de Armando Fernandes aqui

 

 

Camisas TV

Embalagens para a marca TV, design de Manuel Rodrigues, 1961

 

 


Imagem:

Design Português 1960/1979 . Victor M. Almeida - 4

© 2015 Verso da História e autores

Colecção exclusiva do jornal Público

 

 

 

 

 

 

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Domingo, 22 de Março de 2009

Estúdio MR (publicidade)

 

 

 

 

 

 

 

Design de Manuel Rodrigues

 

 

 

 

 

Contracapa de

PANORAMA - Revista Portuguesa de Arte e Turismo

Nº 16 IV Série – Dezembro de 1965

Edição do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo

 

 

Logotipo

 

For the record, confirmei a suspeita de que as notas dactilografadas que usei para o perfil de Manuel Rodrigues se destinavam a uma publicação. Com efeito, um artigo de Margarida Futscher acompanha na edição referida da revista Panorama as imagens reproduzidas nos dois últimos posts.

 

Ver o perfil de Manuel Rodrigues aqui

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Sábado, 21 de Março de 2009

Estúdio MR (pavilhões)

 

 

 

 


 

 

 

Pavilhões de Portugal decorados por Manuel Rodrigues

Anos 60

 

 

PANORAMA - Revista Portuguesa de Arte e Turismo

Nº 16 IV Série – Dezembro de 1965

Edição do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo

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Sexta-feira, 20 de Março de 2009

mobiliário urbano (1959)

 

 

 

 

...

Tribuna para a Praça do Comércio em Lisboa

Design de Manuel Rodrigues, 1959

 

 

 

PANORAMA - Revista Portuguesa de Arte e Turismo

Nº 16 IV Série – Dezembro de 1965

Edição do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo

 

 

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Quarta-feira, 18 de Março de 2009

Manuel Rodrigues

 

 

 


Manuel Rodrigues

1924-1965

 

 

 

 

O seu nome, que mencionei no post anterior, é um daqueles que nas buscas do "Google" quase não produz resultados, tal como o de Paulo Ferreira, autor do desenho que aqui publiquei no 'dia dos namorados'.

 

 

Vem Manuel Rodrigues a propósito de Maria Violante Vieira e da "Papelaria Progresso", mas também de uma crónica recente de Catarina Portas, que passo a citar:

 

 

O facto de o MAP [Museu de Arte Popular] ser um produto da "Política do Espírito" salazarista, um regime que muito doutrinou e fantasiou sobre a nacionalidade, é justamente, a meu ver, a melhor das provocações para querer descobrir mais sobre a relação de inspiração que, ao longo da história, alguns artistas mantiveram com o seu próprio país. Desde a busca do pittoresco que apaixonou a geração de Bordalo e Ramalho até aos nossos dias, essa inspiração continua visível e estimulante no trabalho de artistas como Joana Vasconcelos ou João Pedro Vale. E, neste caso, pode passar também muito adequadamente pelo explorar da obra de todo um conjunto de artistas que, nos anos 30 e 40 do séc. XX, por aí muito se passearam - falo de Sarah Afonso, Maria Keil, Almada Negreiros, Carlos Botelho, Bernardo Marques, Tom, Piló ou Paulo Ferreira.

 

 

 

Nos anos 60 em Portugal não se usava o termo “designer” mas é o termo que faz hoje sentido empregar para descrever a actividade múltipla de Manuel Rodrigues. Aqui fica um resumo da sua carreira, que elaborei com base em apontamentos de minha mãe (para um artigo de jornal?) guardados por ela juntamente com uns obituários e outras recordações dele como esta:

 

 

 

Tofa.jpg

 capa de um folheto publicitário

design de Manuel Rodrigues

 

 

 

 

 

 

Manuel Rodrigues iniciou a sua carreira no SNI (Secretariado Nacional de Informação), ainda antes de terminar o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio, trabalhando com Tomás de Melo (Tom) e Roberto de Araújo. Fez parte das equipas de artistas que criaram a “Exposição do Mundo Português”, em 1940, dirigidas por Bernardo Marques, Tom, Manuel Lapa, Roberto de Araújo e Cotinelli Telmo.

 

Em 1947 é lhe entregue por António Ferro a direcção artística das montras do SNI e a partir de 1951 distingue-se na direcção artística de exposições, como a exposição "Portugal de Hoje" realizada no Brasil em 1954, por motivo das comemorações do IV Centenário da Fundação da Cidade de S. Paulo. Concebe os 'stands' de Portugal em exposições internacionais no estrangeiro, nas quais é distinguido com diversos prémios.

 

A ele se fica a dever a decoração de ruas de Lisboa por ocasião das visitas de Isabel II de Inglaterra e do imperador da Etiópia, cujos pavilhões de recepção na Praça do Comércio foram por ele desenhados.

 

Manuel Rodrigues trabalhou ainda para o teatro, com cenários para o "Teatro do Povo", dirigido por Ribeirinho, e figurinos para o grupo de bailado "Verde Gaio". Desenhou modelos de moda masculina, em colaboração com o "International Fashion Council".

 

Em 1959  realiza com o Arquitecto Conceição Silva a “Exposição da Raínha D. Leonor” no Mosteiro da Madre de Deus, organizada pela Fundação Gulbenkian, e em 1961 ambos levam a cabo uma das primeiras verdadeiras experiências de design global em Portugal, para os “Cafés Tofa” (Torrefacção de Cafés de Portugal).

 

Cria em 1962 a agência “Estúdio MR”, realizando campanhas de publicidade da Tofa, Mobil, e produtos da Fábrica Simões e Compª (camisas TV, lingerie Caron). Desenha selos para os CTT.

 

O seu último trabalho, também em colaboração com Conceição Silva, é o da decoração do maciço de amarração da ponte sobre o Tejo, na Avenida da Índia, e das zonas verdes circundantes.

 

Morre em Setembro de 1965, aos 41 anos, vítima de um desastre de viação.

 

 

 

 

 

 

Veja também neste blog os posts:

 
 
 

 
 
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Domingo, 15 de Março de 2009

Maria Violante Vieira

 

 

 

 

 

Maria Violante Vieira

1.11.1915 -  27.1.1997

 

 

 

Tinha o dom de ouvir os outros, porque se interessava verdadeiramente por eles e porque raramente falava de si própria. Julgo que mantinha essa sua reserva, ou pudor, mesmo com os amigos mais íntimos. Era inteligente e generosa.

 

Para minha irmã Cristina, em particular, a sua presença reconfortante, num período particularmente difícil para a nossa família, tornou-a numa figura de referência. Data desses tempos, ou seja do princípio dos anos 60, esta fotografia tirada por Cristina, no Monte Estoril, ou talvez em Sesimbra, onde Maria Violante se refugiava por vezes no Hotel do Mar.

 

 

Tita - como os sobrinhos e nós lhe chamávamos - tinha uma vida de trabalho intensa. Geria com a irmã, Maria Antónia Vieira Gagean, as empresas que haviam herdado do pai, a Papelaria Progresso e a Papelaria da Moda, e o escritório Vialga, representante da  Parker em Portugal. Ali foram empregues os talentos de criadores tão diversos como o designer Manuel Rodrigues e o poeta Alexandre  O'Neill, que cunhou 'slogans' publicitários para a famosa marca de canetas, segundo acabo de descobrir na tocante biografia de Maria Antónia Oliveira (Publicações Dom Quixote 2007).

 

No início dos anos 70, Maria Violante estabeleceu um primeiro contacto com a UNICEF para trazer para Portugal os cartões de Natal desta agência mundial de ajuda às crianças mais desprotegidas. Na sequência desse contacto, fundou a associação “Amigos da Unicef". Em 10 de Abril de 1979 foi oficialmente criado o Comité Português para a Unicef, ao qual passou a dedicar-se inteiramente, desempenhando o cargo de Presidente até ao final da sua vida.

 

Foi em casa de Maria Violante, um pequeno apartamento com vista para o Tejo, próximo do Jardim do Príncipe Real, que Cristina e eu estivémos pela última vez com o Professor Agostinho da Silva, seu companheiro dos últimos anos. Pouco tempo depois, no dia de Natal de 1996, ou na véspera, não sei, fomos as duas vê-la ao hospital. Foi uma visita muito breve, o tempo de uma carícia e de uma troca de olhares de despedida.

 

 

Visite a Unicef Portugal aqui

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Sexta-feira, 13 de Março de 2009

denominador comum

 

O Agostinho da Silva foi homem mais culto, mais lido, com uma sólida base de grego e latim, que da conversa fazia um permanente diálogo. O obscuro e o nebuloso – tão bem explicado pelos meus professores de liceu – encontrava nele um filtro de transparência, cuja contribuição para a clareza se tornava um verdadeiro dom, sobretudo num país de gente complicada. Ensinava-nos a não perder tempo, a completar iniciativas que se discutiam. Ouvia as nossas asneiras como quem lê o Discurso do Método em voz alta. Sentia o meio donde vínhamos, um meio onde todos estão contentíssimos com a sua ignorância, como tão bem dizia a Sophia, uma sociedade em que é preciso trabalhar pouco para ganhar dinheiro e se encontra uma falta de respeito pelo trabalho intelectual dos outros. (...) O Agostinho lia-me um diálogo de Platão como quem está ali em baixo, na taberna da esquina que dá para a Academia das Ciências, entra e ouve uma conversa. Lia, olhava para nós, e vendo que percebíamos continuava para a frente. Depois dialogava. Com o escopro e o martelo ia abrindo brechas na minha cabeça, modelando, não à sua maneira  – e esta a sua enorme mensagem – , mas sim ia abrindo lenhos cá por dentro, ranhuras que só os meus olhos pudessem ver (...) Trazia livros, não nos obrigava a comprar nada. A Filosofia, a História, a Literatura, a Arte tinham um denominador comum – o Homem. Era o exemplo como homem que ele queria apresentar quando nos vinha dar aulas.

 

 

 

Ruben A.

in O Mundo à Minha Procura, Autobiografia II

Parceria A.M. Pereira, 1966

 

Leia outro excerto da mesma obra aqui

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