Joaquim Monteiro Grillo, Vasco, Cristina e Christine Marshall
Parque de Yosemite, California, 1961
TEMPO DA MEMÓRIA
Memória dúbia,
Assim te aceito
Antecipando o futuro ou já.
Tua raiz é liame inevitável
E madre nossa corrupta,
Parceira da razão parda.
Memória impertinente
És,
Nas montras, monstro familiar
E nos cafés e nos livros,
Ao lado do volante,
Nos vultos, nos gestos, carícias, até...
A sua sombra.
E no resto,
Estrume em requintado canteiro
De poesia ou versos só,
Mas queira Deus, flores também,
Mesmo proibidas de colher...
Tomaz Kim
in Exercícios Temporais
colecção Poesia e Verdade, Guimarães Editores,1966.
Guilherme e Cristina, 1952
Na minha família, quem gostava mais do carnaval eram os meus avós, talvez por terem passado a infância no Brasil e se recordarem de grandes festas de carnaval dos seus tempos de juventude. Esta fotografia, tal como as anteriores, foi tirada no Saldanha, em Lisboa, onde viviam os meus avós maternos. O traje de Cristina, de “Leiteira Rica”, o do Minho que tenho vestido na foto de 1955, e o da Nazaré, da minha prima Verusca, na foto de 1964, eram de casa deles e deviam ter pertencido à minha mãe e à minha tia Stella.
Na minha adolescência não gostava do carnaval, porque na rua, além das bisnagas - que ainda vá que não vá - os miúdos atiravam-nos aos pés estalinhos de pólvora, de que eu tinha imenso medo, e arremessavam saquinhos de areia que aleijavam. A pobre Sylvie Vartan foi atingida no palco por vários, quando actuou em Lisboa, no Cinema Monumental.
Leia mais sobre o carnaval aqui
álbum de família de finais do séc. XIX
Em 2008 chegou-me do Brasil, pelo correio, este álbum. Um amigo, Carlos Pereira Marques, a quem eu falara no meu projecto, anunciou-me que uma sua prima, residente em S.Paulo, tinha em seu poder um álbum de fotografias da minha família, e que teria gosto em mo enviar caso eu estivesse interessada. O álbum pertencera a meu tio-avô materno António Guilherme Pereira de Carvalho (n.1893), o único de sete irmãos (dois rapazes e cinco raparigas) que se radicou no Brasil, onde o seu pai tinha uma casa comercial.
Escrevi a Maria Amália Fragelli, e, por fim, foi com expectativa e emoção que recebi o pesado embrulho, muito cuidadosamente embalado para resistir bem ao transporte. Não sei dizer ao certo o que esperava, mas a minha surpresa foi grande. Nunca tinha visto, muito menos folheado, um álbum deste género. Admito que existam em museus da fotografia (ver imagem no post anterior).
António Guilherme de Barros Pereira de Carvalho
1893-1939
O meu tio-avô casou com Julia Ruiz de Gamboa, de quem teve uma filha, Stella Maria, que foi Madre nas Irmãs Ursulinas e Directora da Faculdade de Letras da Universidade Católica do Rio de Janeiro. Lembro-me da emoção dos meus avós maternos aquando de uma visita de Stella Maria a Portugal, na época em que vivíamos na casa deles, nos anos 60.
Após a entrada de Stella Maria para o convento, a minha tia Julinha foi viver com a sua irmã. A filha desta, Maria Amália, conservou amorosamente o álbum até hoje.
Mais sobre os Pereira de Carvalho aqui
páginas de um álbum de fotografias,
Brasil, finais do século XIX.
Through photographs, each family constructs a portrait-chronicle of itself – a portable kit of images that bears witness to its connectedness. (...) Photography becomes a rite of family life just when, in the industrializing countries of Europe and America, the very institution of the family starts undergoing radical surgery. As that claustrophobic unit, the nuclear family, was being carved out of a much larger family aggregate, photography came along to memorialize, to restate symbolically, the imperiled continuity and vanishing extendedness of family life. Those ghostly traces, photographs, supply the token presence of the dispersed relatives. A family’s photograph album is generally about the extended family — and, often, is all that remains of it.
Susan Sontag
in On Photography, 1973
Leia outra citação da mesma obra aqui e mais sobre o meu álbum de família aqui
desenho de Paulo Ferreira (1911-1999)
Veja um retrato do artista aqui e para saber mais sobre Paulo Ferreira clique aqui
7º ano do Liceu
ano lectivo 1907-1908
António Deslandes Correia Caldeira Coelho (n.1888) é o segundo a contar da direita. Tem um ar sério na fotografia mas foi um homem alegre e caloroso.
As suas irmãs Rosita , Zeca e Irene não fizeram estudos formais e não sei que escolas frequentaram.
outra fotografia de António Caldeira Coelho aqui.
Ao centro
Maria José Deslandes Correia Caldeira Coelho
(1893-1986)
Zeca, irmã da minha avó paterna, foi das pessoas mais queridas da família. Muitas das fotografias e recordações que guardo dos Caldeira Coelho vieram da sua casa, que eu própria desfiz em 1986.
Um apontamento de Zeca:
Primeiras quadras que fiz nos meus tempos de rapariga nas festas de Stº António e S. João que a Rosita organizava para divertir os pequenos Gonçalo, Vasco e Maria Luíza, os três companheiros das brincadeiras e meus queridos sobrinhos:
Os cravos da nossa terra
São lindos, é natural
Pois se eles têm raízes
Nascidas em Portugal
Vamos saltar a fogueira
Vamos todos, eles e elas
Toca a correr de repente
Pra não queimar as canelas.
Outra foto de Maria José Caldeira Coelho aqui