O historiador Geoffrey Batchen diz que chegou o momento de o discurso histórico sobre a fotografia incluir tudo aquilo que o cânone tradicionalmente tem ignorado. O que quer dizer as fotografias lá de casa, as suas e as de toda a gente.
Toda a gente tem fotografias de família em casa. O que é que ganhamos em olhar para fotografias anónimas do mesmo género?
Elas condensam alguns dos nossos valores mais preciosos: as nossas noções de identidade, de relação com os outros. A família, por exemplo, é qualquer coisa que é constantemente reiterada nessas fotografias. Se quisermos perceber a história dessas relações, dos nossos elos emocionais com outras pessoas e lugares, devemos estudar a fotografia vernacular. Os instantâneos têm o potencial de ser invisíveis mas também são susceptíveis de gerar uma reacção emocional, funda, mesmo que sejam de outras pessoas.
Leia aqui a entrevista de Geoffrey Batchen ao Público
Cristina, 1963
William Faulkner usou esta expressão para dizer que sempre que escrevemos algo que nos entusiasmou particularmente, devemos cortá-lo do texto. Ao longo da composição do livro Retrovisor, um Álbum de Família deixei de fora muitas das fotografias que mais me entusiasmavam, em especial as muito antigas, mas não só.
É porém difícil matar as coisas de que mais gostamos e vou ressuscitar aqui algumas delas.
O fotógrafo Gabriel Tinoco. Data desconhecida.
Em 2002 decidi-me a arrumar as fotografias e os papéis de família, mais de vinte anos após o desaparecimento dos meus pais. Era uma grande quantidade de documentos e, antes de fechar tudo em caixas, senti o desejo de transmitir aos meus sobrinhos alguma coisa da vida e do mundo destes seus avós, cuja história é também a de um percurso ao serviço de Portugal, antes e depois do 25 de Abril.
Com as imagens que tinha à minha disposição era possível pensar numa fotobiografia da minha família. Devo confessar que só comecei a escrever depois de a designer gráfica me perguntar pelo texto, na nossa primeira entrevista. À medida que fui avançando, foram-se juntando à minha narrativa outras vozes: as dos protagonistas, através dos seus escritos, e as de autores de que me socorri para melhor descrever determinados contextos e personalidades.
Agora que o álbum de família de Margarida e Vasco Luís Futscher Pereira está praticamente fechado, abro este blog para anunciar a conclusão próxima do meu projecto aos familiares e amigos que por ele se interessaram e me ajudaram a concretizá-lo. Daqui para a frente, é na companhia deles, e também na sua, Caro Leitor, que gostaria de explorar um pouco mais os mesmos temas neste espaço interactivo.