Quarta-feira, 25 de Abril de 2018

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

terilene

 

 

 

José Cutileiro

 

 

O teor de terilene

 

 

Quando eu andava na escola, o 25 de Abril era a 28 de Maio. Na escola e por aí fora, quase até aos meus quarenta anos; depois mudou. Cada regime celebra o golpe militar que levaria à sua instalação: o Estado Novo festejava a revolta de Braga em 1926, chefiada pelo Marechal Gomes da Costa, que pouco tempo durou na chefia; a Democracia festeja a revolução dos cravos, com o General António de Spínola como figura de proa que também depressa se foi. Dos quatro regimes que tivemos no Século XX  - dez anos de Monarquia, dezasseis de primeira República, quarenta e oito de Estado Novo e agora a Democracia, toda foleira pelo Século XXI a dentro, deverá vir a ser esta a mais duradoura, quiçá mesmo muito mais duradoura, se o país vier a juntar mais uns mil anos àqueles que já viveu, quase todos com Rei (ou Rainha) absoluto ou constitucional.

 

«Os portugueses hão-de ser sempre os mesmos porque não há outros» dizia o primeiro Duque de Palmela, segundo me contou há anos o Vasco Pulido Valente, e gosto de o lembrar aqui porque eu não sou historiador e, quanto ao passado, prefiro fiar-me no que eles me digam a pôr-me a armar em carapau de corrida ou a armar ao pingarelho (o sargento-criptógrafo Pina dizia que não era bem a mesma coisa, eu acho, pelo contrário, que é exactamente a mesma coisa e o meu chorado Vasco Graça Moura, Deus lhe tenha a alma em descanço, dava-me razão e considerava o sargento – que ainda por cima era a favor do novo acordo ortográfico – um imbecil: o Vasco não tinha papas na língua). Mas se somos os mesmos há-de ser por genética e imitação de que nem sequer nos demos conta, que geração após geração, repetem-se  momentos – «A beber capilé, fica igual ao bisavô que eu ainda conheci» - e a propósito de capilé vem-me à ideia outro morto. Eduardo Calvet de Magalhães, que Deus tenha, irmão do pedagogo e do diplomata, tão esperto quanto os ilustres manos mas mais divertidos, inventou a publicidade moderna em Portugal e, numa altura em que Salazar não deixava entrar cá a Coca Cola, dizia ter inventado também o refrigerante português ideal – capilé gazeificado – tendo já slogan para ele:«A bebida que lhe corre nas veias».

 

Talvez haja em todos nós um ar de Sul da Europa, de Norte de África sem turbantes. Quando vivia em Princeton, vim a Coimbra, convidado ainda pelo Professor Ferrer Correia, a seminário sobre a Europa. Passava-se num antigo convento ao pé do rio; quando chegou a minha vez, passei para a mesa e me voltei para o público, poucos estudantes com capas, mas muita gente nova, e também velhas e velhos, achei-me de repente no Kosovo, onde eu ia muito nessa altura pelas Nações Unidas: as peles, os cabelos, as roupas, as expressões de espectativa resignada, os olhares. Senti-me quase em Pristina, sabendo que estava em Coimbra.

 

Contei isto dias depois a amigo da idade do meu filho, muito viajado e homem de bom conselho que me disse, meio espantado com o meu espanto:

«É o teor de terilene, Senhor Embaixador.»

 

publicado por VF às 11:51
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Quarta-feira, 24 de Maio de 2017

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

Domingo Ortega 1

Domingo Ortega

 

 

José Cutileiro

 

 

Hidrogénio ou Hydrogénio?

 

 

 

O Dr. Miranda de Lemos, professor de ciências naturais na Escola Valsassina, muito velhinho aos meus olhos de gaiato, marcava-nos erro em pontos e redacções se escrevêssemos hidrogénio sem ypsilon, como se devia escrever segundo a ortografia oficial da altura, que não era sequer nova em folha. Em 1911, logo a seguir ao derrube da monarquia – o galicismo mais pesado em consequências cometido pelo peito ilustre lusitano a quem Neptuno e Marte obedeceram – e à implantação da primeira República, reforma ortográfica fizera desaparecer do alfabeto que se aprendia na escola o k, o w, e o y. Mas, impecável no jaquetão caseiro de gola de veludo com que vinha dar aulas, cabeleira quase branca e olhos a faiscarem por detrás dos óculos de tartaruga, Miranda de Lemos não ia nisso – resistência de já 33 anos, quando os nossos destinos se cruzaram. Ao fio dos dias fui-me esquecendo dele mas voltou-me de repente à ideia, flamejante, muitos anos depois – e já há muitos anos – em intervalo do Rigoleto, numa frisa de S. Carlos para a qual a Teresa Gouveia convidara Vasco Graça Moura, eu e as mulheres que nos tinham na altura. O acordo ortográfico veio à baila e aí o meu chorado Vasco foi exemplar, dando cabo dele como Domingo Ortega despachava touros sem nobreza, rematando por baixo a lide de muleta – parar, cargar, templar y mandar, ordenava o Maestro – e acabando-os com meia estocada, que não mereciam mais.

 

Na primeira República, no Estado Novo, até na Revolução dos Cravos, as coisas eram assim. Havia mudanças – os três nomes acima davam de resto eles próprios sinais de mudança funda, com um antes e um depois (mesmo que nem sempre, em cada um dos dois lados, estivesse toda a gente de acordo sobre tudo. O poeta Guerra Junqueiro, por exemplo, republicano, autor de A Velhice do Padre Eterno, herói dos anticlericais quase até ao fim da vida, e da Santa Madre Igreja no fim mesmo, quando voltou ao seio dela e quis ser confortado com todos os seus sacramentos, ficou furioso quando se decidiu mudar da bandeira azul e branca da monarquia liberal para a bandeira de hoje. “Encarnado e verde são cores de preto!” tonitruou numa polémica) – mas mudanças levavam décadas e a gente ia-se habituando. Agora as mudanças são tantas em tão pouco tempo, que há quem pense que não se poderá continuar a viver assim, que num mundo em que robots façam tudo por nós, a palavra se arrisque a servir só para falarmos sozinhos. A guerrilha contra esse futuro aterrador já começou. Ontem, médico disse-me que nos dias em que a mulher o manda ao supermercado nunca paga nas caixas automáticas. Prefere esperar em bichas e tratar com as criaturas que restem (duas em doze caixas, no seu supermercado).

 

Combate inglório? Esta semana, nos Estados Unidos, a Ford despediu o seu PDG por a companhia estar a vender menos carros do que a Tesla cujos automóveis são eléctricos – e cujo serviço de investigação está inteiramente virado paras automóveis sem condutor. 

 

 

 

publicado por VF às 17:23
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Sexta-feira, 6 de Junho de 2014

O legado de Vasco Graça Moura

 

 

  1942-2014

 

 

 

Agora que a poeira começa a assentar sobre o desaparecimento de Vasco Graça Moura, sobre tudo o que se tem dito e escrito acerca desta personalidade, há duas ou três coisas que apetece remoer.

 

Ao amplo e merecido consenso público que em volta desta figura maior da cultura portuguesa se suscitou, num primeiro momento justificado pela óbvia proximidade da sua morte, sucederam-se as declarações, os artigos, as crónicas, os comentários de louvor póstumo. E foi aí que começaram a aparecer as frases condicionais e as conjunções adversativas. Os ses e os mas.

 

Um sortido rico de colunistas encartados tratou de vir a terreiro tirar o chapéu, que decerto não usa, e curvar-se em vénias de amplitude igualmente variada.

 

Mas, porém, contudo, todavia, no entanto, não obstante.

 

Uma grande figura apesar de não ser de esquerda. Incompreensível.

 

E essa incompreensão é já uma reticência, uma sombra, uma prevenção. Uma nódoa na iminência de alastrar.

 

Pior do que isso, alguns vieram ensinar às crianças e ao povo que o homem foi realmente uma grande figura, muito embora dado ao exagero. Veja-se o que defendeu em política. Veja-se esta coisa do acordo ortográfico. Fúria demasiado grande e sonorosa para assunto tão pouco merecedor. Se era razão para tanto empolamento. Uma vocação de cavaleiro andante perdida em damas de pouca categoria. Mas, claro, isso não tira que foi uma figura importante, então não, poeta e etecetera.

 

Irra!

 

A menorização deliberada da intervenção pública de VGM, quer na vertente da acção política, quer sobretudo na oposição ao acordo ortográfico, é um mau serviço prestado à memória do escritor.

 

Mau serviço porque em ambos os casos, VGM colocou empenhamento e seriedade no que apoiou e no que contrariou. E essas suas posições, ainda que por vezes conjunturais, esses seus combates, são parte inalienável do seu legado intelectual.

 

A desvalorização da questão do acordo ortográfico como questiúncula irrelevante, como caturrice contrária aos ventos da História e do Progresso, e até como toleima, é um «branqueamento» da sua natureza eminentemente política, e não linguística, e significa o triunfo — mais um — do novo-riquismo nonchalant, que se crê muito moderno e se supõe terrivelmente sofisticado.

 

Como queria, e cria, o escritor, jornalista e panfletário austríaco, Karl Kraus, talvez seja mesmo verdade que a decadência dos povos se evidencie em primeiro lugar no descaso da língua: nos seus usos, abusos e desusos. João de Araújo Correia, escritor menos obscuro do que muitos que por aí se pavoneiam, escreveu: «Sim, o povo é que faz as línguas. Mas quem as desfaz é a canalha». E, por isso, a resistência, porventura vã, de Vasco Graça Moura ganha um significado maior, político e cultural. Resistência, cuja derradeira linha de defesa é a sua própria obra poética, romanesca e ensaística que brota de amor ciente e paciente por esta tão desconsiderada língua — «no teu próprio país te contaminas/ e é dele essa miséria que te roça./ mas com o que te resta me iluminas».

 

 

Jorge Colaço

 

 

 

 

Nota:

 

Jorge Colaço é o autor dos blogs Conteúdos em Português e Retentiva. Sinto-me honrada e feliz pelo facto de ter escolhido publicar este texto aqui.

 

 

 

 

 

publicado por VF às 12:31
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Domingo, 27 de Abril de 2014

Vasco Graça Moura (1942-2014)

 

 

variação

 

                                                                            obscurent eum tenebrae et umbra mortis;

                                                                            occupet eum caligo,

                                                                            et involvatur amaritudine.

 

                                                                                                                       Job, I, 5

 

 

um verso envolto de amargura, "eclipse

nesse passo o sol padeça".

nas suas aliterações surdamente torturadas,

na sua imprecação contra o destino: à voz

 

 

das desventuras já pouco tempo resta no

ofício das trevas ciciado.

obscuramente a morte está na alma

do mundo. cinzas, cinzas

 

 

para a inquietação da vida, para o pardo avesso do tempo

medido a velas de cera, cinzas para a desolação,

silêncio para os silêncios. a terra erma

 

 

e dissonante, lá, onde a luz cala e a memória

se apaga, fulgor negro, adversidade, eclipse

nesse passo o sol padeça.

 

 

 

Vasco Graça Moura

in laocoonte

Poesia 2001-2005

Quetzal Editores/Bertrand Editora Lda, 2006

 

 

 

 

 

 

publicado por VF às 15:20
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Sexta-feira, 14 de Fevereiro de 2014

A poesia de amor de Vitorino Nemésio

 

 

 

 

[...] Aos 72 anos de idade, um ilustre poeta açoriano começa a escrever exaltados versos de amor tardio a uma mulher. Prolonga essa escrita por cerca de quatro anos e ela ocupa para cima de 220 páginas do volume agora editado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, em edição da responsabilidade de Luiz Fagundes Duarte, Caderno de Caligraphia e outros poemas a Marga. Pensa em publicar em vida uma parte substancial dessa poesia, embora o livro só venha a sair a 14 de Fevereiro de 2003, isto é, a seis dias de se completarem vinte e cinco anos sobre a sua morte e, pelo menos desta vez adequadamente, a coincidir por um acaso feliz com a data conhecida como «dia dos namora­dos». No deslumbramento que sente, há dois aspectos que permitem relacioná-lo com outros casos: um é o do Garrett das Folhas Caídas, já referido, experiência de maturidade e libertação erótica, vivencial e poética, que na época foi quase revolucionária, mas que hoje, ante os poemas de Nemésio, mais se diria uma tímida produção para ser estudada em colégios de freiras; o outro é um paradigma humano e literário que implica uma experiência em que se cumulam maturi­dade, consciência da idade vivida e rejuvenescimento: refiro-me ao de Fausto e Margarida, com alguma ambiguidade, aliás irrelevante, no deslizamento da identificação com a personagem, Fausto, para a identificação com o próprio autor, Goethe: «Que tudo isto, afinal, são glosas de Goethe e Margarida», diz Nemésio, ou ainda:

 

No amor de Margarida eu, Goethe, me renovo.

Ah, Goethe victorino, como estes Versos finos cansam!

Goethe, se o for,  —  Victória a Margarida!

 

Mas paz a Margarida

Na praia da Victória

Onde o mar amanhece

E lhe traz peixe fresco [...]

 

Para além dos vários jogos de palavras a partir da onomástica, de que fica dado um exemplo, a coincidência de nomes, habilmente explorada pelo poeta português, entre a heroína de Goethe e a musa de Nemésio, funciona de modo a estabelecer o paralelo entre dois homens idosos e sabedores, dois criadores, que se transfiguram pela experiência amorosa. E também nas idades das protagonistas haveria por certo uma notável disparidade, uma vez que a Gretchen do Fausto é uma jovem inexperiente e Margarida Vitória contava 54 anos muito vividos em 1973, à data em que estes textos eclodem e explodem... Mas o princípio actuante de ambas estas figuras femininas, na vida e, para o que nos interessa, na expressão lírica da criação literária, é semelhante porque ambas proporcionam aos seus interlocutores entreverem a recuperação da juventude perdida e um intenso sentimento de felicidade.

 

 

 

Vasco Graça Moura

in Discursos vários poéticos ["Anfíbios sistemas de palavras", ou a poesia de amor de Vitorino Nemésio* apresentação de Caderno de Caligraphia e outros poemas a Marga (IN-CM, 2003)]

Edição © Babel, 2013

texto ©Vasco Graça Moura, 2013

 

 

Imagem: aqui

 

publicado por VF às 09:48
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Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2010

Fedra

 

 

 

 

 

ENONE

 

 

 

 

Senhora, que fazeis? E que mortal pesar

contra aquilo que sois vos vem hoje animar?


 

FEDRA

 

 

 

Se Vénus assim quer, da triste estirpe minha

sou última a morrer, mais mísera e mesquinha.


 

ENONE

 

 

Mas amais?

 

FEDRA

 

É do amor que tenho tais furores.

 

ENONE

 

 

E por quem?

 

FEDRA

 

 

Vais ouvir um cúmulo de horrores.

Amo... E tremo de frio a nome assim fatal.

Amo...

 

ENONE

 

 

Quem?

 

FEDRA

 

 

Da Amazona o filho, sabes qual,

o príncipe a quem sou, tanto há, de aversão cheia?

 

 

ENONE

 

Hipólito! Ó Céus!

 

FEDRA

 

És tu quem o nomeia.

 

 

ENONE

 

 

Gela-me o sangue, ó Céus!, nas veias já não passa.

Ó desespero! Ó crime! Ó deplorável raça!

Ó viagem de azar! Ó margens lamentosas,

preciso era chegar-te às costas perigosas?

 

 

FEDRA

 

 

Vem de mais longe o mal. Quando ao filho de Egeu

pouco havia me unira a lei do himeneu,

e tudo em paz feliz dir-se-ia me ficou,

meu soberbo inimigo Atenas me mostrou.

Vi-o, corei, perdi a cor e de repente:

e a turvação subiu em mim perdidamente;

meus olhos já sem ver, eu sem falar poder;

todo o corpo senti como transido a arder.

Vénus reconheci e seu fogo implacável,

ao sangue que ela odiar tormento inevitável.

Assíduos votos fiz, cuidei que os desviava:

Um templo a ela ergui e eu mesma o enfeitava;

com vítimas em volta eu mesma guarnecida,

nos seus flancos busquei minha razão perdida,

para amor sem ter cura uma incapaz poção!

E a minha mão no altar queimou incenso em vão:

Quando a Deusa implorando a boca eu já movia,

Hipólito adorava; e ele era quem eu via

mesmo ao pé desse altar onde eu turibulava

e sem ousar nomeá-lo a um Deus tudo ofertava.

E sempre o evitei. Triste miséria, ai!,

revê-lo o meu olhar nos traços de seu pai.

Contra mim mesma enfim me pude decidir:

E a mim me encorajei a sempre o perseguir.

Inimigo a banir da idolatria à custa,

o desgosto afectei de uma madrasta injusta;

seu exílio exigi e meus gritos eternos

o arrancaram do seio e dos braços paternos.

E eu respirava, Enone, e desde a sua ausência,

dias menos febris corriam na inocência.

Submetida a Teseu, mas escondendo os lutos,

do himeneu fatal eu cultivava os frutos.

Vãs precauções! Cruéis em mim destino e vida!

Por meu próprio marido a Trezénia trazida,

o inimigo revi que eu soubera afastar:

Ficam-me em carne viva as feridas a sangrar,

Não é mais um ardor que em minhas veias erra.

É Vénus, ela só, que a sua presa aferra.

Concebi por meu crime um bem justo terror;

odiei vida e chama e vi-as com horror.

Morrendo eu quis cuidar de ter glória futura,

quis o dia livrar de flama tão escura:

mas choro e insistência em ti ver não podendo,

tudo te confessei, e já não me arrependo,

desde que desta morte acates a chegada

e não me aflijas mais nem me censures nada,

e que em socorro vão deixes de convocar

um resto de calor prestes a se exalar.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fedra de Jean Racine ( Acto I  - Cena III )

tradução de Vasco Graça Moura

 

© Vasco Graça Moura e Bertrand Editora, 2005

 

 

 

 

aqui

 

 

Fedra encenada por Patrice Chéreau em DVD  

aqui

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Sábado, 25 de Abril de 2009

Retrovisor

 

 

 

Sem título (2008)

Fotografia de Jean-François Blézot

 

 

 

Quando, em 2002, comecei a compor o meu 'livro-álbum de família' — e digo 'compor' porque foi sendo composto à medida que o ia escrevendo — chamava-lhe “álbum” ou “álbum M&V”, iniciais de Margarida e Vasco, os meus pais. Era este o nome que eu inscrevia a caneta de feltro, seguido do número de capítulo, nos CD de imagens e texto destinados à designer gráfica. Deve ter sido em 2004, ou 2005, que me dediquei à busca de um título, em índices de livros de poesia. Julgo, com efeito, que não haverá melhor lugar para procurar títulos. Depois de percorrer pelo menos uma dezena de índices, encontrei “Retrovisor”... no livro Bens Adquiridos, da autoria de minha mãe, Margarida Futscher (Guimarães Editores, colecção Poesia e Verdade, 1974). Ficou o assunto arrumado.

 

Passado cerca de um ano, algures em 2006, deparo-me com um livro intitulado Retrovisor: Uma Biografia Musical de Sérgio Godinho, da autoria do jornalista Nuno Galopim. Fiquei muito contrariada. Mesmo assim consegui evitar o pânico, não tendo chegado, por isso, a contemplar seriamente a hipótese de ir à procura doutro título. Primeiro sabia que dificilmente encontraria algum que me agradasse tanto, segundo, não creio que neste domínio existam exclusivos. Por último, mesmo que fosse crime, eu tinha um alibi muito sólido.

 

No ano passado, saiu Morte no Retrovisor,de Vasco Graça Moura. Desta vez, pelo contrário, a sensação de ver de novo a palavra "Retrovisor" na capa de um livro foi agradável, talvez por este título ter um perfume de filme noir, género que muito aprecio, e vir de um autor e personalidade que igualmente aprecio. Desdramatizei definitivamente a questão.

 

Agrada-me ainda que o retrovisor faça parte do automóvel, um dos objectos mais fotogénicos do século XX.

 

 

Mais sobre o livro (a sair em breve) Retrovisor, um Álbum de Família aqui

Retrovisor: Uma Biografia Musical de Sérgio Godinho de Nuno Galopim aqui

Morte no Retrovisor de Vasco Graça Moura aqui

publicado por VF às 10:40
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