Quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2017

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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José Cutileiro

 

 

Uma Europa alemã?

 

 

 

Os Deuses estão outra vez zangados connosco, pensariam Reis e Pontífices olhando à volta e talvez mandassem sacrificar vacas ou virgens se os tempos fossem para tais estratagemas. Mas não são: já não é por aí que o gato vai às filhoses. Na Europa, o Vaticano resistiu enquanto pôde mas Angelo Roncalli, mais conhecido por João XXIII, a cuja memória Pasolini dedicou o filme O Evangelho segundo S. Mateus, convocou o Concílio Vaticano II e começou uma grande mudança, tão grande que sobreviveu aos rigores do Papa polaco e ganha ânimo novo com as larguezas do papa Francisco. O meu chorado Nuno Bragança, católico progressista como se dizia na altura mas entusiasta lúcido desse progresso, achava que se João XXIII houvesse vivido mais dez anos “tinha dado cabo de tudo”.

 

Mas o Vaticano não é membro da União Europeia e é por causa do estado desta que tanta gente hoje dorme mal. Ataques a “união cada vez mais chegada” dos europeus, prometida fará sessenta anos no mês que vem no preâmbulo de tratado assinado em Roma, têm sido bem-sucedidos e outros estão na calha. Primeiro, o chamado Brexit, em que aldrabões sem vergonha convenceram populações inglesas ignorantes e (pela primeira vez há um século) mais pobres do que os pais tinham sido, de que seriam mais ricas e poderosas fora da União Europeia do que dentro dela. Mentira patética mas, com determinação de manada de bisontes trotando para se afogar no mar, políticos e burocratas meteram mãos à obra e não se vê marcha atrás. Segundo, o chamado Presidente Trump, maluco com mau fundo, que baixou para abismos inéditos os níveis - moral e intelectual - exigidos pela função sem que tal pareça ofender a sua base eleitoral, considera a Alemanha perigo maior do que a Rússia, e está constitucionalmente ao abrigo de junta médico-psiquiátrica. Terceiro, no futuro próximo, eleição provável de populistas na Europa. Em Março o partido de Geert Wilders deverá vir à cabeça na Holanda. Como a hipocrisia holandesa – que deveria ser património cultural distinguido pela UNESCO – não o deixará governar, coligação de outros se encarregará de ir aplicando o seu programa à socapa. A seguir em França Marine Le Pen poderá ser Presidente e, querendo proteger a produção nacional e sair do Euro, fará o descabello do touro europeu, malferido pela estocada do Brexit.

 

A esperança está na Alemanha onde há eleições em Setembro. A insistência desta na manutenção indevida de enorme superavit e a sua cegueira luterana diante das dívidas que a austeridade, em lugar de aliviar, vai aumentando não deveriam animar ninguém a vê-la como base de sustentação do que restar da Europa. Mas quer Merkel quer Schulz são europeístas convictos e Senhora que ousou abrir os braços a todos os desgraçados do Médio Oriente saberá explicar aos seus que poderão deixar reestruturar a dívida grega sem sequer darem por isso.

 

Ao princípio a ideia fora europeizar a Alemanha. À vista está a germanização do que resta da Europa. É a vida.

 

 

 

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Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2017

O Bloco-Notas de José Cutileiro

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José Cutileiro

 

 

 

Guerras dos Balcãs

 

 

 

Agosto de 1992 no bar do White’s. Peter Carrington fizera as apresentações. “Lord King: British Airways. José Cutileiro: ele e eu destruímos a Jugoslávia juntos”. King mediu-nos de sobrolho carregado e respondeu: “Tiveram alguma ajuda.” Muitos anos antes, outro inglês inventara fórmula lapidar, evidente nos tumultos e confrontações do nosso tempo naquela parte do mundo que Lord Carrington fora mandatado pelas Comunidades Europeias a resolver (encarregando-me a mim da Bósnia). Escrevera Churchill: os Balcãs produzem mais História do que aquela que são capazes de consumir. A ocasião mais célebre, assassinato em Sarajevo do herdeiro do Império Austro-Húngaro por estudante sérvio em Junho de 1914 levara à primeira guerra mundial – a Grande Guerra.

 

Em 1991 Mitterrand dissera a próximos seus que, se as Comunidades Europeias não existissem, as tensões com a Alemanha teriam sido ingeríveis – mas a gestão foi mais questão de maneiras do que de equilíbrio de interesses. A Alemanha impôs reconhecimento prematuro da Croácia aos franceses e aos outros parceiros (em 1945, a Croácia rendera-se aos aliados uma semana depois de Berlim), tirando força à Conferência Carrington. Depois disso, porém, salvo alguma ajuda dada aos kosovares (inimigos dos sérvios meus amigos são) portou-se outra vez com decência rara em grandes países.

 

Depois da morte de Tito em 1981 a Federação Jugoslava era construção frágil. Dominada por ele que, saído do lado vencedor da guerra, soltando-se do jugo de Estaline e sendo ajudado em troca pelas potências ocidentais declarou ter inventado regime novo, uma espécie de ‘terceira via’. Na realidade, era como se meretriz num bordel tivesse decidido sair, estabelecer-se por contra própria e chamar à nova empresa colégio de freiras. Sobreviveu à morte do fundador mas, dez anos depois, não resistiu ao fim da Guerra Fria. As guerras que se seguiram, na Croácia, na Bósnia, no Kosovo atingiram cumes de crueldade semelhantes aos das Guerras Balcânicas de 1912 e 13 – muito distantes da papelada moralista emitida por Nações Unidas e União Europeia. 

 

Já no século XX, à beira de extinção, Império Otomano e Império Austro-Húngaro digladiaram-se nos Balcãs; medram por lá memórias de ambos e uma Sérvia independente tão marcada pelas peripécias da História que o lugar mais sagrado do seu território é no Kosovo, onde a grande batalha patriótica – a Aljubarrota deles, também travada no século XIV – foi uma batalha perdida. E nhurros como touros enquerençados.

 

Consumidores de História a mais pairam constantemente, como abutres. Os Estados Unidos de Bill Clinton viram em Sarajevo governo muçulmano que lhes convinha ajudar, fizeram durar a guerra e os seus desastres mais três anos do que preciso, e inventaram depois paz que só presença militar estrangeira garante. Fortalecendo de caminho tradição criada no Afeganistão de ajudar e armar inimigos jurados do seu país e do Ocidente em geral.

 

Amiga queria saber dos Balcãs. Chegará?

 

 

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Quarta-feira, 9 de Novembro de 2016

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

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 @ The Washington Post (em actualização)

 

 

 

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O povo é quem mais ordena

 

 

 

Ah é? Ora toma lá que já almoçaste! Até as criadas ficaram consternadas: Ai a Dona Hilária, coitadinha, tão boa Senhora, depois de tudo quanto aturou ao marido apanhar com mais esta. O povo é quem mais ordena. O fazedor de TV- Realidade sabe que para se ser herói é preciso ser-se mau e meteu-se à obra, com veia de actor consumado. Fez troça de aleijados. Tratou as mulheres como no Antigo Testamento mas em calão de agora (calando fundo em almas evangélicas americanas: muitas mulheres votaram nele). Prometeu acabar com Obama-care, isto é deixar os pobres sem qualquer assistência médica, como estavam antes que só lhes faz bem em vez de viverem à custa dos outros. Rever os tratados comerciais de maneira a proteger o operário americano, isto é, decretar proteccionismo sempre que achar que for preciso para ser amado pelo povo (como nos anos trinta da Europa a caminho de fascismos e guerra). Tornar a pôr a tortura de suspeitos de terrorismo nas práticas de interrogatório militares e da CIA (waterboarding e “muito pior”). Aquecimento global é conspiração chinesa. Contra imigração clandestina, levantar muralha na fronteira com o México com o México pagar por ela. Tudo descrito em promessas eleitorais, porque o povo é quem mais ordena e ao povo não se mente mais do que ao clero ou à nobreza. (Há espíritos mal intencionados e já foram contadas quarenta mentiras por discurso em dias de inspiração, mas o povo gosta e o povo é quem mais ordena – em dias de menos inspiração, anda por vinte. Mentir, para o homem dos golfes e dos casinos, é um estado natural.

 

O efeito em nós, europeus, começa por medo de deixar de haver disposição americana para nos defender: há mais de meio século que contamos com ela e o susto faz frio na espinha. Além disso tudo quanto seja homófobo, misógino, racista, reacionário genérico (como nos medicamentos) animou imenso com a brutalidade tosca exibida por Trump e vai tornar mais difícil dia-a-dia de decência. O povo é quem mais ordena. Porque é que, quando a chamada classe política perde o fio à meada e tribunos populistas capturam o poder (às vezes, como Hitler, em eleições livres e limpas) e se instalam, estes são, invariavelmente, velhacos? De mesmo antes do nosso tempo: Lenine, Estaline, Hitler, Mussolini, Mao Tse Tung, Pol Pot… Não há um que se aproveite (os que agora parecem estar na forja - Putin, Erdogan, Orban - tampouco prometem virtude). De maneira que embora a democracia canse e pareça às vezes estar em risco tem-se acabado por voltar a ela à la Churchill. O povo é quem mais ordena. Mas quiçá isso mude. A democracia parlamentar talvez se tenha dado particularmente bem com a imprensa de Gutenberg e atribuições afins. Nas redes sociais de agora e do futuro previsível, onde sapiência e responsabilidade se diluem até ao desaparecimento, palpita-me que tudo possa ser diferente. Entretanto o povo é quem mais ordena - e um americano em cada quatro julga que o sol anda à roda da terra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 26 de Outubro de 2016

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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In real time e sem anestesia

 

 

 

Às vezes parece estarmos a assistir assim ao fim do projecto europeu. Na sexta-feira passada, em lágrimas, a ministra do comércio externo canadiana, saindo de encontro com o presidente do governo valão (região do sul da Bélgica cujos habitantes falam francês), governo que à última hora decidiu bloquear acordo comercial de grande alcance, começado a negociar há 6 anos entre a União Europeia e o Canadá, fez a declaração seguinte (cito-a em francês como ela falou):

 

« Au cours des derniers mois nous avons travaillé très fort avec la Commission européenne et avec beaucoup des pays des membres-états de l’Union européenne, y compris l’Allemagne, la France, Autriche, la Bulgarie, la Roumanie. Le Canada a travaillé vraiment et moi personnellement j’ai travaillé très fort.

 

Mais il semble évident pour moi, pour le Canada, que l’Union européenne n’est pas capable maintenant d’avoir un accord international même avec un pays qui a des valeurs si européennes comme le Canada, et même avec un pays si gentil et avec beaucoup de patience comme le Canada.

 

Le Canada est déçu. Moi personnellement je suis très déçue. J’ai travaillé très fort. Mais je pense que c’est impossible. Nous avons décidé de retourner chez nous et je suis très, très triste et c’est une chose emotionelle pour moi. La seule bonne chose que je peux dire c’est que demain matin je serai chez moi avec mes trois enfants ».

 

É bonito - e triste - mas afinal, sábado de manhã (altura em que escrevo estas linhas: por razões longas de enumerar devo acabar hoje o texto que irá para o ar – ou o éter ou a web, não sei como dizer – na próxima quarta-feira) a senhora está ainda em Bruxelas a negociar com o presidente do Parlamento Europeu antes de voltar para casa ainda hoje e talvez, depois desta peripécia, tudo fique pronto a tempo do jovem Trudeau (filho do velho Trudeau que já morreu e também foi primeiro ministro do Canadá) assinar na quinta-feira em Bruxelas, como previsto, o novo acordo. Esperemos que sim – mas o episódio é característico da doença que mina a Europa desde que a URSS acabou. O medo dela dava pulsões centrípetas aos países das Comunidades Europeias que iam ajudando a União a fazer-se. Agora cada um trata de si e liga pouco aos outros, como era costume dantes. O poder comercial da Europa vem da Comissão negociar com terceiros em nome dos países membros. Este verão, sob enorme pressão da Alemanha e doutros, contra a opinião dos seus serviços jurídicos, a Comissão deixou que nações pudessem negociar também. Levou mais tempo e estava quase feito quando a estrutura constitucional belga permitiu que os valões se metessem a desmancha-prazeres. O precedente vai enfraquecer a Europa.

 

E dá mais uma história belga. Má. A maioria flamenga, de economia mais rica, está furiosa e eu lembrei-me do meu colega belga de Estrasburgo, em 1979. « Tu sais ce que c’est que la pollution ? Un wallon dans la Meuse. Et la solution ? Tous les wallons dans la Meuse! ».

 

 

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Quarta-feira, 9 de Setembro de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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O bom e o bonito

 

 

 

Amigo entendido em política e em Europa mandou-me dizer que, sem desculpar o egoísmo de alguns governos europeus, “convém lembrar as declarações xenófobas e racistas do leader das sondagens do partido republicano na grande democracia norte americana (o “nosso” Orban nunca disse dos refugiados ou dos ciganos o que aquele palhaço diz dos mexicanos…) ou as valas comuns para onde na Malásia foram atirados e escondidos os imigrantes ilegais que ao chegarem a terra firme foram sumariamente assassinados. Como diria o outro: as coisas são o que são. Mas isso não é desculpa para que não tentemos mudá-las”.

 

De acordo mas, antes de lá voltar, a Malásia lembrou-me a Birmânia (agora Myanmar onde resiste, hoje em liberdade, a Senhora Aung San Suu Kyi, comparada a Mandela como símbolo de resistência democrática) onde a maioria budista atormenta pequena minoria muçulmana, maltratada e impedida de emigrar, vítima de constantes sevícias, infligidas por gente que nos habituamos de pequenos a ouvir descrever como pacífica e serena, numa espécie de superioridade espiritual que o budismo daria. Para aprenderem a ser bons, hippies europeus e americanos iam passar temporadas por essas bandas. Tempo foi. Vinte e cinco anos depois do fim da Guerra Fria, talvez tenhamos percebido que, logo a seguir ao bom senso, a maldade é a coisa mais bem partilhada do mundo.

 

Na Europa, há sobressalto geral perante, por um lado, a fotografia do menino curdo morto que deu à costa na Turquia, publicada nas primeiras páginas da imprensa europeia (mas em França, entre os grandes jornais, só em Le Monde – a maioria dos franceses acha que os refugiados não precisam de mais ajuda) e a decisão de Angela Merkel de exercer a chefia que se lhe pedia, com coração e cabeça melhores do que muitos julgavam que ela tivesse – e, por outro lado, o escandaloso tratamento dado aos refugiados na Hungria, onde, entre outras gentilezas, o governo de Vitor Orban os impede de apanhar comboios para a Alemanha. Alguns políticos europeus querem ostracizar a Hungria; outros não.

 

Europeus e norte-americanos têm enorme culpa desta desgraça. O grosso da tragédia vem da Síria onde o Ocidente, há anos incapaz quer de derrubar Assad quer de negociar com ele, deixou o Estado Islâmico medrar, prometeu ajudas e faltou, deu o dito por não dito, perdeu a face, suspendeu ajuda humanitária. Antes, com pretexto mentiroso que enganara muita gente e execução de incompetência abissal, lançara desordem mortífera no Iraque cujas consequências duram. E atacou a Líbia que, sem Khadafi, se transformou num entreposto de emigração clandestina.

 

Há quem se assuste por o Estado Islâmico ir metendo gente na Europa. O problema é mais grave. Sunismo salafita promovido e apoiado pela Arábia Saudita torna entendimento entre muçulmanos e o resto muito difícil em estados laicos como os nossos que ofendem intolerância islâmica. (Até na monarquia britânica, onde a Rainha é também chefe da Igreja Anglicana). 

 

 

   

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Quarta-feira, 22 de Abril de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

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Oh Senhor, é bom ser burro mas não tanto…

 

 

Assim desabafava, antes de nos dar zero, o major David dos Santos que tinha feito a Guerra de 14 na Flandres e nos ensinava matemática na Valsassina quando um de nós, chamado ao quadro, era incapaz de resolver o problema posto.

 

Gostava de ser um major David dos Santos gigante que tivesse por alunos os chefes políticos europeus de hoje e os chamasse ao quadro. Os problemas por resolver começam a ser demais e é incómodo em democracia que, como somos nós a escolher ou não quem manda em nós, ao fim de anos de mais do mesmo, a culpa é nossa também.

 

Deixo para o fim os naufragados do Mediterrâneo e começo pelo menos desculpável dos desmandos da turma de irresponsáveis: a austeridade, aplicada aos povos do sul da Europa (e aos irlandeses, sulistas deshonorários) depois da crise financeira de 2008. No clima de desregulação herdado de Reagan e de Thatcher, ganância financeira - desculpabilizada de vez pelo fim de medo da União Soviética - fez estalar a crise nos Estados Unidos, causando lá estragos inéditos desde 1929 pelo nome de crise das subprimes, e passou depois à Europa cujos governos, sob égide incontestada da Alemanha, a trataram com inépcia tal que passou a ser crise de dívidas soberanas. Inspirados por estudos entretanto desqualificados, contra teoria económica e bom-senso político elementar, julgaram que cortar salários e aumentar impostos iria estimular a economia. A história dessa austeridade é nossa conhecida: dívida maior agora do que antes do tratamento, crescimento nulo ou mínimo, desemprego desmoralizante, fim provável do projecto de União que reforçaria prosperidade e segurança europeias (foi bilhete de ida e volta…). Os Estados Unidos reagiram ao contrário e saíram da crise, nós persistimos no erro, com o ministro das finanças alemão a reger a banda, como se vivêssemos no melhor dos mundos possíveis sem ninguém dizer que o rei vai nu, enquanto demónios antigos regressam a galope - os do Sul não trabalham; os alemães são nazis; estrangeiros é má gente que nos rouba empregos e nos viola as filhas. (Certo: o paraíso não é deste mundo – por exemplo, nas últimas semanas moçambicanos foram assassinados na África do Sul, só por não serem de lá. Mas, para quem se pretende modelo social e pilar da protecção dos direitos humanos, é duro).

 

Como se não bastasse, a Europa, embora com força para pôr Google em tribunal (o que não tem qualquer dos estados que a constituem) não seria capaz de se defender sem ajuda dos Estados Unidos de quem a atacasse militarmente e não tem, até hoje, política externa que metesse respeito ao mundo e tornasse tal ataque menos provável.

 

E os mortos no Mediterrâneo – agora à razão de centenas por dia? Khadafi tinha-nos prevenido: sem ele a Líbia seria o caos - mas Sarkozy e Cameron quiseram dar uma de homem e deixaram-no linchar. E agora? Abrir os portos europeus a toda a gente? Invadir a Líbia e fechar os portos?

 

Há de vir o Diabo e de escolher.

 

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Quarta-feira, 15 de Abril de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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Fofocas

 

 

 

Na semana passada a Vera tinha-me prevenido – “Aqui ninguém pensa em guerra; têm medo de outras coisas mas guerra não lhes passa pela cabeça” – e eu modificara o texto mandado antes, procurando colocar o público em terreno que me conviesse.

 

Êxito mitigado. Leitora entre as happy few a quem eu mando o Bloco já paginado - escusam de o ir buscar elas (e eles) ao web, assim como dantes se faziam de livros pequenas tiragens fora do comércio, com exemplares numerados e impressos em melhor papel – pilar de discernimento na minha vida, foi a primeira a disparar: “Acho que estás a precisar de apanhar um bocadinho de sol, de ver o Guincho… ” Leitor com a cabeça mais bem arrumada que encontrei fora de grandes universidades inglesas e norte-americanas surgiu a seguir: “Almocei umas iscas de leitão muito simpáticas e estava bastante contente da vida, quando quiçá por praga rogada pela mãe do reco, me chega este murro do real para dificultar a pacífica digestão. Irra lá terei de chupar uma Rennie, para tentar recolocar-me no paraíso artificial.”

 

A leitora já foi sobrinha por afinidade do leitor - e também minha por, digamos, contra-afinidade. A família de pai, mãe, filhos, filhas, cognaticamente alargada, apesar das muitas bordoadas levadas desde que a minha geração chegou à idade de descasar, continua a ser o núcleo indestrutível e indispensável da vida dos portugueses (como verificou elegantemente num pequeno estudo empírico a Dra. Isabel Marçano, que não conheço nem sei se lê estes Bloco-Notas).

 

Em Portugal, a seguir à família, talvez o mais importante corrimão de escada seja o lugar de onde se venha, aquilo a que o emigrante Alves – conheci-o em Maputo mas a diáspora começara em França – chamava “a minha parvónia”, no meu caso Évora, Alto Alentejo. Deste, na semana passada, disseram também de sua justiça patrício e patrícia do meu mundo de correspondentes. Ele percebia o “desânimo que te provoca a cultura de mercearia europeia que não tem um só motivo para que qualquer jovem (e os respectivos progenitores) aceitasse morrer por ela”. Ela foi sucinta : “Que grande texto!” – tinha gostado da substância e da forma. Devo acrescentar que, já antes destes encómios, se eu tivesse de organizar duas bichas alentejanas, uma de homens e outra de mulheres, pô-los-ia à cabeça de cada uma delas.

 

Como os do Tejo para cima não têm no meu coração canto menos acolhedor do que os transtaganos (ou os algarvios), perguntei se teria sido pessimista a estrangeira que conhece o direito e o avesso da Europa comunitária e conhece Portugal sem a ternura difusa dos residentes estrangeiros (ricos) nem a raiva uns aos outros dos indígenas (ricos e pobres). Achou que eu não fora pessimista mas fora brutal. “Brutal como Al Capone ou como o Sermão da Montanha?” inqueri . “Como o Sermão da Montanha.”

 

Fiquei todo babado pois o mesmo me palpita que na altura tenha dito ao Filho Nossa Senhora, acrescentando à parte para Santa Ana: “Ai este rapaz, este rapaz…”

 

 

Imagem aqui

 

 

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Sexta-feira, 10 de Abril de 2015

My Years in Angola (4)

My Years in Angola (1950-1970)
Andries Pieter van der Graaf
 
Other posts:
 

My Years in Angola (1950-1970)

My Years in Angola (2)

My Years in Angola (3)

My Years in Angola (5)

 

 

In the 1950s, interest began in Angolan mineral resources, and Petrofina was the first to start drilling for oil. Oil discoveries remained limited, but oil did bring with it all sorts of other activities to Angola, and "Angola has never been the same again." Some years later, Petrofina built a small refinery just outside Luanda, and in spite of a difficult relationship with the government (which imposed all sorts of restrictions, royalties, and bureaucracy), production capacity kept increasing.

 

 

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oil rig, Cabinda

 

 

 

 

In 1957, Gulf Oil was given rights to drill off the coast of Cabinda, and in 1958 large-scale shipments of equipment came to Cabinda from America. American firms, such as Union Carbide, came to Angola to carry out soil resource studies, but their reports, to the extent that they were known, were not very positive. Work on iron ore had already begun, e.g., near Vila Salazar, as well as in the south, near Nova Lisboa and Sá da Bandeira.

 

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 Luanda Port

 

In 1960, the revolution took place in the Belgian Congo, which meant that many Belgian refugees, but also those of other nationalities, came to Luanda. The first sign of political unrest in the Portuguese African territories was the hijacking of the "Santa Maria" in January 1961.

 

 

Santa-Maria

 

Paris Match 1961

 

 

People thought that this ship, taken over by Galvão (who had held prominent positions in Angola), might come to Angola, but this did not happen. However, soon after that, during the night of the 3rd and 4th February, a bloody attack took place against whites and blacks in the northern coffee area, during which many hundreds of people, including women and children, lost their lives in the early hours of the morning. It was an act of frightful terror, in which the most appalling acts of cruelty took place.

 

Most certainly elements from the Congo were involved in this, who had gained influence over the local people, and many of the killings were carried out under the influence of drugs, marijuana, etc. This area of small coffee plantations was perhaps one of the most fertile areas for rebellion, for the conditions under which the natives worked were bad, and there had already been signs of dissatisfaction, but to which government officials had paid no attention. At the same time, there was an attack on the Penedo jail in Luanda, with a number of people killed, and some days later more clashes during the funeral for one of the victims. By March, people were already talking about organized terrorism in the northern areas, and refugees streamed into Luanda from those areas, mainly women and children. Luanda was in a state of great agitation, and many families left for Portugal or elsewhere at the first opportunity. The population also turned against the Protestant mission in Luanda, smashing all the windows of its buildings in the city.

 

 

 

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 Congo riots

 

 

For months and months you could hear machine-gun fire at night, coming from skirmishes at the city limits and the outskirts, the native neighbourhoods. Since there was very little military power to protect the people should a large scale attack by the natives take place, people were in a high state of anxiety, aggravated by all kinds of alarming rumours doing the rounds, such as imminent slaughtering of children in the schools, mass poisoning of the drinking-water supply, and so on. From the cotton districts of Cassange, to the east of Malange, again and again came news of mass uprisings, and there were people who believed that a complete encircling of Luanda by the blacks was not impossible.

 

 

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Angola Stamp

 

 

 

After that we were not able to visit those regions for some time, as it was too dangerous to travel there independently, and even in convoy it was hazardous. Many clients were still unreachable, as they had entrenched themselves behind walls and barbed wire. We had a consignment of "Jacaré" machetes, from Martindale, in our stocks, and these had to be handed over to the police.

 

Luanda's needs increased with refugees and soldiers swelling the city's population, and it was a matter of adjusting as best possible to this situation. Progressively the areas around Luanda were cleared, and people could once again travel in the direction of Cacuaco, and later as far as Caxito, but further north, so some 100 to 150 km from Luanda, travel remained unsafe.

 

to be continued...

 

Andries Pieter van der Graaf Jan/Feb 1974

Translated by Elizabeth Davies (van der Graaf) 
March 2012

 

Previous posts:

My Years in Angola (1950-1970)

My Years in Angola (2)

My Years in Angola (3) 

 

Full text:

The memoir of Andries Pieter van der Graaf is in two parts: Part 1 (written in English) starts in 1909 with his birth, and provides a vivid description of his early life in Krimpen aan de Lek, a small community near Rotterdam; of the effects of the Depression on the family; and of his experiences during the war. In Part 2 (written in Dutch, translation into English provided), he takes us from his first day in Angola, through his years learning how to run a Dutch trading company in Angola in colonial times, to his fascination with Angola and its peoples.

 

www.asclibrary.nl/docs/341/217/341217840.pdf

http://www.asclibrary.nl/docs/341220647.htm

 

Album "Vintage Angola" on Flickr 

 

 

Many thanks to Elizabeth Davies (van der Graaf) and her family for allowing me to adapt the text and to illustrate it by using photos from the family's collection.

 

Muito agradeço a Elizabeth Davies e sua família que autorizaram gentilmente a edição do texto para publicação neste blog e disponibilizaram fotografias do espólio do autor.

 

 

Photos

Oil rig: Fotos Cabinda  

Paris-Match: Pitigrili 

Congo riots: ammafricaworld 

 

 

 

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Quarta-feira, 25 de Março de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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Mapa da batalha de Waterloo 

 

 

 

 

 

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Waterloo

 

 

 

De imprevisto, a palavra poderia significar retrete em estância termal, na fala de algum condado do centro de Inglaterra, por exemplo, mas não - era nome de aldeia, então no sul da Holanda, que saiu da insignificância porque Wellington lá pernoitou e estabelecera quartel-general na véspera da última batalha que Napoleão travou, a 18 de Junho de 1815. Napoleão pernoitara a alguns quilómetros, na Ferme du Caillou, perto da aldeia de Plancenoit, onde estabelecera o seu quartel-general. (A cama de campanha ainda lá está e mostra que o Imperador nascido na Córsega era realmente pequenino). Se Napoleão tivesse ganho – e como dizia sem domínio do português idiomático, sueca que conheci: “Foi pela unha de um preto…” - a história dir-nos-ia da batalha de Plancenoit e a União Europeia haveria sido fundada século e meio mais cedo. 124 anos depois desse fiasco, foi a vez de alemão nascido na Áustria tentar a sua sorte mas tampouco se saiu bem. Como, entre a primeira e a segunda tentativa, a revolução industrial florescera, mortandade e prejuízo material na Europa foram incomparavelmente maiores nos 6 anos da Segunda Guerra Mundial do que na década das campanhas napoleónicas. De maneira que, com cidades e campos arruinados, ajuda material americana voluntariosa e terror salutar de Tio Zé Estaline & Herdeiros, os europeus para cá da Cortina de Ferro meteram-se à terceira tentativa, ainda em curso, de União Europeia. Três diferenças graúdas - e ligadas entre si - a separam das duas tentativas anteriores: está a ser feita a bem e não a mal, com votos e não com balas; hoje, nenhuma potência europeia tem poder que, sozinho, contasse no mundo; França e Alemanha, inimigos históricos, juntaram-se para serem “o motor da Europa”. Nem sempre tudo vai de vento em popa: tanta paz torna-se irritante sobretudo para quem, macho ou fêmea, seja novo e esteja desempregado. Desenvolveu-se indústria, assim uma espécie de app, para culpar Bruxelas de todas as nossas desgraças e querer extrair das pátrias - como um minério - bem-aventuranças de que a União nos privou. Se a economia recuperar ao ponto de criar empregos – e é um grande Se - não há de ser nada. Se não recuperar…

 

A Bélgica que na altura da batalha não existia ainda mas que hoje dela recolhe fama e proveito, prepara festejos de arromba, incluindo restituição de partes da batalha. A seguir à vitória, o Príncipe de Orange fez erguer a colina cónica com o leão em cima que desfeou para sempre a paisagem e passou a ser emblema do lugar. Desde o começo o sítio foi adaptado para celebrar e festejar. O curioso é que celebra Napoleão. Wellington era muito alto mas o grande homem era o outro.

 

O primeiro centenário caiu durante a Grande Guerra e mal se deu por ele. O terceiro terá porventura a batalha revivida por robots. E lá mais para diante, viajando-se para traz no tempo, talvez Napoleão, Wellington, o cavalo Copenhague e o resto do pessoal tornem a dar um ar da sua graça à morne plaine .

 

 

Imagem: aqui

 

 

 

 

publicado por VF às 09:36
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Sexta-feira, 20 de Março de 2015

My Years in Angola (1950-1970)

 

 

A.P. van der Graaf

 

 

Andries Pieter van der Graaf (1909-1996) spent almost his entire professional career (1928-1970) with the Dutch company Zuid Afrikaans Handelshuis (ZAH). In 1950 he was posted to Angola to act as managing director of the Luanda Office. He served as Dutch Honorary Consul from 1952 till 1971.

 

It is with great pleasure that we present in Retrovisor excerpts from a memoir in which he tells about his experiences learning to run a Dutch trading company in Angola in colonial times and his fascination with the country and its peoples.

 

Many thanks to Elizabeth Davies (van der Graaf) and her family for allowing me to adapt the text and to illustrate it by using photos from the family's collection.

 

 

 * * *

 

 

I visited Angola for the first time in 1950. ZAH (Zuid Afrikaans Handelshuis) had two offices there, one in Luanda, the other in Nova Lisboa. The area covered by the Nova Lisboa office was mostly that along the Benguela Railway: a section from the coast to the border with the Belgian Congo (Katanga). The purpose of my stay in Nova Lisboa was to familiarize myself with the activities that the business had in Africa. Luanda always brought in good year-end results, but paid very little attention to the advice and instructions coming from Head Office, causing continued conflict.

 

 

 

Untitled

Zuid Afrikaans Handelshuis, Luanda c. 1960

 

 

 

The ZUID building in Nova Lisboa was a warehouse, mostly. Trade was mainly in foodstuffs, textile, construction materials, paint, small agricultural tools, general merchandise, and so on.

 

Massive square piles of cotton cloth were the first thing you saw. The cotton prints that attracted the greatest interest were the ones that had just arrived: "novidades". In the area around Nova Lisboa, "pintados" ("blue print"), originally from Germany (Fritz Becker), were still in general use, and worn by both men and women. It was dark blue material with white lines or spotted patterns.

 

Casa Holandesa

 

 

Casa Holandesa

 

 

Sometimes business contacts arrived from the interior with elephant tusks. Their weight varied from 10 to 40 kg, sometimes even more. Consignments were made up and eventually shipped to Holland, where there was always a great deal of interest in these tusks. The tusks were mainly used to make billiard balls. Other products from the upper plateau which were exported by ZUID were beans, castor seed, manioc (cassava, Portuguese: crueira) and sesame seed; and from the river basins: palm nuts, palm oil; also Arabica coffee, as opposed to Robusta, which was practically the only kind of coffee grown in the north of Angola.

 

 

 

Angola Mapa anos 60

 Map of Angola c. 1960

 

 

 

During the eight months I spent in Nova Lisboa, I made a number of trips to the coast. In the rainy season, these trips often had to be postponed, as the road was poor, and very little was done about this, as the Railways, who had a great say in the matter, felt that good road connections would harm the railway's interests.

 

7 Ferry across the Quanza

 

Ferry across the Cuanza

 

 

On the road from Sá da Bandeira (formerly "Lubango") to Moçamedes, I saw groups of zebra grazing near the road, and further off, herds of springbok, leaping to get out of the way. There are very few springbok left nowadays. The Portuguese name for them is "cabra de leque." "Leque" means "fan," and when alarmed, the hair on their backs stands up on end.

 

 

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 Cabra de Leque

 

 

Benguela itself still had the appearance of an old slave town, with the old walled enclosures still there, where the slaves were kept after their arrival from the interior until being shipped away. Other than that, the most striking things were the red-colored earth and the orange blossoms of the acacia rubra (flame tree).

 

 

Nova Lisboa, Angola 1960

 Nova Lisboa c. 1960

 

 

 

 

 

Benguela

 Benguela, c. 1960

 

 

I remember that one morning, a young native man who always travelled with us to help with the bags, told me that "the rain had rained during the night." This was the first time I had come across the typically Bantu personification of natural phenomena.

 

 ... to be continued... 

 

 

Andries Pieter van der Graaf

Jan/Feb 1974

Translated by Elizabeth Davies (van der Graaf) 2012

 

Other posts:

My Years in Angola (2)

My Years in Angola (3)

My Years in Angola (4)

My Years in Angola (5)

 

 

Full text:

The memoir of Andries Pieter van der Graaf is in two parts: Part 1 (written in English) starts in 1909 with his birth, and provides a vivid description of his early life in Krimpen aan de Lek, a small community near Rotterdam; of the effects of the Depression on the family; and of his experiences during the war. In Part 2 (written in Dutch, translation into English provided), he takes us from his first day in Angola, through his years learning how to run a Dutch trading company in Angola in colonial times, to his fascination with Angola and its peoples.

 

www.asclibrary.nl/docs/341/217/341217840.pdf

http://www.asclibrary.nl/docs/341220647.htm

 

 

Album "Vintage Angola" on Flickr 

 

 

Notes:

Map of Angola: Veteranos da Guerra do Ultramar

Nova Lisboa and Benguela: Tempo Caminhado 

 

 

publicado por VF às 09:43
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