Quarta-feira, 2 de Dezembro de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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Giovanni Francesco Rustici (ca. 1495)

 

 

 

 

 

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Civilização

 

 

 

André Malraux, escroque francês de génio que se distinguiu nas letras (L’Espoir, La Métamorphose des Dieux), na guerra contra o fascismo (Brigada Internacional em Espanha), na guerra contra o nazismo (Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial) e na política (ministro da cultura de De Gaulle que, quando o amigo François Mauriac, prémio Nobel da literatura, lhe perguntou como conseguia aturá-lo, respondeu: “Malraux c’est mon vice”), escreveu: “Nós somos a primeira civilização consciente de ignorar o significado do homem.”

 

Era bom, era. O “nós” de Malraux referia-se a um grupo de pessoas muitíssimo mais pequeno do que aquelas que a nossa “civilização” abrange. Apesar de nas escolas actualizadas dos países mais desenvolvidos se aprender que o Big Bang, origem de nós e de tudo o resto, se deu há 13,8 biliões de anos, nada se sabendo do nada que houvesse antes, a vasta maioria da gente – sem chegar aos excessos de literalismo bíblico dos evangélicos americanos (ou, noutra variante de monoteísmo, igualmente candidata a civilização, ao literalismo corânico dos salafistas sauditas) – conforta-se com mitos de criação e redenção que – tal como água de Fátima desde que seja fervida – não fazem mal a ninguém, a não ser se, como acontece agora entre os salafistas, exijam a matança dos infiéis. (Há uns séculos também éramos assim: “E com muitas Ave Marias e pelouros nos fomos a eles e os matámos todos num credo” conta Fernão Mendes Pinto, com o desembaraço de um tempo em que não havia ONG dedicadas aos direitos do homem nem governos empenhados na salvaguarda do estado de direito).

 

No século XX os europeus (e os chineses) foram apanhados em cheio por novo mito, na aparência tão radicalmente diferente das restantes fés – também vinha curar os nossos males mas tudo se passaria neste mundo - que podia ser tomado por outra coisa. Raymond Aron chamou-lhe o ópio dos intelectuais. O estardalhaço foi enorme mas o paraíso não se instalou na Terra. Gato por lebre, dirão alguns, mas o problema é que a lebre, ou melhor, as lebres também não dão conta do recado. Ao mesmo tempo que ser marxista passou a opção privada (assim como ser vegetariano ou filatelista), fés mais antigas - duradouras por nunca terem caído na esparrela de se considerarem ciência - reapareceram no esplendor da sua intolerância. E no mundo globalizado de hoje podem chegar a toda a parte. Na Birmânia, maioria budista maltrata sem dó nem piedade minoria muçulmana. 1.300 anos de cizania sangrenta entre sunitas e xiitas levaram o mês passado à matança de Paris, inspirada, planificada e executada por salafistas.

 

A Europa, adubada pelo Iluminismo, separou a igreja do estado: não matamos nem morremos por mitos religiosos. Considerá-la fortaleza cristã é disparate nocivo. A sua força vem da tolerância. É para defesa desta contra intolerâncias (budista, sunita, xiita, calvinista, católica romana, marxista, o que for) que precisamos de nos armar até aos dentes.

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

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 Foto Sonda Cassini

 

 

 

 

 

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Agora e na hora da nossa morte

 

 

António Alçada Baptista travou-me o braço e disse-me enquanto atravessávamos o foyer do teatro Maria Matos onde nessa tarde havia uma recepção: “Estou a escrever um livro porreirinho sobre Deus”. Eu chegara de Oxford uma hora antes para meia dúzia de dias na Pátria, não nos víamos há meses e assim recebi anúncio da Peregrinação Interior. Da boca do cavalo, dir-se-ia em inglês.

 

Tempo mais simples do que o nosso de hoje. Três séculos intensos de zaragatas europeias tinham acabado em muitos lugares por separar a Igreja do Estado; blasfémia era pecado mas deixara de ser crime. A fé de cada um - como os gostos de cada um - não se discutia. O nazismo fora derrotado e destruído; o comunismo estava cantonado até que o seu próprio peso o fizesse desmoronar. Na Europa Ocidental vingavam decência entre governantes e governados e comedimento na partilha do latifúndio, inéditos na história.

 

O Portugal de O Tempo e o Modo esperava pelo 25 de Abril e o Deus do António era o Deus hebraico de Abraão, Isaac e Jacob, mais tarde também de Jesus Cristo e, mais tarde ainda, de Abu Al Cassem Ben Abdalá Ben Al Mutalibe (Maomé significaria O Glorificado). Os estragos feitos ao longo da história pelo monoteísmo começavam a ser esquecidos em ambiente que André Malraux apreendera bem: “Somos a primeira civilização consciente de ignorar o significado do homem”.

 

Éramos. Talvez ainda se escrevam livros porreirinhos sobre Deus, nos quais a leitora encontre apreciação da vida, benevolência e tolerância, longe de polémicas teológicas – longe, na aparência, de qualquer teologia. Mas onde hoje mais ouvimos falar de Deus, é nos feitos do Estado Islâmico do Iraque e da Síria ou de Boko Haram na Nigéria, um Deus antropomórfico, primitivo, cruel, sangrento, cujos fiéis oferecem à outra gente conversão ou morte – ou começam matando, se mais jeito der. Nova Iorque, Washington, Londres, Madrid, Paris, Copenhague – a procissão ainda vai no adro. E, em partes da cristandade – por exemplo, na Rússia – igrejas opressivas recuperam poder temporal.

 

Entretanto, a ciência vai mudando o conhecimento do mundo de maneiras tão inesperadas e com tal rapidez que o presente – e não apenas o passado – às vezes é como se fosse país estrangeiro, com língua e hábitos diferentes dos nossos. Mudanças de paradigma sucedem-se em cascata. E a passagem de novas teorias, intuições, palpites, de mentes científicas para entusiasmos leigos faz-se num momento e sem filtro, devido à panóplia de meios de comunicação hoje ao dispor de cada um.

 

Nesta mistura adúltera de tudo, diz-me amigo entendido em coisas americanas, lá quase todos os movimentos feministas debatem o género da divindade, ao ponto de usarem o feminino nas orações. E que Deus seja um robot, nem macho nem fêmea, dados os progressos em inteligência artificial, etc., será decerto sugerido um dia destes. Separando de uma penada o físico do moral; o que é do que deveria ser. Até à guinada seguinte…

 

 

 

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Domingo, 3 de Fevereiro de 2013

Mémoires intérieurs

 

 François Mauriac



Ce qui longtemps m'a surtout frappé dans une vie, c'est le divertissement, tel que Pascal l'a défini: ce que nous inventons pour ne pas penser à nous-même et à l'horreur de notre condition, depuis la balle qui se pousse du pied jusqu'au lièvre que nous forçons, depuis les peuples qu'il faut asservir, si nous sommes César, jusqu'aux êtres qu'il faut posséder, si nous sommes Don Juan.

Aujourd'hui, ayant observé tant de destins, à travers les confidences et les livres, ou parce que j'y suis moi-même intervenu, je vois mieux que beaucoup parmi nous ne se divertissent que pour donner le change, qu'ils gardent au contraire les yeux sans cesse ouverts sur leur sort, celui de toute créature qui, même comblée, est mena­cée de partout à la fois: dans sa chair où la mort, bien longtemps avant de frapper, a planté ses petits drapeaux, dans son appartenance à une espèce très proche de celle des poissons et qui s'entre-dévore, « s'entre-torture » — et non pas seulement, comme dans les autres espèces, autour des femelles ou parce que l'animal est carnassier et a faim, mais parce qu'il est né assassin et bourreau de ses frères.

Non, pour la plupart, nous ne cherchons pas à nous divertir, nous nous interdisons de détourner notre regard, même quand nous feignons de jouer. Un seul moment d'inattention et la bête féroce peut d'un bond être sur nous.

Je connais mes défenses. Il m'arrive de m'interroger sur celles des autres — celles des vieillards surtout. La jeunesse trouve son refuge dans son propre tumulte. L'amour, l'ambition, ce qui s'appelle le plaisir, y entre­tiennent des remous qui se détruisent l'un l'autre. Non que l'angoisse ne soit là déjà. Elle était là dès l'enfance: nos yeux grands ouverts dans la chambre sans lumière, lorsqu'il nous semblait entendre un pas furtif dans l'esca­lier, une respiration derrière la porte, exprimaient sans doute le même effroi que nous avons appris plus tard à dissimuler, que nous avons dominé mais non détruit. Ou plutôt ce qui n'était qu'instinct est devenu raison. Les pas dans l'escalier, c'est en nous-mêmes que nous avons appris à les entendre et non dans un seul escalier: combien débouchent de partout sur une seule vie ! Il en est qui montent des profondeurs de la race et de notre propre chair, et d'autres d'une créature aimée. La condi­tion humaine, ce titre de Malraux, pose l'unique question et il y faut répondre, non par une nécessité logique, mais pour notre propre défense. Comment font les autres? Qu'y a-t-il au secret de ces vies?



François Mauriac

in Mémoires intérieurs

© Flammarion, 1959



 

 

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Domingo, 13 de Setembro de 2009

Histoire(s) du Cinéma

 

 

 

 

 

 

 O cinema olhou sempre menos para o mundo do que olhou para o mundo a olhar para ele. E quando apareceu a televisão, esta rapidamente substituiu o mundo e deixou de olhar para ele. Quando se vê televisão, nunca se vê que a televisão nos está a ver. Mas quando Ingrid Bergman esconde uma chave na mão, essa chave está a olhar para nós. E isso acontecia numa altura em que não queríamos ver o mundo no estado em que os campos o tinham deixado.


O cinema desapareceu nesse momento. Desapareceu porque prenunciou os campos. Chaplin, que era um caso único, conhecido como nunca ninguém foi conhecido, Chaplin, em quem toda a gente acreditava, pois bem, quando fez  The Great Dictator ninguém acreditou nele. Podiam ter acreditado ao menos um pouco. E quando Lubitsch ousou dizer "So they call me Concentration Camp Ehrhardt", as pessoas disseram: "De que está ele a falar? Está doido!". Mesmo sendo ele judeu, um imigrante, plenamente consagrado na comédia. De repente, as pessoas deixaram de rir. Alguma coisa aconteceu.


Retrospectivamente, foi nessa altura que disse a mim próprio que enquanto realizador, enquanto fazedor de filmes, estou em território ocupado. Estou na Resistência. Faço-o mais ou menos bem. Sou provavelmente como René Hardy ou Trepper, como naqueles romances de que gosto tanto onde se trabalha para todos os lados, já sem realmente saber para qual. Estamos em território ocupado. Na minha opinião, quando Lelouch tem sucesso, é um Otto Abetz para um Resistente em França. E Tavernier é um "vichyista", na minha opinião. Foi deste ponto de vista que escrevi a Malraux - e Deus sabe como admirava Malraux, e ainda admiro - sobre La Religieuse. Escrevi: "Escrevo-lhe de um lugar distante - a França Livre".


Mas como, apesar de tudo, esta não é uma ocupação real, somos um pouco marginais e estamos um pouco falidos. É por isso que de vez em quando temos que dizer: vamos tentar outra vez. Questionamo-nos sempre no fim, bem, na alvorada do crepúsculo das nossas vidas. É então que nos perguntamos a que história(s) pertencemos...

 

 

 

 

 

 

 

 

O cinema começou mudo, e foi muito bem sucedido. O som, como a cor, foi sempre uma opção. Tinham os seus próprios processos, mesmo que não fossem tecnicamente perfeitos — ainda hoje não são... Mas não queriam o som. Mitry e Sadoul descreveram como Edison demonstrou o seu cinema falado, mas tudo estava já em marcha no Grand Café. Primeiro houve doze discípulos, depois trinta, quarenta, e finalmente quatrocentos milhões. Só mais tarde quisemos o cinema sonoro, o que, para mais, se explica muito bem por circunstâncias sociais. O sonoro veio num momento histórico, quando Roosevelt falou mais alto, a democracia falou mais alto, e disseram: New Deal. E depois de alguns "crashes" da bolsa, o fascismo falou mais alto, e Hitler disse aquilo que disse. O "dizer", mas um dizer "errado", passou a dominar. Não foi Freud quem tomou o poder na Alemanha, foi Hitler (e no entanto eram vizinhos, e viviam a poucas ruas de distância).


Apesar da Inquisição espanhola, apesar das guerras napoleónicas, apesar de tudo, tinham acontecido algumas conquistas humanísticas nada insignificantes. Para as preservar - apesar do horror absoluto dos campos de concentração - o que aconteceu foi que, definitivamente, "ver" e "dizer se tornaram uma só coisa", e portanto os outros objectivos tiveram que ser redefinidos. E só o cinema o podia fazer. [...]


Não é uma questão de ser testemunha. É porque era o único instrumento - nem o microscópio, nem o telescópio, só o cinema. Achei sempre alguma coisa de tocante na obra de um realizador de que só gosto moderadamente, George Stevens. Em A Place in the Sun, há um sentimento profundo de felicidade que muito raramente se encontra noutros filmes, inclusive filmes muito melhores. Um sentimento de felicidade simples, profano, um momento com Elizabeth Taylor. E quando descobri que Stevens tinha filmado os campos, e que nessa ocasião a Kodak lhe tinha dado os seus primeiros rolos de película 16mm colorida, percebi como é que ele pôde fazer esse grande plano de Elizabeth Taylor irradiando uma espécie de felicidade assombrada...

Jean-Luc Godard em entrevista a Serge Daney (“Libération”, 26 de Dezembro de 1988)
Tradução: Luís Miguel Oliveira
in Godard 1985 1999
Edição Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 1999

 

 

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Quinta-feira, 23 de Julho de 2009

Malraux

 

Malraux et moi, ce fut une grande histoire, et j'aimerais trouver pour en parler aujourd'hui les accents de ma passion d'alors, qui exaspéra souvent mes amis les plus intimes, et fit rigoler les autres. J'éprouve la même difficulté que les gens qui racontent un premier amour. Je l'aime toujours, bien sûr, mais mon coeur ne fait plus un bond en voyant ses photos, mes joues ne se mettent pas en feu chaque fois que j'entends prononcer son nom, mon coeur n'est pas 'brûlant dans ma poitrine' quand je parle de lui. C'est un peu poussiéreux ; cela devrait me rassurer, mais m'attriste, en réalité. Reste toujours sa voix. Je ne peux pas l'entendre sans que mon poil se hérisse, et que ma gorge se noue. Il est mort, bien sûr, mais le fait qu'il fût vivant n'a jamais eu une grande influence sur notre vie commune.

 

Alix de Saint-André

in Il n’y a pas de grandes personnes

© Gallimard 2007

 

 

 

 

 

 

Malraux, Proust, Chateaubriand e Rousseau revisitados com a paixão e o sentido de humor de Alix de Saint-André. Imperdível.

 


Oiça a voz de André Malraux numa entrevista sobre as suas Antimémoires aqui

 

Mais sobre Alix de Saint-André neste blog aqui 

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Sexta-feira, 17 de Julho de 2009

Antimémoires (3)

 

 

 

 

 

 

1958/1965

 

Dans la voiture qui me reconduisait, je pensais à notre première rencontre.


Ses moustaches devenues grises étaient à peine visibles, et sa bouche continuait maintenant par deux rides profondes qui rejoignaient son menton. « Avez-vous remarqué, m'avait dit Balthus, que, de face, il ressemble au portrait de Poussin par lui-même? » C'était devenu vrai. Et peut-être l'Histoire apporte-t-elle son masque avec elle. Le sien s'était nuancé, au cours des années, d'une apparente bienveillance, mais il demeurait grave. Il semblait ne pas exprimer les sentiments profonds, mais se fermer sur eux. Ses expressions étaient celles de la courtoisie; et, quelquefois, de l'humour. Alors l'oeil rapetissait et s'allumait à la fois, et le lourd regard était remplacé pour une seconde par l'oeil de l'éléphant Babar.


Connaître un homme, aujourd'hui, veut surtout dire connaître ce qu'il y a en lui d'irrationnel, ce qu'il ne contrôle pas, ce qu'il effacerait de l'image qu'il se fait de lui. En ce sens, je ne connais pas le général de Gaulle. «Connaître les hommes, pour agir sur eux...» Pauvres malins! on n'agit pas sur les hommes par la connaissance, mais par la contrainte, la confiance ou l'amour. Un long commerce avec le général de Gaulle m'avait pourtant rendu familiers certains de ses processus mentaux, et sa relation avec le personnage symbolique qu'il appelle de Gaulle dans ses Mémoires ; plus exactement, dont il a écrit les mémoires, où Charles ne paraît jamais.


Peut-être la distance qui m’avait intrigué lorsque je l'avais rencontré pour la première fois venait-elle en partie d'un caractère que Stendhal a noté au sujet de Napoléon : " Il dirigeait la conversation... Et jamais une question, une supposition étourdie... "


Mais que l'empereur quittât son rôle (et même parfois lorsqu'il le conservait), apparaissait le Napoléon coléreux ou comédien, le mari de Joséphine, l'amateur de niches. Toute la Cour connaissait ce personnage. Pour les collaborateurs du général de Gaulle, l'homme privé n'était nullement celui qui parlait d'affaires privées, c'était seulement celui qui ne parlait pas des affaires de l'État. Il n'acceptait de lui-même ni l'impulsivité ni l'abandon; il acceptait volontiers, pendant les réceptions ou à des occasions choisies par lui, une conversation superficielle; il la menait avec bonne grâce; mais elle était de courtoisie, et la courtoisie appartenait à son personnage. Napoléon avait terrifïé ses voisines; celles du général le jugeaient distant et "charmant" (charmant voulait dire : attentif) parce que cet homme, même s'il leur parlait de leurs enfants, était encore de Gaulle. Et dans la biographie de ceux qui ont fait l’histoire de notre pays, il est assez rare que l'on ne rencontre pas d'autres femmes que la leur... Tout cela s'accordait au Grand Maître des Templiers qui m'avait reçu jadis au ministère de la Guerre, car cette bienveillance-là vient du sacerdoce, non l'inverse. Pour tous, a l'exception sans doute de sa famille, il semblait un reflet courtois de son personnage légendaire.

 

André Malraux

in  Antimémoires (3)

© André Malraux, 1967

 

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Terça-feira, 7 de Julho de 2009

Antimémoires (2)

 

 

 

 

 

 

1934/1950/1965

 

 

 

Ici, je n'attends de retrouver que l'art, et la mort.

Il est rare que des Mémoires nous apportent la rencontre entre l'auteur et les idées qui vont envahir ou conduire sa vie. Gide nous explique comment il s'est découvert pédéraste, mais c'est son biographe qui tente de nous expliquer comment il s'est découvert artiste. Or, dans mon esprit — dans l'esprit de la plupart des intellectuels — il est des idées dont la rencontre est aussi présente que celle des êtres. J'emploie à dessein le mot rencontre, parce que la réflexion s'élaborera plus tard, se développera plus tard. Pourtant nous pressentons aussitôt la fécondité de ces idées, que l'on appelait jadis inspirations. Et j'ai rencontré en Égypte celles qui, des années durant, ont ordonné ma réflexion sur l'art.

La première est née du Sphinx. Il n'était pas complètement dégagé. Il n'était plus enterré comme en 1934, mais il parlait encore le grand langage des ruines, qui sont en train de se muer en sites archéologiques. C'est en 1955, que j'avais écrit devant lui :

« La dégradation, en poussant ses traits à la limite de l'informe, leur donne l'accent des pierres-du-diable et des montagnes sacrées; les retombées de la coiffure encadrent, comme les ailes des casques barbares, la vaste face usée qu'efface encore l'approche de la nuit. C'est l'heure où les plus vieilles formes gouvernées raniment le lieu où les dieux parlaient, chassent l'informe immensité, et ordonnent les constellations qui semblent ne sortir de la nuit que pour graviter autour d'elles.

« Qu'y a-t-il donc de commun entre la communion dont la pénombre médiévale emplit les nefs, et le sceau dont les ensembles égyptiens ont marqué l'immensité : entre toutes les formes qui captèrent leur part d'insaisissable? Pour toutes, à des degrés divers, le réel est apparence; et autre chose existe, qui n'est pas apparence et ne s'appelle pas toujours Dieu. L'accord de l'éternelle dérive de l'homme avec ce qui le gouverne ou l'ignore, leur donne leur force et leur accent : la coiffure anguleuse du Sphinx s'accorde aux pyramides, mais ces formes géantes montent ensemble de la petite chambre funéraire qu'elles recouvrent, du cadavre embaumé qu'elles avaient pour mission d'unir à l'éternité. »

C'est alors que je distinguai deux langages que j'entendais ensemble depuis trente ans. Celui de l'apparence, celui d'une foule qui avait sans doute ressemblé à ce que je voyais au Caire : langage de l'éphémère. Et celui de la Vérité, langage de l'éternel et du sacré. Sans doute l'Égypte découvrit-elle l'inconnu dans l'homme comme le découvrent les paysans hindous, mais le symbole de son éternité n'est pas un rival de Çiva qui reprend, sur le corps écrasé de son dernier ennemi, sa danse cosmique dans les constellations : c'est le Sphinx. Il est une chimère, et les mutilations qui en font une colossale tête de mort accroissent encore son irréalité. Mais je découvrais que c'est vrai aussi des cathédrales, des grottes de l'Inde et de la Chine; et que l'art n'est pas une dépendance des peuples de l'éphémère, de leurs maisons et de leurs meubles, mais de la Vérité qu'ils ont créée tour à tour. Il ne dépend pas du tombeau, mais il dépend de l'éternel. Tout art sacré s'oppose à la mort, parce qu'il ne décore pas sa civilisation, mais l'exprime selon sa valeur suprême. Je n'entendais pas alors le mot : sacré, avec un son funèbre. La Victoire grecque m'apparaissait comme un sphinx du matin. Ne durent que les réalismes d'outre-monde, et je découvrais que, pris en bloc, même l'art moderne est un animal fabuleux. J'allais le découvrir pendant dix ans...

 

 

 

André Malraux

in Antimémoires (2)

© André Malraux, 1967


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Quarta-feira, 1 de Julho de 2009

Antimémoires

 

 

 

André Malraux (1901-1976)

 

 

 

 

1965

au large de la Crète

 

Je me suis évadé, en 1940, avec le futur aumônier du Vercors. Nous nous retrouvâmes peu de temps après l'évasion, dans le village de la Drôme dont il était curé, et où il donnait aux Israélites, à tour de bras, des certificats de baptême de toutes dates, à condition pourtant de les baptiser : " Il en restera toujours quelque chose... " Il n'était jamais venu à Paris : il avait achevé ses études au séminaire de Lyon. Nous poursuivions la conversation sans fin de ceux qui se retrouvent, dans l'odeur du village nocturne.


— Vous confessez depuis combien de temps?

— Une quinzaine d'années...

— Qu'est-ce que la confession vous a enseigné des hommes?

— Vous savez, la confession n'apprend rien, parce que dès que l'on confesse, on est un autre, il y a la Grâce. Et pourtant... D'abord, les gens sont beaucoup plus malheureux qu'on ne croit... et puis...

Il leva ses bras de bûcheron dans la nuit pleine d'étoiles :

« Et puis, le fond de tout, c’est qu'il n'y a pas de grandes personnes... »


Il est mort aux Glières.


Réfléchir sur la vie — sur la vie en face de la mort — sans doute n'est-ce guère qu'approfondir son interrogation. Je ne parle pas du fait d'être tué, qui ne pose guère de question à quiconque a la chance banale d'être courageux, mais de la mort qui affleure dans tout ce qui est plus fort que l'homme, dans le vieillissement et même la métamorphose de la terre ( la terre suggère la mort par sa torpeur millénaire comme  par sa métamorphose, même si sa métamorphose est l'oeuvre de l'homme) et surtout l'irrémédiable, le : tu ne sauras jamais ce que tout cela voulait dire. En face de cette question, que m'importe ce qui n'importe qu'à moi? Presque tous les écrivains que je connais aiment leur enfance, je déteste la mienne. J'ai peu et mal appris à me créer moi-même, si se créer, c'est s'accommoder de cette auberge sans routes qui s'appelle la vie. J'ai su quelquefois agir, mais l'intérêt de l'action, sauf lorsqu'elle s'élève à l'histoire, est dans ce qu'on fait et non dans ce qu'on dit. Je ne m'intéresse guère. L'amitié, qui a joué un grand rôle dans ma vie, ne s'est pas accommodée de la curiosité. Et je suis d'accord avec l'aumônier des Glières — mais s'il préférait qu'il n'y eut pas de grandes personnes, lui, c'est que les enfants sont sauvés...


Pourquoi me souvenir?


Parce que ayant vécu dans le domaine incertain de l'esprit et de la fiction qui est celui des artistes, puis dans celui du combat et dans celui de l'histoire, ayant connu à vingt ans une Asie dont l'agonie mettait encore en lumière ce que signifiait l'Occident, j'ai rencontré maintes fois, tantôt humbles et tantôt éclatants, des moments ou l'énigme fondamentale de la vie apparaît à chacun de nous comme elle apparaît à presque toutes les femmes devant un visage d'enfant, à presque tous les hommes devant un visage de mort. Dans toutes les formes de ce qui nous entraîne, dans tout ce que j'ai vu lutter contre l'humiliation, et même en toi, douceur dont on se demande ce que tu fais sur la terre, la vie semblable aux dieux des religions disparues m’apparaît parfois comme le livret d’une musique inconnue.

 

André Malraux

in Antimémoires

© André Malraux, 1967

 

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Quarta-feira, 24 de Junho de 2009

Vive la France!

 

 

 

 

Frédéric Mitterrand nomeado Ministro da Cultura de França! A surpresa enche-me de alegria... e estremeço perante o desafio, logo sublinhado pelo “faux pas” com que acaba de se estrear, ao anunciar prematuramente, em Roma, que abandonava a Villa Médicis, e pelo qual já pediu desculpa, pela “descortesia” que o gesto representou para com a sua antecessora no cargo.

“Um inclassificável na Cultura” como ontem o descrevia o “Libération”, sim, um inclassificável, tal como André Malraux, que recordei assim que recebi a notícia, e "um tipo cheio de categoria, de respeito et de humildade", como comentou um leitor do jornal.

 

Leia os textos do Libération aqui e aqui

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