Quarta-feira, 5 de Junho de 2019

O Bloco-Notas de José Cutileiro

Vicentes CarnavalCandeeiros (Os dias dos nossos carnavais) - Museu Vicentes, Madeira

 

 

 

José Cutileiro

 

Gemeinschaftzinho

 

 

«Vossas Excelências não têm nada a declarar? Não há malinhas de mão ?»

 

Assim pergunta de cais de estação de caminho de ferro florida, numa manhã cheia de sol, ‘fardeta agaloada’ e, dentro da carruagem, Zé Fernandes que acompanha o seu amigo Jacinto na primeira visita à terra dos antepassados deste, percebe que, havendo deixado para trás a rudeza da noite castelhana, tinham acordado em Portugal.

 

Malinhas, não malas, disse a fardeta na raia seca. «Já acabei de limpar a metralhadorazinha» diria algures em Angola, quase setenta anos depois, soldado raso a tenente miliciano do exército português. Este outro caso fora contado pelo miliciano em questão, depois de regressado à metrópole e desmobilizado, ao Gérard Castello Lopes que o contara ao Antonio Tabucchi que mo contara a mim. Gérard tinha uma teoria sobre o uso português dos diminutivos, não sei se verdadeira se falsa, mas que acho valer a pena expor à leitora. Segundo ela, nós usamos diminutivos para mostrarmos ser bem educados e darmos primazia ao nosso interlocutor. Da mesma maneira que em muitas pinturas medievais em que se vejam várias pessoas o tamanho de cada uma delas não varia segundo regras de perspectiva (quanto mais longe mais pequenas) mas segundo regras de hierarquia social (quanto mais importantes maiores) assim nas nossas trocas de palavras. Ao usarmos diminutivos, colocamo-nos em posição respeitosa perante a pessoa com quem falamos. Tal fizera, com efeito, a fardeta agaloada ao chamar malinhas de mão à bagagem dos viajantes sem sequer a ter visto. De caminho vinha sugestão de hospitalidade e bonomia, de rejeição de hostilidade, mais importantes ainda numa fronteira do que longe dela. (Mesmo antes de alguns horrores fronteiriços norte-americanos e europeus recentes devidos a questões de emigração terem chocado muita gente, fronteiras eram amiúde lugares onde a viajante – ou o viajante - se sentia insegura e indefesa. Lembro-me de malas abertas e roupa espalhada na alfandega paquistanesa em Lahore, lidando com passageiros vindos de avião de Nova Deli, cinco anos após as independências da Índia e do Paquistão a partir da Índia colonial governada por Vice-Rei mandado de Londres - os ingleses, neste caso, não dividiram para reinar; dividiram para se irem embora).

 

Talvez o Gérard tivesse razão – mas tal não explica a exuberância e a frequência actual de diminutivos, a torto e a direito – além do clássico um beijinho grande, o pezinho, o bracinho, o enfartezinho (do miocárdio), a escadinha (Magirus); presumo que por correcção política deixei de ouvir dois, correntes na minha infância: pretinho e pobrezinho. Numa espécie de primavera que se apossou ultimamente dos portugueses, talvez toda a gente queira estar bem com toda a gente e atiremos diminutivos uns aos outros como dantes, no Carnaval, se atiravam serpentinas.

 

Gérard, António – só me vem à cabeça o medievo Villon a lembrar-se de amigos idos: Repos aïent au Paradis/Et Dieu garde les demeurants.

 

 

publicado por VF às 09:00
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Segunda-feira, 3 de Março de 2014

carnaval (1937)

 

 

Lisboa, Fotografia Vasques, 1937
Fotografia gentilmente cedida por Maria Teresa Blanco Camilo, a quem muito agradeço
publicado por VF às 13:52
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Sábado, 9 de Fevereiro de 2013

Festas e Mascaradas

 

 

 

Portugal c. 1935

 

 

A minha Mãe tinha muito gosto e paciência para nos mascarar no Carnaval. No castelo de S. Jorge houve uma festa comemorativa das Guerras Peninsulares, (século XIX) um grupo de jovens oficiais e soldados foram vestidos à época das tropas de D. Pedro e D. Miguel, e nesse ano o meu irmão foi vestido a «rigor» como oficial de Caçadores 7.

Eu que só tinha quatro anos, levava um vestido império azulão, uma touca com paradis verdadeiros, tudo no mesmo tom. Como o vestido era comprido, não era fácil brincar, sem descoser e por vezes rasgar. A Mãe à noite cosia e remediava os "estragos".

Nos dias de Carnaval íamos às matinés ou então à "amostra" a casa dos Tios, Avós e outras pessoas amigas. O meu Irmão tinha um porte impecável, nada saía do lugar, era um oficial verdadeiro, com a sua cartola muito alta e a "canana" para os apontamentos (que eram feitos com um lápis pequenino). Quase sempre ganhava o 1o prémio nos cinemas S. Luís, Capitólio, e outras salas de espectáculo. Éramos um par muito bem mascarado mas eu desmanchava-me sempre, e no fim da tarde a diferença entre o aprumo do Luiz e o meu desalinho era bem visível.

 

 

Alda Rosa Bandeira de Lima Osório Bernardo de Sousa

in Memórias e Saudades

Publicado em 2011

 

Um bonito álbum, muito bem escrito e ilustrado, de uma Senhora que ao fazer oitenta anos reuniu recordações do antigamente para os filhos, netos e bisnetos. Publicaram-se apenas três exemplares neste formato. 

 

 


Nota:
O álbum Memórias e Saudades foi-me gentilmente cedido por Maria do Rosário Sousa Machado, a quem muito agradeço. 
 
 
publicado por VF às 10:15
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Terça-feira, 21 de Fevereiro de 2012

carnaval (1928)

 

 

 


Gonçalo Luiz Maravilhas Caldeira Coelho
 Foto/Bilhete-Postal : Furtado & Reis, Lisboa 1928

 

 

 

 

 

Fotografia publicada no livro "Retrovisor, Um Álbum de Família" aqui 

 



publicado por VF às 00:40
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Terça-feira, 8 de Março de 2011

carnaval (c.1910)

 

 

 

 

foto "Francisco Jorge", Rua de S. Caetano 10, Lisboa (data desconhecida)

 

 


 

publicado por VF às 17:58
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Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010

Carnaval (1895)

 

 

Rosita (ao centro) com os irmãos António e Zeca

Rio de Janeiro c.1895

 

 

publicado por VF às 07:16
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Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2009

trajes de carnaval

 

Guilherme e Cristina, 1952

 

 

 

 

Na minha família, quem gostava mais do carnaval eram os meus avós, talvez por terem passado a infância no Brasil e se recordarem de grandes festas de carnaval dos seus tempos de juventude. Esta fotografia, tal como as anteriores, foi tirada no Saldanha, em Lisboa, onde viviam os meus avós maternos. O traje de Cristina, de “Leiteira Rica”, o do Minho que tenho vestido na foto de 1955, e o da Nazaré, da minha prima Verusca, na foto de 1964, eram de casa deles e deviam ter pertencido à minha mãe e à minha tia Stella.

 

Na minha adolescência não gostava do carnaval, porque na rua, além das bisnagas - que ainda vá que não vá - os miúdos atiravam-nos aos pés estalinhos de pólvora, de que eu tinha imenso medo, e arremessavam saquinhos de areia que aleijavam. A pobre Sylvie Vartan foi atingida no palco por vários, quando actuou em Lisboa, no Cinema Monumental.

 

 

Leia mais sobre o carnaval aqui

publicado por VF às 10:14
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Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2009

carnaval (1952)

 

  

Cristina, 1952

publicado por VF às 11:10
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Domingo, 22 de Fevereiro de 2009

carnaval (1955)

 

Vera, 1955

 

publicado por VF às 09:51
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Sábado, 21 de Fevereiro de 2009

carnaval (1964)

 

 Verusca, Bernardo e Guilherme, 1964

 

 

publicado por VF às 10:16
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