Quarta-feira, 3 de Julho de 2019

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

nuno bragançaNuno Bragança (foto aqui )

 

 

José Cutileiro

 

Coisas de cá e lá fora

 

Não vi o Expresso de há duas semanas mas li o Vasco Pulido Valente segunda-feira no Público e encontrei lá o Nuno Bragança. Ao contrário do Vasco eu gostava do Nuno e do que ele escrevia; acho que a primeira linha de A Noite e o Riso– « Criado embora entre hálitos de faisão, cedo me desembaracei na arte de estender os braços.» – ficará pequenina pérola da nossa literatura. E achei bons esse seu primeiro romance e o terceiro, Square Tolstoi; o do meio tinha tanto em directo, chamava-se Directa,da vida do Nuno (e da Leonor) que decidi a certa altura parar de o ler e não sei avaliá-lo.

 

As graças dele divertiam-me, embora conceda que eram de humor especial, o qual nem sempre agradava aos ouvintes ou sequer era por estes entendido como humor. Recebi um dia em Oxford postal dele da antiga Jugoslávia – técnico salvo erro do ministério das corporações o Nuno fazia muitas viagens de trabalho – datado de Liubliana, que rezava assim: «Vi ontem à noite numa taberna de Liubliana um bêbado igual ao Vasco Pulido Valente que fazia o elogio de Estaline. E fiquei a saber quem é o Vasco: um bêbado numa taverna de Liubliana fazendo o elogio de Estaline».

 

Uma quinzena em Londres falámos várias vezes. Ele viera pelo ministério para estágio onde não ia, e as suas ajudas de custo davam só para quarto de hotel incómodo e exíguo. Eu viera de Oxford ler na British Library e ficava num dos quartos simpáticos que a Gulbenkian punha à disposição de bolseiros na província que tivessem de vir a Londres. Quando eu saía de manhã o Nuno entrava para escrever o que viria a ser A Noite e o Riso na mesa do meu quarto. Jantamos várias vezes juntos e na véspera de ele voltar a Lisboa perguntei-lhe o que achara de Londres. (Era a sua primeira visita a Inglaterra mas havia toque especial: ele tivera uma nanny em pequeno e falava inglês como um nativo). Respondeu-me assim: « Sei que levaria muito tempo a adaptar-me a viver aqui. Mas sei também que em Portugal não me vou adaptar nunca». Viveu mais de vinte anos depois dessa conversa mas acabou por se matar numa casa de saúde para maluquinhos, perto de Lisboa.

 

Lá fora. Escrevo terça-feira na Marinha de Cascais e à hora de aqui deixar estas linhas não há ainda resultado de reunião do Conselho Europeu começada ontem para escolher os mandachuvas da União para os próximos 5 anos: o dito Conselho, a Comissão Europeia, o pseudo ministério dos Negócios Estrangeiros europeu e o nosso Banco Central. Há dias que as discussões prosseguem (entre 27 países) e o que se vai sabendo das conversas não é edificante mas não é isso que me agasta: Bismark dizia que nunca se deve visitar uma fábrica de salsichas. O que zanga é, por um lado, ver Merkel ser agora maltratada por anões políticos e, por outro, ver Timmermans, defensor activo dos valores europeus ser posto de parte para satisfazer exactamente os chefes nacionais – húngaro, polaco - que mais desrespeitam esses valores. Casos destes enchem a gente de fé.

 

 

publicado por VF às 09:00
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Quarta-feira, 4 de Maio de 2016

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

GUILLAUMET Henri1.jpg

 o avião de Henri Guillaumet

 

 

 

 

José Cutileiro.jpg

 

 

 

Mar Morto e cavalinhos

 

 

 

Começo a escrever ao meio-dia da Quinta-Feira 28 de Abril. Quando a leitora me ler, a Vera, minha senhoria e decoradora de interiores na net (com o bloco aninhado no seu blog, as ilustrações são propostas por ela), terá saído da Portela na madrugada de Sábado para estar ao fim do dia na Jordânia, mais precisamente numa margem do Mar Morto, a interpretar em conferência de ONG dedicada a crianças e famílias, ficando por lá até ao próximo Sábado. Poderia, mesmo assim, ter posto o bloco no blog no começo da semana mas havia preferido que eu lhe mandasse o texto antes de partir porque, technologically challenged fora de casa, só com a malinha dos pertences, talvez não conseguisse encontrar boneco apropriado. Respondi-lhe que sem horas de fecho estritas me era muito mais difícil escrever para qualquer publicação, que o desafio me agradava e que ela poderia contar comigo.

 

Pensei na tarefa e prefigurei a táctica. Decidi antecipar trabalho no morto a publicar no Expresso de Sábado e, com efeito, acabei de o escrever ontem e mandei-o esta manhã (28) com mais de 24 horas de avanço sobre a deadline afim de ficar à vontade ao redigir o bloco. Lembrei-me de Guillaumet, aviador colega e amigo de Saint-Exupéry, cujo avião-correio caíra nos Andes deixando-o ileso mas sozinho na neve, sem comunicações. Cá em baixo deram-no por perdido mas três dias depois encontrou gente e foi salvo, para grande alegria de todos, exausto mas feliz. “Ce que j’ai fait, je te le dis, jamais aucune bête ne l’aurait fait!” declarou. Sabia que se parasse para descansar se deixaria dormir na neve e nunca mais acordaria; por isso não parara de andar. Era homem novo, os pilotos têm treino físico muito exigente mas, francês de nascimento e formação, fora o que entendia ser um triunfo do espírito sobre a matéria que lhe deslumbrara a mente. N’est pas français qui veut. Sendo o homosapiens o único animal com capacidade cerebral para o cálculo que Guillaumet fizera no cimo dos Andes, tinha provavelmente razão. Como eu tive ao avançar esta semana para Quarta-Feira a escrita do In Memoriam.

 

Un soneto me manda hacer Violante começou famosamente Lope de Vega, enfiando considerações sobre a arte do soneto em geral e o método da feitura daquele soneto em particular para rematar no 14º verso: contad si son catorce, y está hecho! mas eu estou ainda em 2.310 batidas – com espaços - faltando-me por isso 690 e não me parece que seja por aqui que o gato irá às filhoses. Mas uns versos puxam por outros e com o estado em que a Europa se apresenta agora, a rebolar para o fascismo, vem-me à cabeça Manuel Bandeira, no Jockey Club do Rio de Janeiro, em 1936:

 

Os cavalinhos correndo,                                                                                                          

E nós, cavalões, comendo.                                                                                                        

A Itália falando grosso,                                                                                                          

A Europa se avacalhando.

 

Cavalinhos, cavalões, o refrão vai-se repetindo, a beleza de Esmeralda faz esquecer Mussolini e outros males do mundo, enlouquecendo o poeta, tudo como deve ser, porque Manuel Bandeira sofria daquilo que o António Alçada achava ser também maleita minha: a mania de viver em epopeia amorosa.

 

Por razões técnicas longas de explicar a contagem de batidas neste texto não é evidente mas palpita-me estar pelas 3.000. Até Quarta-Feira que vem.

 

 

 

 

publicado por VF às 08:00
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Sábado, 30 de Janeiro de 2016

O Dicionário Pessoal de Jorge Colaço

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O Retrovisor vai ter uma nova rubrica semanal, da autoria de Jorge Colaço, que tenho o prazer de apresentar aos Leitores, não porque se trate de um novo convidado, já que vários textos seus figuram neste espaço, mas para saudar a sua renovada presença aqui e dar-lhe as boas vindas.

  

Amigo de Garrett

 

Jorge Colaço começou por ser o desconhecido que, em finais de 2004, depois de ler notícias da descoberta, numa casa particular em Lisboa, duma importante colecção de inéditos do romanceiro garrettiano, tomou a iniciativa de escrever a minha irmã Cristina para a felicitar pelo achado e, perante o seu entusiasmo com a riqueza do material encontrado, adverti-la gentilmente a não esperar muito. Começou aí uma correspondência que deu lugar à amizade que eu herdei. Jorge Colaço acabaria por participar em todos os esforços de divulgação dos manuscritos e por ter nessa divulgação um papel fundamental. Modéstia à parte, a forma como este espólio foi tratado merecia ser um caso de estudo em Portugal. 

 

Retrovisor

 

No meio do esforço algo solitário que representou para mim nos anos mais recentes alimentar este blog, a chegada do Bloco-Notas foi um autêntico balão de oxigénio. Quando há dois anos José Cutileiro me propôs alojar aqui a sua crónica semanal, perguntei a mim mesma se teria sido o chamamento de gente como Cinatti, O'Neill, Nemésio ou Garrett. No caso de Jorge Colaço é simples, na minha família sempre lhe chamámos o Amigo de Garrett.

 

 

Stay tuned, o Dicionário Pessoal  de Jorge Colaço começa dia 6 de Fevereiro. Sai ao sábado.

 

 

 

 

publicado por VF às 09:59
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Domingo, 15 de Novembro de 2015

Sete anos

 

 

 

Tromp-l'oeil_Still-Life_1664_Hoogstraeten.jpg

 Samuel van Hoogstraten (1664)

 

 

Queridos Leitores,

 

o blog faz hoje sete anos, os últimos dois com a presença semanal do Bloco-Notas de José Cutileiro. São já mais de cem crónicas com o respectivo boneco, como ele diz. São textos que me orgulho de publicar e estou-lhe muitíssimo grata por isso. Grata ainda pela ajuda que tem dado a manter vivo este espaço e por me deixar exercer funções de iconógrafa – mot savant que ouvi há uns anos numa conferência no Instituto Francês e a que logo me identifiquei. 

 

Este ano o Retrovisor recebeu outras contribuições valiosas: as fotografias de João D’Korth, cerca de 300 imagens dos anos 30 e 40, que Henrique D’Korth Brandão pôs à minha disposição e ajudou a digitalizar, e a série My Years in Angola (1950-1970) graças à colaboração de Elizabeth Davies. Agradeço ainda a Jorge Colaço, amigo e colaborador deste blog desde o princípio. 

 

Ao longo destes anos tenho acompanhado com interesse a expansão dos conteúdos em português na rede, muito graças à blogosfera, e detectado lacunas também. Ainda há personalidades do século XX em Portugal com pouca ou nenhuma presença na net. A fotografia vernacular começa a despertar mais interesse – neste momento estão patentes em Lisboa fotografias dos álbuns da Raínha D. Amélia e dos Retornados das ex-colónias – mas quanta coisa não se terá já perdido ou continua a desbotar no fundo duma gaveta? 

 

Há pouco tempo, para ilustrar um artigo sobre o poeta Tomaz Kim, o Jornal de Letras usou uma fotografia deste blog (muito bonita apesar de um pouco estragada). No verão passado o jornal Observador usou imagens que tenho coleccionado das praias de antigamente, algumas das quais eu própria descobri na rede. As fotografias de João D’Korth da Exposição do Mundo Português contêm surpresas apesar de tratar-se de um evento tão amplamente registado. Espero continuar a mostrar aqui curiosidades do mesmo género, que no entanto não vêm ter comigo ao ritmo a que eu desejaria.

 

Aos leitores que visitam pela primeira vez, ou que do Retrovisor conhecem pouco mais que o Bloco-Notas de José Cutileiro, convido à leitura de anteriores posts de aniversário.

 

Muito obrigada pela visita!

 

 

*

 

 

Álbum de Família (2008)

 

Queridos Leitores, (2011)

 

Cabinet de Curiosités (2011)

 

Na blogosfera desde 2008 (2012)

 

Cabinet de curiosités 2 (2013)

 

Tags (2013)

 

 

publicado por VF às 19:27
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Domingo, 31 de Maio de 2015

Exposição do Mundo Português (10)

 

Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974) 

páginas 28 a 31

 

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© Henrique D'Korth Brandão

 

 

Exposição do Mundo Português

 

 

 

Agradecimentos:

 

Restos de Colecção, Coisas de outros tempos, Aterrem em Portugal , Alexandre Pomar , Largo dos Correios , Padrão dos Descobrimentos , Hemeroteca Digital , Instituto Camões  , O Leme , Candelabro

 

 

 

img014

Álbum de fotografias de João D' Korth

 Exposição do Mundo Português [no Flickr]

 

 

 

 

 

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Sexta-feira, 29 de Maio de 2015

Exposição do Mundo Português (9)

 

Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974) 

páginas 25 a 27

 

 

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© Henrique D'Korth Brandão

 

continua...

 

 

Apresentamos as fotografias do álbum pela ordem em que o autor as paginou.

1. páginas 1 a 3 aqui

2. páginas 4 a 6

3. páginas 7 a 9

4. páginas 10 a 12

5. páginas 13 a 15

6. páginas 16 a 18

7. páginas 19 a 21

8. páginas 22 a 24

 

Álbum Exposição do Mundo Português no Flickr

 

 

 

 

selo?

Exposição do Mundo Português

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por VF às 16:24
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Domingo, 24 de Maio de 2015

Exposição Mundo Português (8)

 

Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974) 

páginas 22 a 24

 

 

 

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img037 - Version 5

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img038 - Version 4

img038 - Version 5

 

 

  

Apresentamos as fotografias do álbum pela ordem em que o autor as paginou.

1. páginas 1 a 3 aqui

2. páginas 4 a 6

3. páginas 7 a 9

4. páginas 10 a 12

5. páginas 13 a 15

6. páginas 16 a 18

7. páginas 19 a 21

 

Álbum Exposição do Mundo Português no Flickr

 

 

capa-2-560x800

Exposição do Mundo Português

 

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Sexta-feira, 22 de Maio de 2015

Exposição Mundo Português (7)

 

Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974) 

páginas 19 a 21

 

 

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img034 - Version 5

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img035 - Version 4

img035 - Version 5

 

 

 

 

 

Apresentamos as fotografias do álbum pela ordem em que o autor as paginou.

1. páginas 1 a 3 aqui

2. páginas 4 a 6

3. páginas 7 a 9

4. páginas 10 a 12

5. páginas 13 a 15

6. páginas 16 a 18

 

Álbum Exposição do Mundo Português no Flickr

 

 Exposição do Mundo Português

 

 

 

 

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Domingo, 17 de Maio de 2015

Exposição do Mundo Português (6)

 

Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974) 

páginas 16 a 18

 

 

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img031 - Version 5

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img032 - Version 3

img032 - Version 5

img032 - Version 2

 

 

 

Apresentamos as fotografias do álbum pela ordem em que o autor as paginou.

© Henrique D'Korth Brandão

1. páginas 1 a 3 aqui

2. páginas 4 a 6

3. páginas 7 a 9

4. páginas 10 a 12

5. páginas 13 a 15

 

Álbum Exposição do Mundo Português no Flickr

 

 

 Exposição do Mundo Português

 

 

 

 

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Sexta-feira, 15 de Maio de 2015

Exposição do Mundo Português (5)

 

 

Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974) 

 

páginas 13 a 15

 

 

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Apresentamos as fotografias do álbum pela ordem em que o autor as paginou.

páginas 1 a 3 aqui

páginas 4 a 6

páginas 7 a 9

páginas 10 a 12

 

Álbum Exposição do Mundo Português no Flickr

 

 

 

Exposição do Mundo Português 

 

 

 

publicado por VF às 14:08
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