galhardia
ga.lhar.di.a
nome feminino
[de galhardo (do provençal antigo galhart, francês gaillard) + ia]
A galhardia pode referir-se à beleza ou à distinção, à generosidade, à vivacidade, à robustez ou à bravura. O coloquialismo espanhol trapío (de etimologia incerta; segundo José María de Cossío a palavra terá origem no jargão náutico, no qual designaria o velame), ausente dos dicionários portugueses, embora usado na língua com frequência, sobretudo em contexto tauromáquico, aglutina algumas destas acepções. O Dicionário da Real Academia Espanhola oferece como segunda acepção de trapío a «boa presença e galhardia de um touro de lide». Mas não é esse o primeiro significado listado; nesse primeiro lugar aparece o «ar garboso que costumam ter algumas mulheres».
Não é necessária uma grande investigação para concluir que, relativamente ao touro, na sua «presença e galhardia» se articulam envergadura, beleza, brio e bravura. Relativamente à mulher, a ideia é sobretudo designar a elegância e o porte. A vivacidade e aprumo inerentes à prática de dançar galhardas, popularizadas em Portugal nos salões dos séculos XVI e XVII, deixou algum vestígio no significado de galhardia que toca também o significado de garbo (palavra de origem italiana). A elegância grácil do garbo é, no entanto, designada com acerto por uma outra palavra fora de moda, belíssima por sinal, que aliás nos chegou por via castelhana: donaire.
Seja como for, em Portugal, o termo trapío, usado — sem dúvida por gente com uma organização mental especiosa — para designar o porte garboso da mulher desliza facilmente para a outra acepção: uma mulher com trapío é uma mulher com a envergadura necessária. Que por certo se desenvencilhará com galhardia, seja o que for que isso, no momento, queira dizer.
Álbum de fotografias de João D' Korth (1893-1974)
páginas 28 a 31
© Henrique D'Korth Brandão
Agradecimentos:
Restos de Colecção, Coisas de outros tempos, Aterrem em Portugal , Alexandre Pomar , Largo dos Correios , Padrão dos Descobrimentos , Hemeroteca Digital , Instituto Camões , O Leme , Candelabro
Álbum de fotografias de João D' Korth
Exposição do Mundo Português [no Flickr]
Henrique D’Korth Brandão, que alguns leitores conhecem do Facebook onde publica regularmente fotografias – as suas e as do seu álbum de família – pôs gentilmente à disposição deste blog os álbuns de fotografias de seu tio João D'Korth, que lhe foram recentemente oferecidos. Em futuros posts apresentaremos as fotografias de João D'Korth, começando pelo álbum da Exposição do Mundo Português (1940), a coincidir com as efemérides dos 75 anos do evento e dos 120 anos do nascimento de António Ferro.
Pedi a Henrique uma apresentação de João D'Korth:
João D’Korth (1893-1974)
Meu tio-avô João "Grande" (como me ensinaram a chamar-lhe para o distinguir do tio João "Pequeno", irmão de minha mãe), nasceu em Lisboa ao meio-dia de terça-feira 2 de Maio de 1893 na Rua Larga de São Roque, número 66, 2º andar e foi baptizado aos 25 dias do mesmo mês, na igreja do Santíssimo Sacramento com o nome de João Chrystiano Castagna D'Korth.
Sei que o "Tio Faísca" trabalhou décadas na C.R.G.E. [Companhias Reunidas de Gás e Electricidade] quando ainda sediada na rua Vítor Cordon, que esteve em França na Grande Guerra, e aí se interessou por pombos-correios. Também gostava de pesca. No jardim da sua Princesa, havia pombas de leque e carpas brocadas em profusão; rosas de Santa Teresinha e brincos-de-princesa.
João D'Korth em 1917
Segundo a minha mãe e a minha tia, o tio João tratou a Néné "como uma Princesa". Era a Princesa dele e uso agora a aliança que ele usou, revelando quando aberta o nome dela e a data do casamento: Maria das Dôres, 9-2-1931.
Foi a Néné que encadernou livros e albuns de fotografias, preservando a maior parte do espólio de imagens a que tive acesso — a guardadora de imagens que me permitem evocar e aceder a esse mapa da cidade-de-cada-um, feito das ruas-do-onde-morava.
Nené - Maria das Dores D'Korth no seu estúdio de encadernação
em Lisboa na Travessa da Fábrica das Sedas, 23
Álbum de fotografias de João D'Korth encadernado e com papel estampado por Néné
Foi engenheiro e engenhocas. Os relógios, que coleccionou, pontuaram a vida da casa, do rés-do-chão ao primeiro andar; acertados por ele, disparavam a cada quarto-de-hora em intervalos de segundos para se poder ouvir distintamente o toque de cada um. Eram relógios de caixa-alta, de carrilhão, de mesa, de três movimentos, de parede e, em profusão no estúdio de encadernação da tia Dores, os de cuco.
A música foi outra das suas paixões: seu pai, meu bisavô João Gregório D'Korth, médico-homeopata, foi um dos fundadores da Academia de Amadores de Música. Tocava violino e os três filhos estudaram todos um instrumento. Piano, violino e violoncelo, em casa, em Paris e em Berlim.
Da esq. para a dta Maria Henriqueta (1892), João Cristiano (1893) e Arminda Mariana (1894)
Lisboa, fotografia Vidal e Fonseca, c. 1900
As aparelhagens de som foram em várias casas de parentes montadas por ele com requintes de amplificação e pré-amplificação. Gostava de automóveis e de viagens; primeiro, das complicadas, daquelas guiadas horas a fio e com guindastes pelo meio para içar a máquina da estrada para o ferry e do barco para outras margens.
Viagem a Marrocos, anos 40
Com o passar dos anos, foram os cruzeiros e a linha "C", "Grande come il mare", com todo o seu rol de nomes de Augusto a Flavia, passando pelo meu: Enrico.
Só há pouco descobri que aos pombos, peixes, automóveis, abelhas, relógios, navios, e aviões, podia juntar ainda como paixão sua a fotografia. Faceta oculta que me é revelada meio-século volvido: quando julgava não existirem mais fotografias de família para digitalizar, aparecem quatro álbuns que me dão a ver um mundo que se estende para além do país dos afectos.
Estádio Nacional, 1944
Toni e Néné, os irmãos António José Brandão e Maria das Dôres Brandão D'Korth
Exposição do Mundo Português, Lisboa 1940
Álbum Exposição do Mundo Português no Flickr
FAMÍLIAS - NOMES
Os Castagna vieram de Malta em meados do século XIX, e foram comerciantes com loja de câmbio na Rua dos Capellistas, ou Rua Nova d'El-Rey.
Os D'Korth eram médicos que emigraram da Antuérpia para a cidade da Horta e daí para Montevideo, Porto e Lisboa. O tio João Grande era irmão de minha avó [materna] e casou com uma irmã de meu avô [materno]: cunhados, irmãos e vizinhos, numa espécie de imagem de espelho a revelar as duas famílias de que descende minha mãe: os (Carvalho) Brandão, brincalhões e mais down-to-earth, vindos da Mealhada-Anadia para Lisboa onde meu bisavô abriu loja na rua Augusta em 1913. Os de Korth, reservados de aparência e assaz altivos.
Pintura a óleo representando o bisavô João Gregório D'Korth (1853-1925) a tocar violino com o "seu" quarteto; pintado pela minha bisavó, Marianna Castagna D'Korth, em 1900, na casa da Estrada das Laranjeiras a Palhavã. A casa foi demolida para dar lugar á Praça de Espanha e o quadro desapareceu também.
Henrique D'Korth Brandão
Lisboa 2015
Álbuns no Flickr:
Duas fotografias do álbum do Brasil, de finais do século XIX. O álbum pertenceu a meu tio-avô António Guilherme de Barros Pereira de Carvalho (1893-1939) e chegou-me do Brasil setenta anos depois da sua morte pela mão generosa de Maria Amália Fragelli, que o conservou depois do desaparecimento da única descendente directa de António Guilherme, Stella Maria Pereira de Carvalho.
Brasil, finais do séc. XIX
Aninhas, finais do séc XIX
A menina encostada ao mastro pode ser Ana Maria Barros da Costa Morais, prima de António Guilherme e de Guilherme Júnior, meu avô materno, cujo retrato se encontra na página anterior do álbum e aqui.
Leia mais sobre O álbum do Brasil
Outras fotografias do álbum do Brasil nos posts
S. João do Estoril , Portugal. Princípios do século XX
As nossas férias eram passadas em S. João do Estoril em Agosto e em Ferreirim em Setembro. Para S. João em geral vínhamos de comboio, o que não era complicado ou demorado. As poucas vezes que viemos de táxi o que me impressionava era a estrada ser tão abaulada, diziam que era por causa da chuva... como era estreita, e tinha dois sentidos, o carro desviava-se para a berma, e os que vinham em sentido contrário passavam melhor! Em cada Verão o meu Avô contratava o Sr. Feliciano (dono de um táxi) que era muito simpático, para nos levar a passear a Sintra. A Avó Alda gostava muito da frescura de Sintra, o passeio era sempre o mesmo, e só íamos uma vez. Assim era uma tarde muito desejada, que me dava um enorme gozo e prazer...
Tudo o que havia "de melhor" era usado em Lisboa, o menos bom no Estoril, e o mais velho e estragado ia para Ferreirim. A minha Mãe aproveitava tudo e por vezes ficávamos surpreendidos como "tudo fazia jeito" nos Buxeiros...!
Na praia da Poça tínhamos um grande grupo de amigos. As casas eram alugadas ao ano, e assim as famílias vinham para as mesmas casas todos os anos.
Poucos tinham casa própria.
S. João do Estoril , Portugal. Meados do século XX
Fotografia sem data. Produzida durante a actividade do Estúdio Horácio Novais, 1930-1980.
José Manuel da Silveira de Sousa
Também na nossa adolescência, não falhávamos um "sábado á noite" no "Casino Estoril", onde aproveitávamos para dançar... Sempre gostei muito de vir para S. João do Estoril, era divertido. O tempo era muito preenchido e passava rapidamente... tínhamos muitos amigos, uns mais amigos que outros!!!!
Alda Rosa Bandeira de Lima Osório Bernardo de Sousa
2011
Nota: ver também os posts "Chalet Alda" e " Festas e Mascaradas"
Agradecimentos: Alda Rosa Bernardo de Sousa, Maria do Rosário Sousa Machado, blog Restos de Colecção, Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian
Congopresse Study photographs, 1930-1960
Photographs taken by Congopresse photographers in the Belgian Congo. Accompanying the images are French and Flemish language captions which include specific information on locations and photographers, though often without dates.
Port de Léopoldville (sans date)
Photo: J. Mulders / Congopresse
© Royal Museum for Central Africa, Tervuren
Port de Léopoldville 1948
H. Goldstein / Congopresse
© Royal Museum for Central Africa, Tervuren
Le 2 Juillet 1948, le M.V. "Général Olsen", le premier bateau de grand tonnage a moteur Diesel mis en service sur le fleuve Congo, et le S.W. "Reine Astrid" ont fait une excursion sur le Stanley-Pool. ils avaient à leur bord les personnalités invitées aux fêtes du 50ème anniversaire de l'inauguration du chemin de fer du Bas-Congo.
Emate, Congo (sans date)
Photo: E. Lebied / Congopresse
© Royal Museum for Central Africa, Tervuren
Pour ravitailler en combustible les bateaux qui parcourent le fleuve et les grandes rivières du Congo, d'innombrables "postes à bois" ont été établis le long des rives. Le bois abattu dans les forêts voisines s'y entasse au bord de l'eau, par centaines de stères. Au poste d'Emate une équipe de travailleurs ravitaille un grand stormwheeler.
Emate, Congo (sans date)
Photo: E. Lebied / Congopresse
© Royal Museum for Central Africa, Tervuren
Le SW "Reine Astrid" renouvelle sa provision de combustible au poste à bois d'Emate.
Photos:
© Royal Museum for Central Africa, Tervuren
Sobre a minha colecção de fotografias Congopresse leia o post "No Congo" aqui e veja mais fotos clicando na tag "Congo"
Agence Congo Presse hoje aqui
Manuel de Jesus Belmarço c. 1890
O jornal Público noticiou há dias que a Casa Belmarço em Faro, adquirida em tempos pela Câmara da cidade para ali instalar o Tribunal da Relação, foi posta à venda pelo Estado. A casa foi mandada construir por meu bisavô sob projecto do arquitecto Norte Júnior e inaugurada em 1912.
Manuel de Jesus Belmarço (1857-1918) fez fortuna no Brasil como negociante de cereais e café. Casou com Maria Luísa Navarro de Andrade e tiveram quatro filhos, três dos quais nasceram no Brasil. Viveu com a família em S. Paulo e após regressar a Portugal, em 1899, construiu uma casa em Lisboa, na Avenida da Liberdade, e esta em Faro, a cidade onde nascera. O filho mais velho, Vidal Alberto Belmarço (1891-1961) e a mulher, Amélia Salter de Sousa Belmarço (1886-1964) viveram nesta casa até ao fim da vida.
a notícia recente aqui
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a Casa Belmarço na Wikipedia aqui
Arquitecto Manuel Josquim Norte Júnior aqui
Trapiche Belmarço e sua ponte de madeira, na cidade de Santos aqui
© Museu do Porto de Santos - Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp)
Fotos antigas do Porto de Santos na Fundação Arquivo e Memória de Santos aqui