Lord Carrington numa cerimónia da Ordem da Jarreteira, de que é Grão-Mestre
foto Philip Allfrey
Lembrança da Guerra das Falklands
Lord Carrington foi o primeiro ministro dos negócios estrangeiros - Foreign Secretary - de Margaret Thatcher. Na altura da formação do governo, ele tinha-lhe discretamente mandado dizer que não lhe admitiria más criações, o aviso fora acatado, e deram-se os dois como Deus com os anjos até ao fim da vida dela (Carrington fez 98 anos em Junho e está em forma). Mas a relação institucional fora abruptamente interrompida. Em 1982 a Argentina invadiu as Ilhas Falklands e no dia seguinte Carrigton demitiu-se. Entendia que o ministério dos negócios estrangeiros britânico se deveria ter apercebido do que os argentinos estavam a preparar e, como responsável político, entregava a pasta.
O seu sucessor foi logo nomeado e Carrington passou a backbencher (membro da Câmara dos Comuns ou da Câmara dos Lords, que não faz parte do governo nem das chefias da oposição) depois de muitos anos de responsabilidade política. Militar de formação – após Eton fizera a academia militar de Sandhurst em vez de Oxford ou Cambridge – condecorado durante a Segunda Guerra Mundial, saiu de cena com a sua honra não só intacta mas reforçada.
A Inglaterra ganhou a guerra e recuperou as ilhas (que os argentinos chamam Malvinas); a junta militar que a começara e governara criminosamente a Argentina foi deposta e vários dos seus membros presos e condenados por tratamento atroz de centenas de oposicionistas incluindo muitos assassinatos. A democracia foi restaurada no país.
Entretanto, poucos anos depois de se demitir do Foreign Office, Lord Carrington foi convidado a voltar à cena política, desta vez como Secretário-Geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, vulgo NATO, (ou, em momentos pedantes de aficionados da nossa língua – às vezes também os tenho – OTAN). O mandato do Secretário-Geral da NATO é por cinco anos, pode ser renovado mas Carrington não o quis. Assisti, por acaso, ao último Conselho a que presidiu. No último ponto da agenda, leu o comunicado do Conselho quase até ao fim e antes do último parágrafo que fazia o seu elogio e anunciava o seu sucessor, passou assim a leitura para o MNE do Luxemburgo, presidente protocolar : « And now Jacques you come over here and shoot me ».
Foi presidir Christie’s, os leiloeiros de arte, e o seu prestígio era tanto que em 1991 foi convidado a presidir a Conferência de Paz sobre a ex-Jugoslávia, o que fez durante um ano do seu gabinete no Christie’s.
Um homem de honra leva vida bonita e tem sempre futuro. Infelizmente, nestas matérias, o sul da Europa não goza de grande fama. No prefácio da sua célébre história da luta pelo poder na Europa no século XIX, AJP Taylor conta que, nessa época, os embaixadores eram ou grandes fidalgos ou grandes figuras intelectuais; num caso ou noutro, sempre homens de honra. Nota de pé de página : « Excepto os italianos. Como seria enfadonho estar sempre a repetir esta advertência, fica aqui para o livro todo ».
Portugueses são italianos tristes.