Quarta-feira, 3 de Maio de 2017

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

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Paris

 

 

 

José Cutileiro

 

 

A eleição francesa

 

 

Na primeira volta da eleição presidencial francesa, as empresas que fazem sondagens em França portaram-se muito melhor dos que as suas congéneres no Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda no Norte e nos Estados Unidos da América se tinham portado (isto é, acertaram em quem viria a ganhar e a perder e com os números certos). No primeiro caso, quando do referendo sobre permanecer ou não membro da União Europeia em Junho do ano passado em que as ditas congéneres do lado de lá do Canal da Mancha, como um só homem, previram que quem queria ficar na União ganharia sem sombra de dúvida e, no segundo caso, sobre a eleição presidencial que opôs Donald Trump a Hillary Clinton (outros candidatos não contavam embora complicassem: por exemplo, candidata à esquerda de Clinton, a quem fora pedido, em vão, que desistisse antes da ida às urnas, ganhou em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin votos que, se tivessem sido contados para Clinton, lhe teriam dado vitória no Colégio Eleitoral, isto é, na eleição) em que as congéneres transatlânticas, também com certeza absoluta, previram Clinton como o 45º Presidente, a entronizar em Janeiro. (O Clinton macho avisara que era preciso prestar atenção aos brancos pobres da ‘cintura da ferrugem’; não considerar os votos deles adquiridos sem sequer os ir ver e falar com eles mas a rapaziada – e raparigada – que mandava na campanha mandou o velho ir dar uma volta).

 

Com esse precedente, os especialistas franceses destas coisas ganharam crédito e a gente agora espera que o que nos apresentarem desta vez como resultado mais provável esteja outra vez certo. Os últimos palpites desses especialistas de que tive notícia dão 59% dos votos expressos a Emmanuel Marcron e 41% a Marine Le Pen. Como o medo de abstenção por muita gente de direita, apesar da recomendação de votar Macron dos seus chefes – Fillon, Sarkozy, Juppé – bem como por muita gente de extrema-esquerda, sem recomendação de votar Macron do candidato Jean-Luc Mélenchon, em quarto lugar na primeira volta, estava a generalizar-se, começa a sentir-se alívio por parecer muito provável que o 7º Presidente da 5ª República francesa venha a ser Emmanuel Macron. Pessoalmente, estou convencido de que Macron tem qualidades de chefia excepcionais que lhe permitirão, nas eleições legislativas de Junho, ganhar maioria presidencial na Assembleia Nacional e levar depois a França a bom porto. Ao mesmo tempo, felicito-me por não irmos ter Marine Le Pen no Palácio do Eliseu.

 

Mas além disso não haverá grande motivo para exultação. Muito pelo contrário. Quase 40% dos franceses prefeririam ser governados por gente com provas dadas de nacionalismo brutal (patriotismo é amar os nossos; nacionalismo é odiar os outros, disse Romain Gary); nostalgia de regimes nazis ou fascistas que mandaram em partes da Europa nas décadas de 30 e 40 (e na Península Ibérica até aos anos 70) do século passado; antissemitismo; racismo em geral. E 40% dos franceses é muita gente.

 

 

 

 

publicado por VF às 09:00
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