Quarta-feira, 16 de Novembro de 2016

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

Lord Ismay2.jpg

Lord Ismay, primeiro Secretário-Geral da OTAN, entendia que esta servia 

"to keep the Americans in, the Russians out and the Germans down."

 

 

 

 

José Cutileiro.jpg

 

 

 

 

A partilha do fardo

 

 

 

         

A eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América foi tomada por muitas europeias e muitos europeus como uma ofensa e uma má criação. Nesse espírito, algumas administrações nacionais tão alapardadas ficaram (não se fazem coisas assim aos amigos!) que, por sugestão do alemão, vinte e cinco ministros dos negócios estrangeiros de países da União Europeia bem como a Alta Representante (vice-presidente da Comissão que põe outro chapéu para presidir às reuniões dos MNEs do clube: na União Europeia, diria Oscar Wilde, as coisas nunca são puras e raramente são simples) tiveram jantar de trabalho em Bruxelas para primeira troca de impressões sobre esse importante evento transatlântico (o inglês dissera que não deviam estar bons da cabeça, o francês lamentara educadamente ter obrigações mais importantes em Paris, o húngaro metera os pés pelas mãos com desculpas de mau pagador para disfarçar a euforia pro-Trump de Vitor Orban, primeiro ministro húngaro, e os três fizeram gazeta – o que, se nos lembrarmos que o Reino Unido e a França são os dois únicos estados-membros da União com forças armadas capazes de meterem respeito seja a quem for, mostra a aparente frivolidade do exercício).

 

Mas não há com efeito razão para grande tranquilidade europeia quanto à nossa defesa e à defesa dos nossos interesses. A OTAN, estabelecida em 1952, chama-se por extenso Organização do Tratado do Atlântico Norte e o Tratado do Atlântico Norte fora assinado em Washington em 1949 pelos Estados Unidos da América, o Canadá e uma dúzia de países da Europa Ocidental. Outros se foram juntando: quando Guerra Fria acabou havia 16 Aliados, depois foi um vê se te avias com todos os ex de Leste a quererem-se profilaticamente proteger da eventual sanha do Kremlin (já não existia U.R.S.S. mas a Mãe Rússia mete medo igual aos vizinhos; os que dizem que isso é mentira e que foram os Estados Unidos e seus aliados ocidentais que quiseram cercar a Rússia de perto, devem ser lembrados que os três países bálticos e a Polónia, vizinhos da Rússia e aliados na OTAN não foram por ela atacados militarmente desde o fim da Guerra Fria mas a Geórgia e a Ucrânia, também vizinhos dela mas fora da OTAN, o foram tendo além disso a Rússia anexado a Crimeia). Desde o começo que os Estados Unidos gastaram mais na defesa de todos do que os outros em absoluto e per capita. “Burden sharing” – a partilha do fardo – passou a ser pomo de discórdia mais vivo desde que a Guerra Fria acabou, tendo havido muitas discussões sobre o assunto, embora Clinton, Bush e Obama nunca tenham feito ameaças como Trump agora fez e nunca Bush e Obama tenham admirado Putin como Trump agora admira.

 

 

 

Nota Bene Portugal não foi dos primeiros assinantes do Tratado de Roma porque não era uma democracia e só entrou para as Comunidades Europeias depois de o passar a ser. Mas, sem o ser, assinou o Tratado de Washington e foi membro fundador da Aliança. Com coisas sérias não se brinca.

 

 

 

 

publicado por VF às 09:00
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