Quarta-feira, 13 de Maio de 2015

O Bloco-Notas de José Cutileiro

 

 

M-K 3.jpgBons tempos

 

 

 

 

 

José Cutileiro.jpg

 

 

 

Bom senso

 

 

 

Foi bom ver Ed Milliband e o Partido Trabalhista, livre da viragem à direita feita por Tony Blair, levarem no coco. Ficaram só com um deputado na Escócia, os Conservadores ganharam maioria absoluta na Câmara dos Comuns e Ed demitiu-se. É uma história moral, como fábula de Esopo. Há cinco anos, o candidato natural à chefia do partido a seguir à demissão de Gordon Brown era o irmão mais velho de Ed, David, que acabara de ser ministro dos estrangeiros e seguia a via social-democrata aberta por Blair. Mas Ed mancomunou-se com sindicatos esquerdistas, prometeu-lhes voltar ao passado quando o partido retomasse o governo (no Reino Unido, o chefe dos trabalhistas é escolhido por deputados e dirigentes sindicais). Ficou chefe da oposição em Westminster e David deixou a política.

 

Aliança de sindicatos trogloditas e irmão fratricida foi coisa feia e deu gosto vê-la acabar tão mal. De Ed não é preciso dizer mais nada: na nossa parte do mundo gente como ele tem mau nome desde que Caim matou Abel. Dos sindicatos convém acrescentar que, se a austeridade dos Tories de Cameron deixa muito a desejar (tal como a austeridade imposta pela Alemanha na zona euro) não é seguramente com receitas socialistas de anteontem, de ineficácia provada, que se poderá emendar o soneto. Quase toda a gente - salvo quase todos os alemães - sabe que é preciso mudar mas não para voltar a erros passados (embora a tentação de muitos seja grande, como o caminho feito por demagogos em outras áreas da vida política atesta – proteccionismo; xenofobia – fazendo lembrar os anos de pré-nazismo e pré-fascismo do século XX, só não havendo ainda arruaças em cidades da Europa graças aos 50% da despesa social do mundo gastos pelos europeus).

 

A austeridade foi e continua ser um erro caro mas a vasta maioria dos alemães continua a exigi-la e os governos dos outros países da União Europeia, não só os da zona euro, aceitam essa exigência. Desde 2010, os alemães, às arrecuas, depois de dizerem que não várias vezes, têm cedido ao bom senso. Mas mudam muito devagar e, sem guerras entre nós, a demora será grande. Enquanto a França mandou, os vícios francês e alemão neutralizaram-se. Mas desde a moeda única a França, com orçamentos em défice desde 1974, não consegue impor uma pitada de inflação e a Alemanha, desinibida, faz vigorar a sua visão caseira e moralista da economia. Virtude à solta que pode acabar mal.

 

Por cá, alguma grandeza daria jeito mas fracos reis fazem fraca a forte gente. Lembro a adivinha de Augusto Sobral:

 

De meia tijela veio

E ficou meia tijela.                                                                

Ficou a tijela em meio                                                              

Porque era meia tijela.

 

E o refrigerante imaginado pelo meu chorado Eduardo Calvet de Magalhães, antes de cá ter chegado a Coca-Cola: “ Capilé gaseificado – a bebida que lhe corre nas veias”.

 

 

 

Imagem: François Mitterrand e Helmut Kohl em Verdun, 1984 © Associated Press

 

 

publicado por VF às 10:22
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