escrever
es.cre.ver
verbo
(do latim scribere)
Palavra que designa o acto de representar o pensamento por meio de sinais gráficos. Porém, por alguma razão se diz, geralmente, «fazer a lista das compras» e não «escrever a lista das compras». Neste sentido escrever é mais do que simplesmente redigir ou tomar apontamento. Daí que se diga muitas vezes «aquele é um tipo que escreve» para designar alguém que vá para além do apontamento ou da lista do supermercado. Este estatuto de nobreza (pobre) pode ser relativizado e enunciado em tom menor. Dizia o Pacheco (refiro-me a Luiz Pacheco), com a sua contundência habitual, que «não sou escritor, sou um gajo que escreve». A escrita tem ainda, no entanto, um prestígio imbatível: passar a escrito é tornar alguma coisa mais definitiva, alguma coisa que seja apenas do domínio do pensamento ou das intenções. Passar a escrito é oficializar, é tornar perene e solene. Se apenas se está a «escrever a alguém», isso quer dizer que se lhe está a enviar correspondência. Apesar disso, vivemos no império da oralidade, que é o do efémero, do atropelo, do esquecimento. Há coisas, porém, porventura demasiadas coisas, que só a escrever se pensam, que só escrevendo se dizem — porque as dizemos primeiro para nós. De outro modo, falhando a minúcia da expressão, embaraça-se o tempo na pressa da conversa e o pensamento, desatento, precipita-se na superfície escorregadia das palavras e das circunstâncias.