algo
al.go
pronome indefinido
advérbio
(do latim aliquod, «alguma coisa»)
O étimo de «algo» é a forma neutra de aliquis, de onde se originou a palavra «alguém». A muito antiga palavra fidalgo constitui uma reminiscência dessa genealogia: resulta de fi(lho) + de + algo, sendo «algo» aqui equivalente a «alguém», como quando se diz aos filhos para estudarem para serem «alguém», ainda que desprovidos de fidalguia. Como pronome indefinido, significando «alguma coisa», o termo tem tido um incremento notável. O seu uso faz mesmo parecer que as formas «alguma coisa» ou «qualquer coisa» estão contaminadas de um plebeísmo a evitar; faz figura de linguagem elevada. Há mesmo quem adopte o termo em regime de exclusividade. A marca de chocolates Ferrero Rocher tem culpas no cartório. Todos se lembram daquele anúncio em que uma senhora diz ao motorista «Ambrósio, apetecia-me tomar algo», frase que tem aliás dado azo às mais descabeladas versões. Com ajuda da patroa do Ambrósio ou não, o certo é que «algo» parece ter caído no goto das massas falantes: «aconteceu algo» ou «tenho algo a dizer» ou «ele fez algo de bom». Os próprios dicionários impam, repletos de «algos». Não se tratando de obscenidade, modismo, ou incorrecção, é apenas causa de prurido ou caso de irritação, agravada quando alastra, como nódoa, à escrita e aos seus práticos. Menor favor dos utentes da língua parece merecer o uso do termo como advérbio – como na frase «Caro senhor, achei o seu texto algo insosso» –, no sentido de «um pouco» ou «um tanto». Enfim, é das tais coisas para as quais não se vê saída, ao contrário da Lanalgo, que tinha cinco entradas para uma saída feliz.