São Cosme e São Damião. Objetos de devoção popular.
O caso é que, antigamente, o sagrado andava misturado com o profano através da nossa vida quotidiana e tínhamos notícias constantes de um mundo que, em rigor, era habitado por Deus e os santos, os anjos e os demónios, as almas dos eleitos e dos condenados.
A relação com os santos era uma espécie de panteísmo. Na imensa policlínica das almas, só Deus Nosso Senhor era de clínica geral e os santos tinham especialidades e, de tal modo que, se você perdia uma libra, era melhor pedir o seu achamento a Santo António do que ao próprio Deus, Nosso Senhor. Este politeísmo assegurava a presença do sagrado: o ateísmo — fiquem sabendo — começa com a teoria e a prática do Deus único.
António Alçada Baptista
in A Pesca à Linha, Algumas Memórias aqui
© Editorial Presença
Imagem: Madeira recortada e policromada; sec. XIX; Diamantina (Minas Gerais) - 76 x 35,5 cm.
in Objetos da Fé, Oratórios Brasileiros (coleção Angela Gutierrez)
Catálogo apresentado no Museu de São Roque em Lisboa durante o evento "Lisboa Capital Europeia da Cultura",Março de 1994