Postal de minha Mãe para sua irmã Stella, de um conjunto oferecido por meu primo Miguel Freitas da Costa, a quem muito agradeço.
Outro postal de Margarida para Stella aqui
Uma foto de Stella e Miguel em 1947 aqui
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Num conjunto muito variado de textos, Eduardo Côrte-Real discorre com simplicidade e humor sobre a descoberta doutras paisagens, povos e mentalidades à luz dos seus autores de cabeceira e da sua história pessoal de filho do Império:
"nesta parte do mundo [Macau], os portugueses fizeram-se à vida sozinhos, verdade que nem sempre se conta, só isso já dá a dimensão da aventura de quem vai para a China, para a civilização mais antiga de todas, agora um gigantesco casino, com Moulin Rouge e tudo" ... "Em Moçambique o apartheid era uma realidade, nunca tive um colega de escola preto e fiz lá o liceu todo. Naquele tempo, entretido a crescer, não me parecia estranho. Os únicos pretos com quem falávamos eram os nossos criados — sete."
O Médio Oriente, a Rússia e a China registados pelo autor nos finais do século XX também já não são hoje exactamente os mesmos, e nesse subtil desfasamento reside outro dos interesses deste livro.
índice de capítulos aqui
Tive a sorte de viver, longamente, em três continentes - África, Ásia e Europa. O persa de Homero, esse ainda desconhecido dos europeus e, no entanto, a viver ao nosso lado, foi o meu best friend nesses idos. Também gosto imenso da América, tanto do norte como de alguns países do sul, daqueles onde não mora o pecado como no Brasil, a glória portuguesa. Gosto de árabes — o que é raro nos europeus — uma matriz complicadíssima porque política e religião são do mesmo grupo de conceitos neles. [...] Não há lares de terceira idade na China, o filho mais velho toma conta dos pais até eles morrerem. É assim. Praticar o Li (o bom caminho) não é muito diferente das éticas gerais, religiosas ou ateias. Individuo versus Universo é a questão do confucionismo chinês. O Ocidente individualista deusificou a Humanidade - mais interessante para filosofar — que a abstração dessa alma coletiva chinesa, nunca individual. No confucionismo não há salvação isolada, egoísta, nem alminhas. O historiador, o antropólogo, o humanista ocidental europeu, o jornalista, levo-os a todos como se fosse a escova de dentes, se possível sem eurocentrismos que são só excesso de peso. Não é só fazer a mala. É saber ao que vamos.
Eduardo Côrte Real
in Vagamente à procura de Pasárgada (Introdução)
© RCP Edições 2012
Leia o poema Vou-me Embora pra Pasárgada de Manuel Bandeira aqui