Segunda-feira, 15 de Abril de 2013

Adeus anos 70

 

 

 

© José Paulo Ferro/ Sistema Solar,CRL (Documenta 2012)
Edições Documenta com o apoio da Fundação EDP.
 

 

 

É um álbum da cena jovem pós 25 de Abril em Lisboa: bandas de rock, bares, concursos de dança, festas públicas e privadas, uma peça de teatro, "Tragédia Infantil", de Wedekind, encenada por Osório Mateus em 1979, e o templo budista da rua do salitre. Poderá este retrato de uma época gerar outros que o completem, como sugere Margarida Medeiros no seu texto introdutório? E em que formatos e suportes? Ao folhear este livro, voltei a interrogar-me sobre a existência e o paradeiro de colecções inéditas de fotografias da sociedade portuguesa, de profissionais e amadores desconhecidos do público*.  

 

Roll Over adeus anos 70 é um álbum discreto e intimista. Estas fotografias transmitem uma certa fragilidade, que embora seja própria da juventude de qualquer época, mesmo a juventude das camadas privilegiadas, é aqui acentuada pelos tempos difíceis que se viviam em Portugal. O pano de fundo destas cenas é um país pobre e cheio de incertezas mas muito diferente do actual, na ressaca do 25 de Abril, sem estradas, "equipamentos" nem internet, e anterior à disseminação das drogas duras e da SIDA que havia de marcar a década seguinte.

 

 

* sobre este assunto leia o artigo "No rasto de António da Loja" de Abel Coentrão no jornal Público aqui e, neste blog, aqui e aqui

 

 

 

 

* * *

 

 

As imagens que vemos neste livro, como de um modo geral as fotografias o fazem, conduzem o leitor a uma viagem num tempo. São imagens snapshot, tiradas no calor do momento e das emoções experimentadas, quer pelos fotografados, quer pelo fotógrafo. Retratam uma geração que reúne gentes de vários quadrantes artísticos, durante a década de setenta e princípios de oitenta.[...]

Roll Over fica como um retrato de uma época que ainda está (em certa medida estava) por fazer e que sem dúvida gerará outros que o completem; numa época em que a imagem digital faz desaparecer a importância da fotografia e do snapshot pela imensidão de imagens que se podem gerar em cada segundo, este é um arquivo valioso para a memória des­tes anos e que complementa qualquer história do «rock português». Mas é-o sobretudo pelo estilo de aproximação, pela forma como sublinha a cena em detrimento do personagem individual que nela se destaca, o acto em detrimento da pose, a dinâmica literal em detrimento do esteticismo.

 

Margarida Medeiros

in Roll Over adeus anos 70 de José Paulo Ferro

no texto de introdução "A estética snapshot: imagens quase privadas de uma geração"

© Sistema Solar,CRL (Documenta 2012)

 

 

 
publicado por VF às 16:58
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Sexta-feira, 12 de Abril de 2013

Poesia da Idade do Rock

 

contracapa 

 

Esta antologia poética e um álbum de fotografias* recentemente lançados são interessantes testemunhos da cultura pop/rock em Portugal.

 

A geração que cresceu nos anos 60 em Portugal, na qual me incluo, deve a sua educação neste género musical à excelência da nossa rádio. Dessa época recordo em particular o programa "Em Órbita", que servia diáriamente um menu de luxo e no fim de cada ano apresentava aos ouvintes o seu top 10, excluindo Bob Dylan, colocado pelos responsáveis acima destas classificações.

 

Vinte anos mais tarde, no início dos anos 80, foi o fim do programa radiofónico "A Idade do Rock" que inspirou João Menezes Ferreira a lançar-se neste projecto de antologia bilingue, agora concretizado e a que nenhum apreciador do género pode ficar indiferente. No meu caso pessoal, revisitar o universo pop/rock anglo-saxónico é recordar parte importante da minha adolescência e juventude e imensos bons momentos da minha vida adulta***. Estou curiosa de redescobrir os textos, nas duas línguas.

 

*

  

 

São 563 letras do universo pop/rock entre 1955 e 1980 recolhidas e traduzidas para português ao longo de três décadas. [...] Para o autor, muita desta história vive-se na profunda intimi­dade com a beat generation e com uma linhagem em que os melhores poetas não só se ligam aos beatniks como prolongam ainda uma linha de heróis - "são sempre os mesmos: William Blake, Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, Walt Whitman, Garcia Lorca, Yeats" - vinda desde o século XVIII. É precisamente neste enfiamento que reside um dos mais ro­bustos argumentos de Estro in Wat­ts: o de que esta poesia não deve ser menorizada perante aqueloutra publicada em livro apenas porque "tem repetições, acompanha o rit­mo de elocução verbal e tem uma métrica que é a da respiração". "Es­tes grandes poetas seriam sempre grandes poetas de livros, mas esco­lheram a música porque acharam que era esse o veículo." [...] "Esta cultura foi, para mim, uma escola. Há uma geração pós-25 de Abril que se reclama mar­xista. O meu marxismo foi a música, foi o rock. Aprendi a ser adolescen­te não tanto lendo livros teóricos mas a viver isto." Agora, com este conjunto de 563 poesias de 170 au­tores, talvez muitos dos que priva­ram com estas canções no devido tempo possam prestar uma outra atenção aos textos.

 

Excertos do texto de  Gonçalo Frota in jornal Público aqui 

 

 

 

 

 

Notas:

 

* O livro de fotografias Roll Over adeus anos 70 de José Paulo Ferro, que apresentarei em post separado.

Edições Documenta com o apoio da Fundação EDP.

 

** A minha telefonia nos anos 60 aqui

 

*** Leia a este propósito o post "Michael Jackson" aqui

 

a pop francesa e o programa "Em Órbita" aqui 

 

um bom comentário sobre Estro in Watts aqui

 
publicado por VF às 17:07
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