* sobre este assunto leia o artigo "No rasto de António da Loja" de Abel Coentrão no jornal Público aqui e, neste blog, aqui e aqui
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As imagens que vemos neste livro, como de um modo geral as fotografias o fazem, conduzem o leitor a uma viagem num tempo. São imagens snapshot, tiradas no calor do momento e das emoções experimentadas, quer pelos fotografados, quer pelo fotógrafo. Retratam uma geração que reúne gentes de vários quadrantes artísticos, durante a década de setenta e princípios de oitenta.[...]
Roll Over fica como um retrato de uma época que ainda está (em certa medida estava) por fazer e que sem dúvida gerará outros que o completem; numa época em que a imagem digital faz desaparecer a importância da fotografia e do snapshot pela imensidão de imagens que se podem gerar em cada segundo, este é um arquivo valioso para a memória destes anos e que complementa qualquer história do «rock português». Mas é-o sobretudo pelo estilo de aproximação, pela forma como sublinha a cena em detrimento do personagem individual que nela se destaca, o acto em detrimento da pose, a dinâmica literal em detrimento do esteticismo.
Margarida Medeiros
in Roll Over adeus anos 70 de José Paulo Ferro
no texto de introdução "A estética snapshot: imagens quase privadas de uma geração"
contracapa
Esta antologia poética e um álbum de fotografias* recentemente lançados são interessantes testemunhos da cultura pop/rock em Portugal.
A geração que cresceu nos anos 60 em Portugal, na qual me incluo, deve a sua educação neste género musical à excelência da nossa rádio. Dessa época recordo em particular o programa "Em Órbita", que servia diáriamente um menu de luxo e no fim de cada ano apresentava aos ouvintes o seu top 10, excluindo Bob Dylan, colocado pelos responsáveis acima destas classificações.
Vinte anos mais tarde, no início dos anos 80, foi o fim do programa radiofónico "A Idade do Rock" que inspirou João Menezes Ferreira a lançar-se neste projecto de antologia bilingue, agora concretizado e a que nenhum apreciador do género pode ficar indiferente. No meu caso pessoal, revisitar o universo pop/rock anglo-saxónico é recordar parte importante da minha adolescência e juventude e imensos bons momentos da minha vida adulta***. Estou curiosa de redescobrir os textos, nas duas línguas.
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São 563 letras do universo pop/rock entre 1955 e 1980 recolhidas e traduzidas para português ao longo de três décadas. [...] Para o autor, muita desta história vive-se na profunda intimidade com a beat generation e com uma linhagem em que os melhores poetas não só se ligam aos beatniks como prolongam ainda uma linha de heróis - "são sempre os mesmos: William Blake, Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, Walt Whitman, Garcia Lorca, Yeats" - vinda desde o século XVIII. É precisamente neste enfiamento que reside um dos mais robustos argumentos de Estro in Watts: o de que esta poesia não deve ser menorizada perante aqueloutra publicada em livro apenas porque "tem repetições, acompanha o ritmo de elocução verbal e tem uma métrica que é a da respiração". "Estes grandes poetas seriam sempre grandes poetas de livros, mas escolheram a música porque acharam que era esse o veículo." [...] "Esta cultura foi, para mim, uma escola. Há uma geração pós-25 de Abril que se reclama marxista. O meu marxismo foi a música, foi o rock. Aprendi a ser adolescente não tanto lendo livros teóricos mas a viver isto." Agora, com este conjunto de 563 poesias de 170 autores, talvez muitos dos que privaram com estas canções no devido tempo possam prestar uma outra atenção aos textos.
Excertos do texto de Gonçalo Frota in jornal Público aqui
Notas:
* O livro de fotografias Roll Over adeus anos 70 de José Paulo Ferro, que apresentarei em post separado.
Edições Documenta com o apoio da Fundação EDP.
** A minha telefonia nos anos 60 aqui
*** Leia a este propósito o post "Michael Jackson" aqui
a pop francesa e o programa "Em Órbita" aqui
um bom comentário sobre Estro in Watts aqui